Caso Eluana
Em 13 de novembro último, o Supremo Tribunal da Itália autorizou os médicos a desligarem os sistemas de alimentação e hidratação assistidas que mantêm viva Eluana Englaro, de 37 anos, em coma desde janeiro de 1992 devido a um acidente automobilístico.
As freiras da instituição religiosa onde Eluana é atendida desde 1993 se ofereceram para continuar a fazê-lo gratuitamente, "sem pedir nada em troca". "Se há quem a considere morta, que deixe Eluana conosco, pois a sentimos viva".
A seguir o juízo preparado pelo Centro do Movimento Comunhão e Libertação, na Itália.
Caridade ou violência?
“Entender as razões do esforço é a coisa mais importante da vida, pois a maior objeção à vida é a morte, e a maior objeção a viver é o esforço de viver; a maior objeção à alegria são os sacrifícios. [...] O sacrifício maior é a morte”
Em 13 de novembro último, o Supremo Tribunal da Itália autorizou os médicos a desligarem os sistemas de alimentação e hidratação assistidas que mantêm viva Eluana Englaro, de 37 anos, em coma desde janeiro de 1992 devido a um acidente automobilístico.
As freiras da instituição religiosa onde Eluana é atendida desde 1993 se ofereceram para continuar a fazê-lo gratuitamente, "sem pedir nada em troca". "Se há quem a considere morta, que deixe Eluana conosco, pois a sentimos viva".
A seguir o juízo preparado pelo Centro do Movimento Comunhão e Libertação, na Itália.
Caridade ou violência?
“Entender as razões do esforço é a coisa mais importante da vida, pois a maior objeção à vida é a morte, e a maior objeção a viver é o esforço de viver; a maior objeção à alegria são os sacrifícios. [...] O sacrifício maior é a morte”
Luigi Giussani
Que sociedade é essa que chama à vida “um inferno” e à morte, “uma libertação”? Qual é a origem de uma razão enlouquecida, capaz de virar o bem e o mal de ponta-cabeça e, portanto, incapaz de chamar as coisas por seu verdadeiro nome?
A anunciada suspensão da alimentação de Eluana Englaro é um homicídio. O fato é ainda mais grave na medida em que impede o exercício da caridade, já que existem pessoas que assumiram a tarefa de cuidar dela e continuariam a fazê-lo.
Na longa história da medicina, seu desenvolvimento se tornou mais fecundo precisamente quando, na era cristã, teve início a assistência aos “incuráveis”, que antes eram expulsos da comunidade dos homens “sãos”, deixados para morrer do lado de fora das muralhas da cidade ou eliminados. Aqueles que cuidassem desses homens poriam em risco a própria vida. Por isso, quem começou a tomar conta dos incuráveis o fez por uma razão que era mais forte que a própria vida: uma paixão pelo destino do outro homem, por seu valor infinito, oriundo do fato de ser imagem de Deus criador.
Assim, o caso Eluana nos põe diante da primeira evidência que se apresenta em nossa vida: nós não nos fazemos sozinhos. Somos desejados por um Outro. Somos arrancados do nada por Alguém que nos ama e que disse: “Até os cabelos da vossa cabeça estão contados”.
Refutar essa evidência significa, cedo ou tarde, refutar a realidade. Mesmo quando essa realidade tem o rosto das pessoas que amamos.
Eis por que o fato de chegar a reconhecer Quem é que nos doa hoje a presença de Eluana não é um acréscimo “espiritual”, próprio para aqueles que têm fé. É uma necessidade para todas as pessoas que, possuindo a razão, buscam um significado. Sem esse reconhecimento, torna-se impossível abraçar Eluana e viver o sacrifício de acompanhá-la; pelo contrário, o que se torna possível é matá-la e, com toda a boa-fé, tomar esse gesto por um gesto de amor.
O cristianismo nasceu precisamente como paixão pelo homem: Deus se fez homem para responder à exigência dramática – que todos percebemos, tenhamos fé ou não – de um significado para viver e para morrer; Cristo teve piedade do nosso nada, a ponto de dar a vida para afirmar o valor infinito de cada um de nós, qualquer que seja a nossa condição.
Precisamos d’Ele, para sermos nós mesmos. E precisamos ser educados a reconhecê-Lo, para viver.
Comunhão e Libertação
Novembro de 2008
Que sociedade é essa que chama à vida “um inferno” e à morte, “uma libertação”? Qual é a origem de uma razão enlouquecida, capaz de virar o bem e o mal de ponta-cabeça e, portanto, incapaz de chamar as coisas por seu verdadeiro nome?
A anunciada suspensão da alimentação de Eluana Englaro é um homicídio. O fato é ainda mais grave na medida em que impede o exercício da caridade, já que existem pessoas que assumiram a tarefa de cuidar dela e continuariam a fazê-lo.
Na longa história da medicina, seu desenvolvimento se tornou mais fecundo precisamente quando, na era cristã, teve início a assistência aos “incuráveis”, que antes eram expulsos da comunidade dos homens “sãos”, deixados para morrer do lado de fora das muralhas da cidade ou eliminados. Aqueles que cuidassem desses homens poriam em risco a própria vida. Por isso, quem começou a tomar conta dos incuráveis o fez por uma razão que era mais forte que a própria vida: uma paixão pelo destino do outro homem, por seu valor infinito, oriundo do fato de ser imagem de Deus criador.
Assim, o caso Eluana nos põe diante da primeira evidência que se apresenta em nossa vida: nós não nos fazemos sozinhos. Somos desejados por um Outro. Somos arrancados do nada por Alguém que nos ama e que disse: “Até os cabelos da vossa cabeça estão contados”.
Refutar essa evidência significa, cedo ou tarde, refutar a realidade. Mesmo quando essa realidade tem o rosto das pessoas que amamos.
Eis por que o fato de chegar a reconhecer Quem é que nos doa hoje a presença de Eluana não é um acréscimo “espiritual”, próprio para aqueles que têm fé. É uma necessidade para todas as pessoas que, possuindo a razão, buscam um significado. Sem esse reconhecimento, torna-se impossível abraçar Eluana e viver o sacrifício de acompanhá-la; pelo contrário, o que se torna possível é matá-la e, com toda a boa-fé, tomar esse gesto por um gesto de amor.
O cristianismo nasceu precisamente como paixão pelo homem: Deus se fez homem para responder à exigência dramática – que todos percebemos, tenhamos fé ou não – de um significado para viver e para morrer; Cristo teve piedade do nosso nada, a ponto de dar a vida para afirmar o valor infinito de cada um de nós, qualquer que seja a nossa condição.
Precisamos d’Ele, para sermos nós mesmos. E precisamos ser educados a reconhecê-Lo, para viver.
Comunhão e Libertação
Novembro de 2008
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