Eu não o teria feito. Não teria confirmado, por amor à clareza, o que eu escrevi, há alguns dias, com ímpeto e paixão, como súplica e invectiva, e que Giuliano Ladolfi criticou em uma coluna sua do sábado passado. Não voltaria sobre isso, se não fosse a bela entrevista com Emmanuel Mounier, publicada no domingo, 27 de junho, nestas páginas. Retomemos, porém, a ordem, para que o leitor que nos chegou agora possa entender. Alfonso Berardinelli, comentando um livro de De Michelis, no "Corsera", escreveu uma expressão importante: "A luta contra a mentira é impolítica". Bem, eu dizia, então se a política - ou seja, o lugar dos consensos e das maiorias e minorias - não é o lugar onde se decide o que é verdadeiro e o que é mentira, que lugar será esse? O coração, eu gritava. É a Bíblia que o diz. O coração entendido como sede mais profunda da nossa humanidade e do nosso relacionamento com o real e com o mistério. Mas, intelectuais - eu suplicava -, vocês que, finalmente, reconhecem que a verdade não depende e não se joga especialmente no campo político (onde é apenas manifestada e disputada), ajudem as pessoas a entender o que significa a palavra coração, tanto abusada quanto mal entendida, e ajudem a entender como é possível que o coração de um homem reconheça o verdadeiro. Muito trabalho intelectual nessas décadas se voltou para a afirmação de que é impossível o reconhecimento do verdadeiro, além de tentar convencer as pessoas que, no fundo, não temos nenhum instrumento para nos orientar na complexidade do real e da vida pessoal na busca pelo verdadeiro. Confundiu-se o coração com o sentimentalismo, separou-se razão e "affectus", colocou-se sobre o coração uma espécie de lápide feita de ceticismos. suplicava, e ainda o faço (não me interessam os debates sobre os intelectuais, mas sobre o que é conhecer a si mesmo), que o serviço intelectual atue ajudando o coração das pessoas. Se não é o coração que reconhece o verdadeiro, ficaremos dependentes da política (mesmo se entendida no sentido nobre de debate e consenso), quer participemos da política ativamente ou não. Se não dependemos do coração, dependeremos do "poder". Na sua última entrevista, Mounier lembrava disso: "Se não há nada de constante no homem, nada de irredutível, nada de sagrado, por onde passará e quem dirá qual é a fronteira do desumano?". É o coração que adverte e defende o irredutível presente em cada homem. É o coração que adverte (mesmo quando o êxito da discussão política seja diferente) por onde passa a fronteira do desumano. E que o demonstra na arte ou no gesto simples de uma mãe ou de um trabalhador. Para Ladolfi, o problema, porém, é a oposição entre sistema "emporiocêntrico" e a herança mais preciosa, segundo ele pensa, que é o "Humanismo". Em tal embate, diz Ladolfi, o intelectual que está do lado do Humanismo deve se comportar como testemunha. Certo, o intelectual que não é testemunha é menos credível. Mas, o testemunho depende do que se testemunha, a não ser que o reduzamos a uma palavra romântica, sugestiva, válida para cada conteúdo e para o seu contrário - quantos intelectuais testemunham visões opostas e mesmo mentiras aberrantes! O problema, segundo penso, continua sendo a maravilhosa e dramática capacidade de avaliação do coração.
* Texto extraído do jornal Avvenire, do dia 08 de julho de 2010 (p. 27). Traduzido por Paulo R. A. Pacheco.
Nenhum comentário:
Postar um comentário