terça-feira, 21 de junho de 2011

O homem não pode viver sem esta busca pela verdade sobre si mesmo

Visita Pastoral à Diocese de San Marino-Montefeltro

Encontro com os jovens da diocese de San Marino-Montefeltro

Discurso do Santo Padre Bento XVI

Praça Vittorio Emanuele – Pennabilli
Domingo, 19 de junho de 2011

Caros jovens,
Estou muito contente de estar, hoje, em vosso meio e convosco! Sinto toda a vossa alegria e o entusiasmo que caracterizam a vossa idade. Saúdo e agradeço o vosso Bispo, D. Luigi Negri, pelas cordiais palavras de acolhida, e o vosso amigo que se fez intérprete dos pensamentos e dos sentimentos de todos, e formulou algumas questões muito sérias e importantes. Espero que, durante esta minha exposição, se encontrem também os elementos para encontrar as respostas a estas perguntas. Saúdo com afeto os Sacerdotes, as Irmãs, os animadores que compartilham convosco o caminho da fé e da amizade; e naturalmente também os vossos pais, que se alegram ao ver-vos crescendo fortes no bem.
O nosso encontro aqui, em Pennabilli, diante desta Catedral, coração da Diocese, e nesta Praça, nos remete, com o pensamento, aos numerosos e diversos encontros de Jesus, que nos são contados pelos Evangelhos. Hoje, gostaria de chamar a atenção para o célebre episódio no qual o Senhor estava no caminho e um tal – um jovem – correu ao seu encontro e, se ajoelhando, lhe fez esta pergunta: “Bom Mestre, o que devo fazer para ter por herança a vida eterna” (Mc 10, 17). Talvez, nós, hoje, não diríamos assim, mas o sentido da pergunta é o mesmo: o que devo fazer, como devo viver para viver realmente, para encontrar a vida? Portanto, dentro desta interrogação podemos ver encerrada a ampla e variada experiência humana que se abre à busca do significado, do sentido profundo da vida: como viver, por que viver. A “vida eterna”, de fato, à qual se refere aquele jovem do Evangelho, não indica apenas a vida depois da morte, não quer saber apenas como se chega ao céu. Quer saber: como devo viver, agora, para ter já a vida que pode ser também, depois, a eterna. Portanto, nesta pergunta, este jovem manifesta a exigência de que a existência cotidiana encontre sentido, encontre plenitude, encontre verdade. O homem não pode viver sem esta busca pela verdade sobre si mesmo – o que sou eu, para que devo viver –, verdade que impulsione a abrir o horizonte e a ir além daquilo que é material, não para fugir da realidade, mas para vivê-la de modo ainda mais verdadeiro, mais rico de sentido e de esperança, e não apenas na superficialidade. E acredito que esta – e eu o vi e ouvi nas palavras do vosso amigo – seja também a vossa experiência. As grandes interrogações que carregamos dentro de nós permanecem sempre, renascem sempre: quem somos?, de onde viemos?, para quem vivemos? E estas questões são o sinal maior da transcendência do ser humano e da capacidade que temos de não parar na superfície das coisas. E é exatamente olhando para nós mesmos com verdade, com sinceridade e com coragem que intuímos a beleza, mas também a precariedade da vida e sentimos uma insatisfação, uma inquietude que nada de concreto consegue preencher. No fim, todas as promessas se demonstram frequentemente insuficientes.
Caros amigos, convido-vos a tomar consciência desta saudável e positiva inquietude, a não ter medo de vos colocar perguntas fundamentais sobre o sentido e sobre o valor da vida. Não parai nas respostas parciais, imediatas, certamente mais fáceis no momento e mais cômodas, que podem dar algum momento de felicidade, de exaltação, de embriaguez, mas que não vos levam à verdadeira alegria de viver, aquela que nasce de quem constrói – como disse Jesus – não sobre a areia, mas sobre a rocha sólida. Aprendei, então, a refletir, a ler de modo não superficial, mas em profundidade, a vossa experiência humana: descobrireis, com maravilhamento e com alegria, que o vosso coração é uma janela aberta para o infinito! Esta é a grandeza do homem e também a sua dificuldade. Uma das ilusões produzidas no curso da história foi a de pensar que o progresso técnico-científico, de modo absoluto, poderia dar respostas e soluções a todos os problemas da humanidade. E vemos que não é assim. Na realidade, mesmo se tivesse sido possível, nada e ninguém poderia ter cancelado as perguntas mais profundas sobre o significado da vida e da morte, sobre o significado do sofrimento, de tudo, porque estas perguntas estão inscritas no espírito humano, no nosso coração, e ultrapassam a esfera das necessidades. O homem, mesmo na era do progresso científico e tecnológico – que nos deu tanto – permanece um ser que deseja mais, mais do que a comodidade e o bem-estar, continua aberto à verdade inteira de sua existência, que não pode parar nas coisas materiais, mas se abre a um horizonte muito mais amplo. Tudo isto vós experimentais continuamente, cada vez que vos perguntais “mas, por quê?”. Quando contemplais um pôr do sol, ou uma música, movem-se em vós o coração e a mente; quando experimentais o que quer dizer amar verdadeiramente; quando sentis com força o sentido da justiça e da verdade, e quando sentis também a falta de justiça, de verdade e de felicidade.
