sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Cartas do P.e Aldo 206


Assunción, 5 de outubro de 2011.

Caros amigos,
Acabei de me confessar e, finalmente, depois de uma semana muito dura, o céu voltou a ser azul. Que graça grande a confissão semanal ou até mesmo quando é mais frequente. E olhem que a confissão não tem nada que ver com a direção espiritual ou com a procura por algum conselho. O meu confessor é essencial: escuta os meus pecados, me dá a penitência, me faz dizer o Ato de Contrição e, em seguida, me dá a absolvição. Tudo em três minutos. E, no entanto, que Acontecimento, que encontro com o olhar de Jesus que, com os pecadores, nunca perdeu mais do que alguns minutos. A Zaqueu disse: “desce porque, nesta noite, vou jantar com você”. Para a adúltera: “Mulher, quem te condenou?”. “Ninguém, Senhor” “Eu também não te condeno. Vai e não peques mais”, ou seja, permanece sempre comigo. Para Mateus, “segue-me”, e ele O seguiu. Alguns minutos a mais ele dedicou à Samaritana, mas tinha as suas razões pedagógicas. O meu confessor também é assim. A essencialidade do Sacramento: reconhecer a Presença, confiar o meu nada e me sentir abraçado na minha loucura porque, como nos lembra Giussani no seu livro Ciò che abbiamo di più caro (O que temos de mais caro, sem tradução para o português; ndt), “quem comete pecado odeia a si mesmo” e esta é a loucura.
Esta foi uma semana dura, na qual Jesus me manteve próximo dEle na cruz e, em certos momentos, eu O teria deixado sozinho. É a tentação para a qual a minha liberdade responde com a confissão. Ou seja, com a prática daquilo que Péguy, que Giussani cita no seu último livro, chama: VERDADE HIGIÊNICA, de que a confissão é, na minha experiência de 22 anos de missão, o coração. Péguy fala de verdade cirúrgica que é aquela mais cômoda: cortar. E de verdade higiênica: “não procurem um milagre, mas um caminho”. Giussani me educou muito bem a viver esta esperança da verdade higiênica tanto no modo com o qual ele me educou a viver a minha afetividade, quanto no modo com o qual viver cada detalhe. Enquanto que sempre seremos inclinados à verdade cirúrgica: cortar. E assim, experimentaremos a alegria de ser homens, a alegria que nasce do fato que nada daquilo que é humano nos será estranho. É um grande desafio para a liberdade, porque a verdade higiênica exige que você inteiro entre no jogo e exige um trabalho paciente como o trabalho de um parto, para recordar o cartaz de Páscoa de 1989, que trazia a famosa frase de Mounier. Esta semana eu quis cortar tantas coisas, tantos relacionamentos, porque eu estava cansado, mas a obediência à realidade me fez ficar dentro daquilo que acontecia sem cortar nada, sem censurar nada e, no fim, graças à companhia sacramental e à confissão, me descubro, agora, mais livre, mais feliz. Pensava nisso ontem à noite, quando fui ao médico para ver como anda minha diabetes e ele também aplicou em mim uma terapia higiênica mais do que cirúrgica. E esta terapia, a higiênica, depende totalmente da minha liberdade, porém, no fim, salva tudo.
Meus amigos... mesmo que vocês se apaixonem repentinamente e queiram fugir dessa paixão ou tirá-la do meio do caminho, como muitos me escrevem, acredito que ela deva ser motivo para que vocês prestem contas gritando e pedindo ajuda. Espero que vocês leiam o que Giussani disse em Ciò che abbiamo di più caro, para que possam entender o quanto é necessário um trabalho, um caminho, porque o verdadeiro milagre é a verdade higiênica de que a confissão freqüente é o sinal de uma liberdade, verdadeiramente, comprometida com um caminho de conversão. A semana foi dura, como cada dia é duro, porque, aqui, eu sempre vivo no mesmo instante a morte e a ressurreição de Jesus. Não há intervalos!
Um abraço,
Padre Aldo

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