segunda-feira, 8 de março de 2010

40 dias com Giussani

"Não é a ausência de dor que [nos] torna mais nobres, mais humanos, mais realizados, mais leais no caminho em direção ao destino. É como disse Eliot: 'No tempo de prosperidade, o povo esquecerá o Templo; no tempo de adversidade, será contra ele'.
O que quero sublinhar (...) é que existe um aspecto da dor infinitamente mais dramático, trágido, doloroso: não existe nada mais mordaz, mais tendencialmente humilhante, porém exatamente por isso mais doloroso na vida, do que aquela dor que se chama o mal, isto é o pecado. O mistério do pecado original, esta permissão do mal que, no desígnio da liberdade de Deus, entrou tão fortemente no desenrolar do caminho humano que nos faz tocar o fundo do paradoxo que, ao nossos olhos, a liberdade de Deus cria. O mistério da liberdade de Deus, no seu cume, está exatamente diante do nosso mal, do pecado, e o cume da liberdade de Deus, maior e mais alto ainda que a criação, é a misericórdia. A definição que o Deus vivo deu de Si não é 'o Criador', mas é Cristo, a misericórdia. O Pai O tratou a partir do pecado, Ele se fez pecado, tomou os pecados de todos nós... A misericórdia: esta vitória sobre a morte do espírito, esta vitória sobre a negação do homem! A vastidão desta palavra, os confins para os quais nos empurra esta palavra são impensáveis por nós. Existe apenas uma frase de São Paulo que nos dá uma medida: 'O Senhor quer que todos os homens sejam salvos' e, depois, há uma outra: 'Para quem O reconhece, tudo coopera para o bem', e o comentário de Santo Agostinho é claro: 'Também o mal' - para quem O reconhece, para os Santos, para aqueles que O reconhecem. Há apenas um pecado que não se pode perdoar: a recusa consciente, o pecado contra o Espírito; a recusa consciente: mas parece uma hipótese quase impossível! Por isto, esta palavra, além de definir o mistério de Deus mais do que qualquer outra palavra, descreve também, talvez, um horizonte tão grande que é total.
Por isso, digo terminando, a liberdade de Deus obriga a liberdade do homem [...] à escolha [...]. Ora, este é o imperativo da vida, do humano na vida: aceitar a realidade assim como a liberdade de Deus a imaginou e criou. Tudo é amor, tudo é graça. [...] A liberdade é a capacidade de afirmar o ser, é a capacidade de afirmar o real."
(GIUSSANI, Luigi. La libertà di Dio, 2005, pp. 40-41)

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