Por Giorgio Paolucci
“A montanha ensina a viver. Basta olhá-la... mas é preciso alguém que ensine a olhá-la. Olhar é o início de tudo. Olhe para a montanha, para a natureza, e entenderá que as coisas não dependem de você, que a vida é maior do que a sua capacidade de compreensão”. Guido Castelli, responsável pelos Serviços Internacionais e de Pesquisa da Universidade Católica de Milão, é um cinquentão de Varese que conhece de cor dezenas de caminhos e itinerários. Ele os percorreu em companhia de centenas de pessoas, desde quando era uma garotinho, participando das férias de verão de Juventunde Estudantil, depois nas de Comunhão e Libertação, muitas guiadas por dom Giussani que, por décadas, fez da montanha uma grande ocasião educativa para milhares de jovens. Eram – e continuam a ser – experiências humanas extraordinárias, que deixaram uma marca indelével em quem participou de alguma dessas férias. O mesmo Giussani fala disso em um de seus livros – O acontecimento cristão: “o real é a primeira provocação através da qual é despertado em nós o senso religioso. As férias na montanha são propostas para a experiência das pessoas como uma profecia, mesmo que fugaz, da promessa cristã de realização. Como uma pequena antecipação do paraíso, e cada particular deveria veicular aquela promessa e realizar aquela antecipação”.
Castelli pôde saborear muitas vezes aquela “antecipação do paraíso”, e se tornou uma testemunha disso e, por sua vez, mestre para tantos jovens que levou consigo aos cumes. “Caminhar junto, às vezes mesmo em comitivas formadas por centenas de pessoas, ajuda a entender que o homem é essencialmente relacionamento com os outros. Sobretudo quando nos movemos em grupo é necessário que todos sigam o mesmo passo, que, inclusive, deve levar em conta todos aqueles que estão caminhando. Vive-se assim uma experiência de recíproca dependência, que se torna educativa até mesmo para a vida cotidiana”.
A montanha ajuda a descobrir a beleza como algo gratuito, revelado e presenteado ao homem. Algo de grande e, às vezes, inesperado. “Lembro-me de umas férias em Diavolezza. Subíamos a partir de Saint Moritz e, no início, não se via muito bem, mas quando começamos a escalar, chegados ao topo, apareceu um panorama inimaginável, com uma visão muito ampla e fascinante. É a coisa mais bonita que já vi em quarenta anos de escaladas. Algo de imprevisto e imprevisível, que me deixou sem palavras”.
Às vezes, porém, as palavras servem para falar da beleza. Como nos cantos de montanha, uma outra das experiências que Castelli aprendeu a praticar e da qual, depois, se tornou protagonista nas férias de verão com os amigos de CL. “Giussani nos convidava frequentemente a cantar porque, como me disse uma vez, ‘o canto torna mais leve o sacrifício e mais intensa a amizade, e porque o significado das coisas se torna presente através da beleza daquilo que cantamos’. E, além do mais, cantar é algo de contagioso. Lembro-me de umas férias em Torri del Vajolet, um dos lugares mais bonitos das Dolomitas. Éramos umas 400 pessoas. Visto que ameaçava chover, decidimos parar no refúgio Carlo Alberto. Depois de comer, cantamos por duas horas consecutivas. A um certo ponto, virei-me e vi, às minhas costas, dezenas de pessoas que haviam se aproximado para escutar. E muitos se haviam unido a nós no canto, tomados por uma espécie de nostalgia por aquelas palavras. A nostalgia do infinito”.
* Extraído do jornal Avvenire, do dia 29 de julho de 2009 (p. 3). Traduzido por Paulo R. A. Pacheco.
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