"'Quem é este?'. Como assim, quem é este? Vocês sabem quem é o seu pai, sabem quem é a sua mãe, já foram à casa dele, sabem muito bem quem é! Mas, era tão extraordinária a excepcionalidade daquele homem, que tudo aquilo que sabiam não correspondia: era, de fato, misterioso, era um mistério.
Mas, não são apenas de milagres que estão cheias as páginas dos evangelhos; outro era o milagre que levava aquele homem, aquele que levou a Zaqueu, aquele que levou à pecadora: o perdão. Porque o homem é incapaz de perdão, não existe pai ou mãe que consigam, que sejam capazes de perdoar. Para nós, o perdão é esquecer; para nós, o perdão é eclipsar; para nós, o perdão é deixar para lá; para nós, o perdão é tentar esquecer. Aqui, perdão era fazer renascer (...), era transformar.
Por que digo estas duas coisas? Pensem na última cena, no último discurso, longo, todos em silêncio, passagens belas, passagens feias, terrores, esperanças, pensamentos que eram despertados em suas almas: num certo ponto, aquele homem que estava ali com eles ousa dizer: 'Sem mim, nada podeis fazer'. Este é Deus! Sim, este é Deus. Disse-o a mim e a você, irmão ou irmã. (...) Um acontecimento, um homem, que se diz Deus: 'Eu sou o caminho, a verdade e a vida', eu sou Deus, eu sou o Mistério que faz todas as coisas, sou o princípio, eu sou o objetivo de tudo, eu sou o sentido das aspirações de felicidade, verdade, justiça, amor, que constituem o núcleo do seu eu, a natureza do seu eu, o seu coração. A nossa religiosidade natural se embate num acontecimento da história no qual um homem, nascido das vísceras de uma menina de quinze ou dezesseis anos, disse, se tornando maior: 'Eu sou Deus'. (...)
A vida do homem depois deste encontro, depois do encontro com este Jesus de Nazaré, se torna um caminho. Para André e João, depois que O viram, a vida soi um caminho com Ele, um caminho; a vida deles se tornou um caminho. Estivesse ou não com Ele, era um caminho com Ele, para Ele, em direção àquilo que Ele dizia. A vida era um caminho. A vida como caminho: diz-se também a vida como moral, uma tensão a uma perfeição, a uma realização, já antecipadamente, de si, a uma bondade, a uma verdade, a uma justiça, a uma delicadeza, a uma exatidão, a uma fidelidade que é como a reverberação do eterno. A vida se torna um caminho, que emana não da nossa vontade e da nossa energia instintiva, por uma vontade de dignidiade, por uma magnanimidade, como diziam os antigos filósofos: é um caminho que nasce do amor a Cristo, do amor a este homem. A vida nasce como caminho, como moral, como ascese, como tensão ao bem, não por força de vontade, apoiada sobre a nossa força de vontade, ou de um nosso instinto de magnanimidade, não! Nasce do amor a Cristo. Por isso, é um caminho que está também com o pecado.
Diz o Salmo 130 (De Profundis): 'Se Tu, Senhor, observares as iniquidades, quem subsistirá?'. Ou, como diz um pedaço do hino que nós padres recitamos na primeira semana do breviário, pela manhã: 'Sem Ti submergimos num redemoinho de pecados e trevas', ignorância e maldade: pequena a ponto de não se ver; grande a ponto de nos desconcertar; sutil a ponto de nos cortar e não sentirmos o sangue que perdemos; grave como uma ferida que vomita sangue; mortal. Venial ou mortal que seja, sem Ti submergimos num redemoinho profundo de pecados e de trevas; não se entende inteiramente a origem de nada, o sentido de nada, sem Ti. Mas com Ele se caminha na estrada da virtude, na estrada do conhecimento. Por isto, São Paulo dizia: 'Eu não julgo ninguém'. Ninguém pode jugar o irmão, ninguém. 'Não julgo nem mesmo a mim mesmo', é Deus quem julga."
(GIUSSANI, Luigi. Come si diventa cristiani. 2007, pp. 27, 30-31).
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