segunda-feira, 15 de março de 2010

40 dias com Giussani

"'Das profundezas a Ti clamo, ó Senhor' (Sl 130, 1). Este salmo e o seguinte (Sl 131) eram cantados enquanto se subia em peregrinação a Jerusalém de todas as partes da diáspora hebraica. O exílio era o símbolo da distância da cidade de Deus e, por isso, a peregrinação era um retorno a Deus: tinha um significado penitencial, quaresmal, pascal - Páscoa quer dizer, de fato, 'passagem' -, e celebrava o retorno ao Senhor na consciência de que a aquela distância, sofrida com dor, os acomuna à situação de todos os homens, na universalidade do pecado (distância, portanto, da casa de Deus).
'Se Tu, Senhor, observares as iniqüidades, quem subsistirá?' (Sl 130, 3): o grito a Deus, isto é a passagem, começa com a contrição e a contrição é a confissão do próprio mal. Aqui não se entende necessariamente a confissão sacramental, o reconhecimento do pecado é uma preliminar indispensável para o pedido.
A segunda coisa sobre a qual deve-se demorar é sobre o conteúdo do versículo 4 ('Mas contigo está o perdão', por isso, 'teremos o Teu temor'): a confissão do pecado enche de temor de Deus. O que é o temor de Deus? É aceitar e desejar depender dEle.
O perdão da parte de Deus inspira em nós - muito mais do que a justiça é capaz - o temor (...); é a Sua misericórdia que nos faz sentir verdadeiramente dependentes e, por isso, nos orienta à conversão, não é em nenhum caso o medo.
Esta é, portanto, a esperança, como diz o versículo 5: 'Espero no Senhor; a minha alma (...) espera na Sua palavra'; é o pedido de ajuda ao Senhor que passa através da confissão do pecado. O que quer dizer 'pedido de ajuda' ? Significa pedir para poder viver a verdade de nós mesmos, que é a dependência total dEle; o santo temor de Deus, reconhecimento e pedido, desejo de depender dEle. A esperança se resolve na espera certa e paciente, sem nenhuma pretensão.
Diante do poder que Deus tem de nos reconstituir continuamente, diante da misericórdia e do perdão, esta esperança não permanece como uma decisão de fé, mas se torna sempre mais também um estado psicológico normal, uma afeição normal. Porque o Senhor, como diz o versículo 7 ('Espera Israel no Senhor, porque no Senhor há misericórdia, e nele há copiosa redenção'), é cheio de fidelidade, isto é não abandona nunca os Seus, qualquer que tenha sido ou seja a noite de esquecimento, ou de resistência que se cobre tantas vezes de desilusão.
Enfim 'Ele remirá Israel de todas as suas culpas' (Sl 130, 8): a misericórdia e o perdão, a confissão, o reconhecimento da dependência dEle que se exprime em grito ('das profundezas a Ti clamo') nos libertam. O pecado não tem mais poder sobre nós, quer dizer, não é mais justificado e não nos deprime falsamente com a falsidade mais diabólica que existe, porque ser deprimidos pelo próprio pecado é exatamente o modo para ficarmos seduzidos pela maldade que há em nós."
(GIUSSANI, Luigi. Che cos'è l'uomo perché te ne curi?. 2000, pp. 140-142).

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