segunda-feira, 28 de junho de 2010

A barca de Pedro


Por Pigi Colognesi

Amanhã será a festa de São Pedro, a festa do Papa. Há muito tempo se diz que a barca, cujo timoneiro é o Primeiro dos Apóstolos, atravessa águas agitadas e é sacudida de dentro por movimentos imprudentes que a fazem balançar. Nos jornais, aparecem sucessivamente investigações e furos jornalísticos variadamente credíveis e documentados; em muitos sopra o cheiro macabro de quem – como um abutre – se satisfaz apenas quando consegue manchar e destruir. Multidões de comentaristas se exercitam em pontificar – é mesmo necessário usar este termo – sobre causas e remédios da presumida “crise”; deixando frequentemente no leitor a amarga impressão de que estão falando de algo que, no fundo, não lhes interessa, algo do que, arrogantemente, saem fora. Como o fariseu do Evangelho que olhava de alto a baixo as misérias do pobre publicano, no fundo da igreja, pedindo perdão de seus pecados.
Do seu lugar, o atual sucessor de Pedro não cessa de manter o timão da barca firmemente apontado em direção à meta. Com coragem, lembra o essencial; como quando, em Lisboa, disse: “muitas vezes nos preocupamos afanosamente com as consequências sociais, culturais e políticas da fé, dando por suposto que a fé existe, o que é cada vez menos realista”. Sem hesitar, pede a nós, filhos da Igreja, a coragem de reconhecer o nosso pecado e fazer, seguros da misericórdia de Deus, a penitência necessária para purificar a barca da “sujeira” que nós mesmos trouxemos para ela e dos pesos que tornam difícil a sua navegação.
Um dos inúmeros comentários que os jornais dedicaram ao mundo católico tinha o seguinte título: “A Igreja do papa Ratzinger se salvará?”. Esteja tranquilo, jornalista (admitindo que isto lhe interessa, de fato): se salvará. E não tanto porque na sua história milenar tenha assistido a tempestades tão difíceis quanto a que está atravessando agora, ou porque tenha experimentado dolorosamente, no seu seio, divisões e traições muito mais graves do que as atuais. Salvar-se-á porque não é como uma multinacional que sofreu um revés nos negócios ou cujo administrador fugiu com o caixa; não é uma associação de pessoas bem intencionadas que perseguem um objetivo nobre e, de repente, se veem ultrapassados por outros naquele objetivou ou descobrem que alguns dos sócios pensas as coisas por conta própria; não é uma academia de estudiosos cujas teorias podem ser colocadas em discussão por qualquer das novas descobertas ou falhas de um experimento. Simplesmente, a Igreja – corpo de Cristo na história – está já salva e esta salvação é oferecida continuamente a todos.
Que, depois, a história tenha ido contra ela, castigando-a ou perseguindo-a, ou mesmo lhe tenha tributado triunfos e reconhecimentos, quem sabe até interessados, não muda a substância. Poderia acontecer como no final do Relato do Anticristo de Vladimir Soloviov: os habitantes da barca, reduzidos a poucos fiéis, o mundo que se desinteressa da proposta dos cristãos, os traidores que se multiplicam atraídos pelas seduções do poder ou oprimidos pelo medo. Sempre restaria a certeza inabalável no timoneiro; não por sua capacidade, mas porque foi eleito para isso. Sempre restaria alguém que teria a coragem de responder ao imperador do momento (e a seus cúmplices): “Grande soberano, o que temos de mais caro no cristianismo é Cristo mesmo. Ele mesmo e tudo o que vem dEle, já que sabemos que nEle habita corporalmente toda a plenitude da Divindade”.

* Extraído do IlSussidiario.net, do dia 28 de junho de 2010. Traduzido por Paulo R. A. Pacheco.

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