Por Luca Doninelli
“Um homem culto, um europeu dos nossos dias pode crer, crer mesmo, na divindade do filho de Deus, Jesus Cristo?”. Muito oportunamente, no início do prefácio a Qui e ora de Luigi Giussani (Bur/Rizzoli, 490 p.), Julián Carrón cita esta frase de Dostoievski que define a entidade do desafio ao qual a fé cristã – hoje ainda mais do que em 1984/85, quando as conversações publicadas no livro foram realizadas – é chamada a responder.
O livro pretende responder a esta pergunta, sem fingimentos. E não através de um discurso, de uma pregação ou de uma homilia, mas através de uma densa, frequentemente dramática, conversa com jovens tomados por pequenos problemas de sua vida universitária e – dentro destes pequenos problemas – com o grande problema do seu destino, do significado do viver, que compreende as dores, as desilusões, as expectativas não realizadas que inevitavelmente acompanham a vida. Exatamente porque calcadas na história, em situações concretas, todas definidas por um tempo e um lugar, as respostas de dom Giussani reverberam ainda mais na nossa vida de hoje, e nós as sentimos próximas, porque se desvelam na cotidianeidade, que é a mesma de sempre: dura, imprevisível, inevitável.
O que permite que a fé cristã possa “se manter firme” diante do desafio do tempo? Se 25 anos atrás, quando estas palavras foram ditas, existia ainda um mundo católico capaz de fornecer uma resposta “social” ou “cultural” a esta pergunta, hoje, isto não é mais possível. Não bastam mais a cultura católica, o ativismo católico, a comunidade católica como tal. Isto já era, então, bastante conhecido por dom Giussani quando dizia: “Meus amigos, estamos em uma época de muito perigo (...) na qual as correntes não são mais presas aos pés, mas à mobilidade das primeiras origens do nosso eu e da nossa vida”, acrescentando que “o Ocidente está, não lentamente, mas violentamente, empurrando toda a realidade humana, mesmo a nossa, para o ‘gulag’ de uma servidão mental e psicológica inaudita”.
Duas são as respostas, não menos dramáticas para a pergunta, que Giussani, me parece, propõe. A primeira é que Cristo só pode responder à nossa ânsia de significado se acontece “aqui e agora”, ou seja se é contemporâneo a mim. A segunda é que a pessoa (não o grupo) reconheça que a sua consistência humana coincide com a pertença – digamos física, mais que ideal – a este Fato. Estas duas respostas são as pistas do caminho que pode conduzir o homem de hoje, tão só e ameaçado pelo ceticismo, a responder “sim” ao desafio de Dostoievski.
* Extraído do jornal Il Giornale, do dia 24 de julho de 2009 (p. 27). Traduzido por Paulo R. A. Pacheco.
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