sábado, 3 de julho de 2010

No Getsêmani, casa da Igreja, sinto-me como Pedro com a espada

Por Padre Aldo Trento

Ao diretor do Jornal Il Foglio
Aqui também chegaram as notícias do que está acontecendo na Bélgica, onde não apenas se faltou com o respeito pela Igreja, como se renovou o famoso Ultraje de Anagni [o autor refere-se a um episódio que aconteceu na cidade de Anagni (comuna da região do Lácio, na Itália), no dia 7 de setembro de 1303, quando Sciarra Colonna esbofeteou o Papa Bonifácio VIII, por causa de uma disputa entre a monarquia absolutista do rei francês Felipe, o Belo e a doutrina teocrática do Papa Bonifácio VIII; ndt], da mesma forma que aconteceu com a setença da Suprema Corte dos EUA. A Igreja e o Santo Padre são sempre mais alvo de uma campanha de ódio, diabolicamente organizada. Ferem-nos muito. Mais de um tem se perguntado com preocupação: o que será do futuro da Igreja? Certamente, esquecendo-se das palavras de Jesus: "Non praevalebunt". Para mim, tudo isto, além de ser motivo de dor imensa, confesso, suscita também uma certa raiva, uma certa reação como a de Pedro no Getsêmani quando, tomado pela paixão por Jesus e por seu temperamento, para defender o Mestre, tomou a espada e, com um golpe bem dado, cortou a orelha do servo do Sumo Sacerdote. Pensava ter feito um gesto bom, heroico, mas Jesus, cheio de angústia e com o rosto coberto de sangue, chama a sua atenção: "Pedro, recoloca a espada na bainha. Não deves beber o Cálice que o Pai me consignou?". A história continua. Aquilo que aconteceu a Jesus naquela noite, no horto do Getsêmani, é o que está acontecendo agora com a Igreja. Esta cadeia de ódio, esta concertação de acusações bem preparada, bem organizada e ainda melhor finalizado pelo poder diabólico do momento, têm como fim destruir a Igreja. Mas a Igreja, certamente, acabará na cruz, como há 2000 anos atrás, mas ressucitará no terceiro dia (e todo dia é o terceiro dia). O horto das Oliveiras é um dos lugares nos quais a Igreja e o Santo Padre têm sua residência cotidiana. Sempre existirão amigos cheios de sono que não lhe farão companhia, sempre existirá a Sua voz que pede conforto, sempre existirão capangas, policiais, magistrados que, por um motivo ou outro, encontrarão uma razão para aprisioná-la, julgá-la, condená-la; sempre existirá o Judas do momento; sempre existirá o impetuoso Pedro que chega a arrancar a espada; sempre existirão os processos, nos quais se lavam as mãos, nos quais se prefere Barrabás e ela é condenada à morte. Tudo isso é o cotidiano da Igreja.
Porém, não é este o fato definitivo, a última palavra, porque Cristo ressuscitou e, se Cristo ressuscitou, tudo isto faz parte do caminho glorioso da Igreja. A Igreja é o Mistério Pascal que se renova continuamente. Nunca, como nestes momentos, a certeza de que Cristo ressuscitou nos faz vibrar mais de alegria, de entusiasmo, disponíveis mesmo ao martírio pela Igreja, se Deus nos pedir isso. A nossa força não está nas sentenças dos tribunais ou nos compromissos judiciais ou nas barganhas. A nossa enorme energia está apenas na grande certeza: Cristo ressuscitou. Nunca, como nestes momentos, enquanto tantos estão com medo e pensam que a Igreja possa ceder; nunca, como agora, quando as forças do mal estão mais unidas no ataque feroz, a beleza do rosto de Cristo é mais viva entre nós e conosco. Enquanto todos estão com os olhos fixos nos jornais para procurar a última estupidez, nós temos os olhos fixos em Cristo, neste Tu que domina tudo. Que graça, nestas horas difíceis, poder dizer com infinita doçura: "Quem és Tu, ó Cristo, que nos dás estas provações, através das quais nos perguntas como a Simão 'Tu me amas?', e nos dás a graça e a alegria de responder-Te ainda uma vez: 'Senhor, Tu sabes tudo, Tu sabes que eu Te amo'". Gostaria que o Santo Padre soubesse que não apenas eu, mas todos os meus hóspedes, crianças e velhos abandonados por todos, doentes terminais destas pequenas cidades da caridade, estamos oferecendo a nossa vida por Ele e pela Igreja. Amigos, quanto mais a tempestade enfurece, tanto mais o nosso olhar deve permanecer pregado ao "Tu, ó Cristo" do qual nada nos poderá separar. O que aconteceu é gravíssimo e indigno do homem, da razão, do direito; mas, onde não há Cristo - ou pior: onde se quer eliminar o fato histórico e contemporâneo de Cristo -, tudo isto é inevitável. Mas, ninguém nos impedirá de dizer "Tu, ó meu Cristo".

* Extraído do jornal Il Foglio, do dia 01 de julho de 2010 (p. 4). Traduzido por Paulo R. A. Pacheco.

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