quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Por que a mídia fala da revolução egípcia mas se esquece de Israel?


Por Lorenzo Albacete

Caro diretor,
gostaria de falar, neste artigo,  do discurso sobre o Estado da União do presidente Obama, mas (como já esperava!) não está mais no centro da atenção da mídia e da maioria dos norte-americanos (admitido que tenha, em algum momento, estado). A grande notícia destes dias é a crise no Egito. É difícil estabelecer o quanto desta crise seja motivo de preocupação para o grande público, mas certamente o é para a mídia e, pode-se imaginar, para o governo.
O que me impressionou mais durante os primeiros dias desta crise foi o quase completo silêncio da mídia sobre suas implicações para Israel. O que está acontecendo no Egito, diz-se, é importante para os Estados Unidos, dado o perigo que, da confusão atual, nasça uma república islâmica de tipo iraniano que possa ameaçar a segurança nacional americana, ou, ainda mais perigoso, um governo com simpatias pelas organizações terroristas. Mas, nada se disse sobre os perigos que a situação traz para Israel e para o compromisso norte-americano com a sobrevivência desse país.
Agora, a situação está mudando e as relações EUA-Israel começam a ser consideradas como um fator importante na determinação da resposta americana à crise egípcia.
Ao que parece, o primeiro ministro Benjamin Netanyahu ordenou ao governo que não comente nada acerca do que está acontecendo no Egito. Sob a presidência de Hosni Mubarak, o Egito tem ajudado a pressionar o Hamas nas suas fronteiras com a Faixa de Gaza, tem encorajado as negociações com os palestinos, tem enfrentado o Irã e fornecido 40% do seu gás natural para Israel.
Conforme a Time, “a posição de Mubarak na relação com Israel serviu para frear os outros estados árabes, para não mencionar os 80 milhões de egípcios cujas opiniões sobre Israel são, segundo pesquisas, entre as mais negativas do mundo”.
Elu Shaked, embaixador de Israel no Egito, afirma que “qualquer que seja o governo que emirja destas históricas manifestações – populista, islâmico ou de unidade nacional –, na há dúvida de que o novo regime tentará derrubar a paz com Israel. Os únicos que, no Egito, estão comprometidos com a paz com Israel estão em torno de Mubarak”.
Israel acolheu muito bem a nomeação, por parte de Mubarak, do chefe da inteligência, Omar Suleiman, como seu vice-presidente – o primeiro, desde quando está no poder –, visto que o chefe dos serviços secretos e ex-general visita regularmente Israel para se consultar com funcionários do ministério da defesa e dos serviços secretos sobre muitos temas em comum entre os dois países. “Egito e Israel têm interesses estratégicos comuns. Seria muito dizer que são aliados, mas não estão em guerra”, disse Shlomo Avineri, professor de Ciências Política na Hebrew University de Jerusalém. “É o principal estado árabe e nenhum outro país entraria numa guerra sem o Egito”.
Os israelitas temem particularmente a ascensão da Irmandade Muçulmana, a oposição política mais organizada no Egito, que nas últimas décadas assumiu posições muito conservadoras e religiosas, bem como muitas outras associações árabes.
Segundo a Time, “a imprensa israelita descreve um fim de semana marcado por frenéticos encontros nos altos escalões do governo. O exército israelita, que concentrou sua atenção nas fronteiras com o Líbano e em Gaza, parece estar preparando uma redistribuição das forças no Sul, onde Israel já combateu quatro guerras contra o Egito. Nos documentos da diplomacia americana, publicados no ano passado pela Wikileaks, havia queixas de diplomatas pelo fato de certos âmbitos militares egípcios continuarem a considerar Israel como o principal inimigo e se prepararem para um guerra no Deserto do Sinai, que está entre os dois países”.
Ninguém pode pretender conhecer as implicações desta situação.
Depois da assinatura de um tratado de paz por parte do Egito, a mesma coisa foi feita pela Jordânia e depois pela Organização para a Libertação a Palestina. Ao mesmo tempo, a Liga Árabe passou do enfrentamento de Israel à formulação, em 2002, de um plano fundamentado sobre a existência de dois estados para encerrar o conflito Israel-Palestina.
“Sim. Estamos extremamente preocupados com a situação”, disse, privadamente, um general israelita. A situação, portanto, permanece muito fluida e assim também as reações da administração Obama.
Nestes dias, não pude deixar de pensar que o acontecimento mais importante dos últimos tempos no Cairo não tinha nada que ver com as revoltas populares. Tenho em mente o “mini Meeting” que aconteceu ali, no qual quem vinha de Rímini viu, naquilo que acontecia no Cairo, uma clara demonstração da presença de Cristo e da atratividade desta Presença para todos, independentemente da sua cultura e da sua busca religiosa. Eu não sei quando nem onde, mas estou seguro de que esta Presença e a sua atratividade darão forma ao futuro do Egito, mais do que qualquer coisa que possa acontecer nestes dias.

* Extraído do IlSussidiario.net, do dia 2 de fevereiro de 2011. Traduzido por Paulo R. A. Pacheco.

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