quarta-feira, 25 de março de 2009

Cartas do P.e Aldo 04


Asunción, 22 de fevereiro de 2009.

Caros amigos,
“não nos ardia o coração enquanto, pelo caminho, falávamos com Ele?” – perguntavam-se os dois discípulos de Emaús. Pois bem, no fim desses dias passados em companhia de Carrón – durante o encontro de responsáveis da América Latina, em São Paulo, e durante o encontro no Ginásio do Ibirapuera (no dia 15 de fevereiro de 2009, em São Paulo/SP; ndt) com 15 mil amigos guiados pelos meus queridíssimos amigos, os Zerbini –, isso é tudo o que vibra dentro de mim.
Vi outra vez vivo, palpitante, fisicamente presente, dom Giussani.
Olhando para Carrón, escutando-o, deixando-me provocar pela intensidade da sua humildade que nos conduz sempre em direção àquilo que Giussani define como “o critério objetivo, infalível para julgar tudo, o coração”, era evidente que Giussani estava ali. Que bonito! Para mim, Giussani não está morto, pelo contrário, eu diria que, no Carrón, ele está mais vivo do que antes. E é o meu coração que me diz isso, porque eu estava comovido por segui-lo. Era como naquele primeiro dia, quando encontrei Giussani na Via Martinengo (endereço da casa onde morou Luigi Giussani, fundador de Comunhão e Libertação, em Milão, na Itália; ndt), era como quando, há 20 anos atrás, ele me pediu para ficar com ele por dois meses: a mesma intensidade de olhar, uma capacidade impressionante de falar ao meu eu. De fato, nos meus 62 anos, apenas Giussani e, agora, Carrón souberam e foram capazes de falar assim ao meu coração.
Um espetáculo que, aproximando-se o aniversário da morte de Giussani, me faz gritar: Giussani está vivo, mais vivo que antes, porque agora aquelas palavras que sufocaram o meu coração, salvando-me da ideologia, têm em mim uma espessura impensável então. Naquela época, eu sentia a verdade da promessa; hoje, vejo a lenta, inexorável, progressiva realização.
Amigos, que raça de homem é este amigo e padre Carrón!
E como eu gostaria que, com a inteligência dos “pequenos”, com a simplicidade das crianças, pudéssemos nos identificar com ele, com aquilo que ele nos indica. Vi nele o João Batista: um homem que aponta para um Outro, que nos indica aqueles sinais inconfundíveis do Mistério que estão entre nós. Voltei comovido, como quando voltei dos primeiros dias do meu encontro com dom Gius, até o ponto de pedir para os meus doentes terminais, esta manhã: “amigos, de hoje em diante, ofereçamos as nossas dores e mesmo o sacrifício da nossa vida por este homem que, de fato, é a garantia, para cada um de nós, de que aquele abraço de don Gius, mediante o qual Deus mudou a minha vida, siga vivo”.
Como gostaria que todos quantos têm a graça de escutá-lo frequentemente ou de viver ao seu lado vibrassem como vibra o meu coração desde quando, há dois anos, o conheci, levando a sério a sua incansável repetição: “eu sou Tu que me fazes”, ou aquela frase do Evangelho – “mesmo os cabelos da vossa cabeça estão contados”. É exatamente desde aquele dia que desabrochou também a grande amizade com os Zerbini, uma amizade cheia de clareza, de ternura que os impulsionou a vir duas vezes visitar-nos, e que impulsionou P.e Paolino, com 4 garotinhos, a fazer 50 horas de viagem para participarem do grande gesto de domingo passado no Ginásio.
Amigos, um espetáculo de fé que, creio, somente na Idade Média era possível ver: quando um rei aderia à fé, todos aderiam, assim como eram, grandes pecadores.
De fato, revi o coração do Movimento, da liberdade. Depois de anos de cansaço, de risco de viver apenas de recordações, hoje, com 62 anos, compreendo, vejo que Giussani está vivo e está vivo na medida em que seguirmos radicalmente a Carrón, assimilando-nos com o seu modo de viver Giussani. A paternidade humana deste homem, que tem como centro o eu, a realidade, o coração humano, comove e desconcerta a todos. Como aconteceu, sexta de manhã, quando, com os Zerbini, encontrei o cardeal de São Paulo e alguns entre os mais importantes reitores de universidade da cidade.
Amigos, gostaria apenas de “festejar” com vocês a certeza de que Giussani vive e de que todos os que seguem com inteligência a Carrón tocam com a mão esta verdade: somos mais felizes, mais contentes. Enquanto que, quem vive de nostalgia, é triste.
Um abraço
P.e Aldo

P.S.: acabei de chegar; responderei aos emails mais urgentes o mais rápido possível.
* Na foto, estão P.e Carrón (em primeiro plano) e Dom Giussani.

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