Caros jovens, a experiência humana é uma realidade que nos acomuna a todos, mas a elas se podem dar diversos níveis de significado. E é aqui que se decide a forma como orientar a própria vida e se escolhe a quem confiá-la, a quem se confiar. O risco é sempre o de permanecer aprisionado ao mundo das coisas, do imediato, do relativo, do útil, perdendo a sensibilidade por aquilo que se refere à nossa dimensão espiritual. Não se trata, de fato, de desprezar o uso da razão ou de rejeitar o progresso científico, mas exatamente o contrário; trata-se muito mais de entender que cada um de nós não é feito somente de uma dimensão “horizontal”, mas compreende também aquela dimensão “vertical”. Os dados científicos e os instrumentos tecnológicos não podem substituir-se ao mundo da vida, aos horizontes de significado e de liberdade, à riqueza das relações de amizade e de amor.
Caros jovens, é exatamente na abertura para a verdade inteira de nós, de nós mesmos e do mundo, que vemos a iniciativa de Deus para conosco. Ele vem ao encontro de cada homem e lhe faz conhecer o mistério do Seu amor. No Senhor Jesus, que morreu e ressuscitou por nós e nos deu o Espírito Santo, somos mesmos tornados partícipes da vida de Deus, pertencemos à família de Deus. NEle, em Cristo, podeis encontrar a resposta para as perguntas que acompanham o vosso caminho, não de modo superficial, fácil, mas caminhando com Jesus, vivendo com Jesus. O encontro com Cristo não se resolve na adesão a uma doutrina, a uma filosofia, mas aquilo que Ele vos propõe é compartilhar a Sua mesma vida e, assim, aprender a viver, aprender o que é o homem, o que sou eu. Para aquele jovem, que Lhe havia perguntado o que fazer para entrar na vida eterna, ou seja, para viver verdadeiramente, Jesus responde, convidando-o a largar os seus bens e acrescenta: “Vem! Segue-me!” (Mc 10, 21). A palavra de Cristo mostra que a vossa vida encontra significado no mistério de Deus, que é Amor: um Amor exigente, profundo, que vai além da superficialidade! O que seria da vossa vida sem este amor? Deus cuida do homem desde a criação até ao final dos tempos, quando levará à realização o seu projeto de salvação. No Senhor Ressuscitado a certeza da nossa esperança! Cristo mesmo, que foi até às profundezas da morte e ressuscitou, é a esperança em pessoa, é a Palavra definitiva pronunciada sobre a nossa história, é uma palavra positiva.
Não temeis enfrentar as situações difíceis, os momentos de crise, as provações da vida, porque o Senhor vos acompanha, está convosco! Encorajo-vos a crescer na amizade com Ele, através da leitura frequente do Evangelho e de toda a Sagrada Escritura, da participação fiel à Eucaristia como encontro pessoal com Cristo, do compromisso no interior da comunidade eclesial, do caminho com uma orientação espiritual válida. Transformados pelo Espírito Santo, podereis experimentar a autêntica liberdade, que é tal quando é orientada para o bem. Deste modo, a vossa vida, animada por uma contínua busca do rosto do Senhor e da vontade sincera de dar vós mesmos, será, para tantos de vossos coetâneos, um sinal, um chamado de atenção eloquente a viver de forma tal que o desejo de plenitude que está em todos nós se realize finalmente no encontro com o Senhor Jesus. Deixai que o mistério de Cristo ilumine toda a vossa pessoa! Então, podereis levar aos diversos ambientes aquela novidade que pode mudar as relações, as instituições, as estruturas, para construir um mundo mais justo e solidário, animado pela busca do bem comum. Não cedei à lógica individualista e egoísta! Conforte-vos o testemunho de tantos jovens que atingiram a meta da santidade: pensai em Santa Teresinha do Menino Jesus, em São Domingos Sávio, em Santa Maria Gorete, no Beato Pier Giorgio Frassati, no Beato Alberto Marvelli – que é desta terra! – e em tantos outros, desconhecidos de nós, mas que viveram o seu tempo na luz e na força do Evangelho, e encontraram a resposta: como viver, o que fazer para viver.
Como conclusão deste encontro, quero confiar cada um de vós à Virgem Maria, Mãe da Igreja. Como Ela, possais pronunciar e renovar o vosso “sim” e glorificar sempre o Senhor com a vossa vida, porque Ele vos dá palavras de vida eterna! Coragem, então, caros jovens e caras jovens, no vosso caminho de fé e de vida cristã também eu estarei próximo de vós e vos acompanharei com minha Bênção. Obrigado pela vossa atenção!

* Extraído do site do Vaticano, do dia 19 de junho de 2011. Traduzido por Paulo R. A. Pacheco.

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