sexta-feira, 27 de março de 2009

Cartas do P.e Aldo 05

Asunción, 13 de fevereiro de 2009.

Caros amigos,
gostaria de lhes mandar alguns dos 3500 emails que me chegaram desde o dia 28 de agosto do ano passado até hoje. Quanto dor, quantos dramas de todos os tipos. Eis: este é o homem, este sou eu. Um pedido de ajuda, de um carinho, de alguém que se coloque em adoração diante da grandeza do eu. Cada dia o meu coração sofre e arde de desejo de abraçar, consolar este “eu” cósmico, eu de dor. E é nesta perspectiva que a minha clínica bela. É exatamente bela porque aqui se “adora” ao homem, aqui o homem aparece em toda a sua grandeza. Por isso, ontem de noite, eu dizia aoVice-Presidente da República (Federico Franco Gómez; ndt) e ao Ministro da Educação (Dr. Horacio Galeano Perrone; ndt), que vieram jantar em alegre companhia:
1. esta clínica é obra exclusiva da Providência, que me dá o necessário a cada dia;
2. aqui, ou se vive com esta consciência, ou é melhor que se vá embora, sobretudo quando a pessoa não deseja entender que a “realidade é providencial”;
3. não me interessam os colaboradores. Eu tenho necessidade é de amigos, como o Senhor Vice-Presidente, por exemplo. Não tenho necessidade e não quero saber de nada de organizativo, porque a Providência não precisa ser organizada, mas tão somente tem necessidade de pessoas apaixonadas pela realidade, porque é desta paixão que nasce um relacionamento, uma amizade;
4. esta clínica é propriedade da Providência, que criou e cria, a cada instante, este povo. E este povo é feito de pessoas profissionalmente capazes e particularmente apaixonadas por Cristo. Apaixonadas no sentido de que pulam da cadeira quando são lembradas do fato de que “eu sou Tu que me fazes”. Para estas pessoas, não existe o nominalismo, as palavras comovem como cada coisa que acontece;
5. à pergunta “mas, da Itália, o que vocês recebem? Como são os relacionamentos de vocês?”, eu respondi: “da Itália, quero apenas amigos, quero apenas pessoas que, seguindo a Carrón e àquilo que eu encontrei e que mudou a minha vida, sejam convertidas também. Eu não tenho relacionamentos econômicos e, por isto, não me falta dinheiro. Os relacionamento são apenas relacionamentos humanos. Não existem relacionamentos econômicos, porque o eu é relação com o Mistério". Por isto, obedeço apenas a estes relacionamentos, obedeço à realidade que, juro, nunca me deixou tranquilo, acomodado... pelo contrário, é um tormento, é um espinho cravado na minha carne que me faz gritar, pedir, mendigar. A mesma amizade que tenho com o senhor é a que nos leva, única coisa no mundo, a nos encontrarmos todas as segundas-feiras, às 6h da manhã, para rezar juntos as Laudes e tomar juntos o café da manhã – eu e meus amados e belos companheiros, Paolino e Daf: é a amizade que nasce da consciência do eu como Mistério. Senhor Vice-Presidente, eu me interesso pelo senhor como “eu sou Tu que me fazes”.

Amigos, vocês entendem por que aqui tudo é sacramental? Vocês leram o testemunho da Anna, a sobrinha da Giovanna? Por isso, me comovo com Quinto que, há anos, vibra comigo por cada coisa que acontece. E é por isso que Quinto se tornou, para todo o hospital, a voz da amizade de P.e Aldo na Itália. E sublinho ainda: é exatamente assim. Como eu gostaria que todos tivessem visto o que aconteceu na última quarta-feira, quando os meus médicos realizaram, por audioconferência, um encontro para entender o que quer dizer amizade, Escola de Comunidade, levar a sério a Carrón, olhar para aquilo que ele indica... E me comove ainda mais ver como Quinto me sustenta, me conforta em tudo, ver como se ocupa da minha pessoa. Este tipo de relacionamento nos interessa. Outro, absolutamente não. A gente deve obedecer é a uma amizade, a um homem que, como Giussani, dizia: “mas, que belo” e, depois, corrigia. Porque a primeira correção é a maravilha, o fascínio por cada coisa que acontece.
Amigos, nesta idade, sobre estas coisas, eu não relaxo... pelo contrário, me convenço sempre mais: estamos juntos por causa da febre do próprio eu. Estamos juntos para dizer “Tu, oh meu Cristo”. O tempo começou a se fazer breve para mim e eu tenho apenas a pressa de que Cristo seja conhecido e amado. O resto é lixo. Anos e anos de dor e os últimos quatro anos e meio, 24 horas por dia como os moribundos, me fizeram enlouquecer por Cristo, pela realidade. E acredito que seja esta atividade que fascina, que atrai. A metade dos meus responsáveis, dinâmicos, precisos, profissionalmente preparados, tomam psicofármacos, como este pobre homem (que escreve; ndt), fiquei sabendo esta manhã, durante o conselho de administração que, para nós, é Escola de Comunidade. Entendem? Metade tem problemas de depressão, porém não é esta doença que nos define, mas a certeza de Cristo ressuscitado. Estas coisas serão contadas por mim, aos meus amigos, na Assembleia de Responsáveis da América Latina (que teve lugar em Atibaia, nos dias 13, 14 e 15 do mês de fevereiro de 2009, reunindo 300 responsáveis de CL, vindos de toda a América Latina; ndt) e, depois, tendo tido a graça única e imerecida de passar alguns dias de repouso com Carrón e outros amigos, poderei verificar tudo, ponto por ponto, porque quero que o meu eu arda por Cristo e que o meu povo seja sempre mais o protagonista, com tantos que ardem com o mesmo desejo, com aquilo que, aqui, a Providência cria, usando as mãos desta povo. Esta amizade que peço, suplico a Nossa Senhora que aconteça (e que aconteça é uma graça pedida... e eu suplico para mim e para vocês) sempre mais entre nós. Juntos, não para fazer; mas para que o eu não morra, para que o eu vibre, cresça, porque só um eu comovido gera, cria e sustenta uma obra.
Ciao e até a próxima.
P.e Aldo

P.S.: Caros amigos, responderei a seus emails, quando voltar para a Asunción, no dia 22 de fevereiro. Estarei no Brasil, acompanhando o Carrón.

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