Por Massimo Camisasca
O Papa, todo Papa, é vigário de Cristo. A sua eleição, o seu ministério, a sua pessoa não podem ser compreendidos se não em relação com a pessoa de Jesus de Nazaré, o Verbo de Deus feito homem. É no diálogo com o seu Senhor que ele aceitou a sua nomeação como sucessor de Pedro, é na continuidade de tal relação que, todos os dias, busca o significado e a força do que realiza e diz.
Se há um dever do Papa, este é o de se interrogar sobre quem é Cristo para ele, para os homens e para o mundo. É o que Bento XVI quis fazer trabalhando nestes primeiros seis anos de pontificado na obra que certamente permanecerá como uma das mais importantes de sua vida. Começada quando era ainda cardeal, constituiu o conteúdo de tantas de suas reflexões, estudos, pesquisas, orações ao longo destes anos. Por ela, sacrificou horas e dias de repouso.
Depois de uma primeira parte dedicada aos três anos da pregação de Cristo, eis agora uma segunda dedicada aos dias da Paixão e, particularmente, ao Tríduo que compreende também a morte e a ressurreição. Sabemos que está já esboçada uma terceira parte, talvez já toda escrita, dedicada ao comentário dos evangelhos da infância, o de Mateus e o de Lucas. Estes últimos são textos com um padrão particular, que podem ser lidos, estudados e meditados com uma atenção específica, anterior ou posterior à meditação das outras páginas do evangelho.
A vida de Jesus, como é narrada pelos evangelhos, pode ser vista como um processo de progressiva concentração: depois de longos anos de preparação, o tempo breve da pregação e, depois, os dias brevíssimos da paixão, morte e ressurreição. E no entanto é exatamente destas últimas horas que parte a reflexão comovida dos primeiros cristãos e a coletânea dos testemunhos sobre Jesus de Nazaré, que se alargou posteriormente aos outros tempos da vida do Messias.
São Paulo podia dizer: não conheço outra coisa, a não ser Cristo e este crucificado (cf. 1Cor 2, 2). É compreensível portanto porque Bento XVI quis dedicar um volume inteiro a estas horas decisivas. A intenção, seguramente, é análoga à que já encontramos expressa na primeira parte da obra publicada em 2007: mostrar que o Jesus da fé e o da história não são duas pessoas diferentes, como muitos exegetas quiseram fazer, sobretudo no século passado. O Jesus que a fé, ou seja, a tradição da Igreja, nos transmitiu não é um personagem inventado, o fruto de um sentimento irracional que não sabe voltar-se para os fatos. Ele existiu verdadeiramente e dele temos tantos testemunhos quase contemporâneos à sua existência, escritos para transmitir os eventos da sua vida, mas também o conteúdo salvífico que traziam aos homens. Assim, fé e história não se excluem, mas se integram e se explicam mutuamente.
A obra de Bento XVI sobre Jesus de Nazaré mostra-se, portanto, como fruto de um longo trabalho de exegese, que não esquece nem as antigas, mas sempre vivas, leituras dos Padres, nem o trabalho do método histórico-crítico ou das mais recentes teorias sobre as estruturas literárias. Seguindo a exegese do Papa que, entre outras coisas, com esta obra não pretende impor um ato magisterial, encontramos as várias etapas que a leitura crítica e meditativa da Escritura percorreu em dois mil anos de história da Igreja. Estamos, nesse momento, no ponto de virada, num momento novo e extremamente simples. Um momento que quer unir a sabedoria dos antigos padres à acuidade crítica da exegese moderna. Uma obra que mira sobretudo a fé do povo de Deus, a que quer alimentar e defender e de onde pretende tirar as certezas fundamentais, os pontos que servirão de guia para a própria busca.
* Extraído do IlSussidiario.net, do dia 3 de março de 2011. Traduzido por Paulo R. A. Pacheco.
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