Evangelho - Mc 10,28-31
Naquele tempo: Começou Pedro a dizer a Jesus: "Eis que nós deixamos tudo e te seguimos." Respondeu Jesus: "Em verdade vos digo, quem tiver deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos, campos, por causa de mim e do Evangelho, receberá cem vezes mais agora, durante esta vida - casa, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições - e, no mundo futuro, a vida eterna. Muitos que agora são os primeiros serão os últimos. E muitos que agora são os últimos serão os primeiros."
Comentário feito por
Cardeal John Henry Newman (1801-1890)
presbítero, fundador de comunidade religiosa, teólogo
Não somos chamados somente uma vez, mas muitas vezes; ao longo de toda a nossa vida Cristo chama-nos. Chamou-nos em primeiro lugar pelo batismo, mas também mais tarde; quer obedeçamos ou não à Sua voz, Ela continua a chamar-nos na Sua misericórdia. Se faltamos às nossas promessas do batismo, Ele nos chama para nos arrependermos. Se nos esforçamos por responder à nossa vocação, Ele continua a chamar-nos, de graça em graça, de santidade em santidade, tanto tempo quanto durar a nossa vida. Abraão foi chamado a deixar a sua casa e a sua terra (Gn 12, 1), Pedro as suas redes (Mt 4, 18), Mateus o seu emprego (Mt 9, 9), Eliseu a sua quinta (1Rs 19, 19), Natanael o seu repouso (Jo 1, 47). Todos nós somos incessantemente chamados, de uma coisa para outra, a ir cada vez mais longe, não tendo local de repouso, mas subindo em direção ao nosso repouso eterno, e não obedecendo a um chamamento interior senão para estarmos prontos para ouvir outro. Cristo chama-nos incessantemente para nos justificar sem cessar; sem cessar, cada vez mais, Ele quer santificar-nos e glorificar-nos. Devemos compreendê-Lo mas demoramos a dar-nos conta desta grande verdade, a de que de algum modo Cristo caminha entre nós e com a Sua mão, o Seu olhar, a Sua voz, nos faz sinal para O seguirmos. Não apreendemos que o Seu chamamento é uma coisa que tem lugar neste preciso momento. Pensamos que ocorreu no tempo dos apóstolos; mas não cremos nisso, não O esperamos verdadeiramente para nós próprios.
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