quinta-feira, 27 de maio de 2010

Aquelas “habilidades desconhecidas” que são uma riqueza para todos

Por Marco Lepore

Pode um projeto, que por sua natureza nasce com finalidades, objetivos, métodos e instrumentos pré-ordenados – e, portanto, pareceria imune a qualquer surpresa –, se tornar a ocasião para descobrir novos e inesperados cenários? E, sobretudo, cenários “intensos” e comoventes?
Evidentemente sim, porque é exatamente o que aconteceu durante o desenvolvimento do projeto financiado pela Região da Lombardia, “Deficiência e sucesso formativo: boas práticas e contribuições para ações formativas de excelência”, realizado em colaboração com a CdO (Companhia das Obras) Obras Educativas e CFP San Giuseppe di Lodi.
A missão era localizar e documentar as experiências de acompanhamento na inserção no mundo do trabalho de pessoas deficientes, na saída do percurso da escola média ou da formação profissional, através de uma pesquisa realizada em todo o território nacional.
E é assim que o projeto começou: contatando e visitando numerosas obras sociais, cooperativas e centros de formação profissional que se ocupam da deficiência; pouco a pouco, porém, assumiu a dimensão de uma descoberta bonita e tocante: o nosso país é, de fato, rico de realidades que levam em consideração os “últimos”, pessoas que, para viver uma vida digna e satisfatória – assim como cada um de nós, legitimamente, deseja –, têm necessidade de serem acudidas, acompanhadas, cuidadas cotidianamente. Às vezes, até mesmo no desenvolvimento de operações tão elementares quanto ineludíveis.
Quantos doentes psíquicos, quantas pessoas com deficiência estão “nas dobras” da nossa sociedade. Quase sempre escondidas ao nosso olhar, porque marginalizadas da sociedade hedonista e produtivista, mas muito presentes aos olhos e ao coração de quem cuida delas com infinita paixão e atenção.
Na Itália, existem cerca de 3 milhões de deficientes; tantos são limitados por dificuldades cognitivas, também graves; tantos outros têm problemas motores congênitos ou, não raro, adquiridos por causa de graves eventos traumáticos. As famílias, em muitos casos, não têm possibilidades, capacidades ou recursos para se ocuparem dessas pessoas em tempo integral, como seria necessário. E eis, então, a importante contribuição destas cooperativas sociais, fundações e associações, que auxiliam as famílias e as socorrem, oferecendo percursos de formação, centros diurnos, laboratórios protegidos, além de verdadeiras empresas que ocupam pessoas com deficiência.
Em todas domina uma grande atenção à dignidade e ao valor da pessoa, que não é, nem pode ser diminuído, seja lá qual for a gravidade ou a natureza da deficiência; como também domina uma grande ternura e compaixão – no sentido próprio de “sofrer junto” – por estes irmãos e irmãs que carregam uma cruz particular. Pessoas que, às vezes, nos vêm ao encontro para uma saudação, para um carinho, para nos estender a mão e nos dizer seu nome, para nos tornar participantes do que estão fazendo; ou mesmo, aparentemente fechadas no seu misterioso mundo e no seu sofrimento, mas igualmente desejosas de serem olhadas e amadas.
Em muitos casos foram colocadas em jogo criatividade e fantasia para consentir a cada um – às vezes adaptando máquinas, utensílios e instrumentos – que se desenvolvesse e exprimisse os próprios talentos (que sempre existem!) e que contribuísse para o bem comum através do trabalho. Trabalho que não é nunca fim em si mesmo, mas é sempre destinado a uma utilidade, mesmo que consista, às vezes, simplesmente no enxugar folhas de papel ou no cortar pedacinhos de pano, ou mesmo no misturar materiais muitos simples para a produção de objetos artesanais. E que resultados! Que intensidade e frescor humanos transparecem destas produções, inesperados e misteriosos florescimentos do desejo de felicidade e de beleza que marca o coração de cada um de nós!
O máximo do fascínio e da comoção, depois, se experimenta no ver suas atividades expressivas: a pintura, o teatro, a música e a dança; o “Festival das habilidades diferentes”, promovido pela Cooperativa o Nazareno di Carpi (que se também se envolveu com o projeto) está acontecendo exatamente nesses dias, é uma documentação extraordinária do que vimos dizendo.
Certo, os problemas – e são tantos – não faltam, e é por isso que começamos a trabalhar, solicitados pela Região Lombardia, para entender como enfrentar, de modo sempre mais adequado, o problema da transição para o trabalho e da qualidade de vida para estes jovens. Descobriu-se, então, que, de fato, é necessário olhar para a pessoa toda e não apenas para a sua deficiência; que é importante que exista uma continuidade nas figuras de referência independentemente do pedaço de caminho que se está realizando; que é fundamental, portanto, raciocinar em termos de “projeto de vida” e não cindir o percurso em tantos pedacinhos independentes uns dos outros... Estas, e tantas outras considerações; mas os resultados completos do projeto serão evidenciados mais à frente, quando terminar.
Enquanto isso, quem quiser saber mais sobre isso poderá participar do Congresso que acontecerá em Milão, no dia 28 de maio, no Instituto Maria Ausiliatrice, na via Bonvesin de la Riva, 12, às 10h. Além dos belos testemunhos de quem está trabalhando “na trincheira”, vai haver também uma interessante mesa redonda moderada pela Professora Lorenza Violini (docente de Direito Constitucional, na Universidade de Milão), da qual participarão alguns especialistas e acadêmicos. A introdução será feita pelo Professor Mario Melazzini, na qualidade de coordenador nos trabalhos técnicos sobre deficiência da Região Lombardia.
O título, “As habilidades desconhecidas”, é um resumo, de fato, da experiência impressionante e do fascínio experimentado por quem se empenhou na realização do projeto; mas é também um convite, dirigido a todos, a partilhar um pedacinho de caminho com estas pessoas “deficientes” que, mais do que outras, nos sacodem do torpor de uma existência “normal” e fazem sacudir o coração diante do insondável Mistério da pessoa humana.

* Extraído de IlSussidiario.net, do dia 27 de maio de 2010. Traduzido por Paulo R. A. Pacheco.

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