segunda-feira, 4 de abril de 2011

O que quer dizer transmitir aos nossos alunos a poesia dos “grandes”?


Por Mauro Grimoldi

Caro editor,
Todos os dias, as crianças, do meio do tumulto dos bancos da escola, oferecem suas vozes para os grandes e o pequenos poetas. Porque assim há de ser: a poesia é obra acabada e não-acabada, ao mesmo tempo. Ela precisa, para voltar a nascer e crescer e se dar, de alguém que lhe dê voz, e que seja em voz alta.
Falando da obra-prima dantesca, Mario Luzi observa que “a Comédia dantesca é, entre as obras de arte, a mais ‘lida’ e, ao mesmo tempo, uma obra ainda por fazer, quero dizer, continuamente proposta à capacidade de reconstrução do homem e da sua inexaurível perfectibilidade”.
O simples ato de oferecer a própria voz, de participar nas palavras recebidas é, me parece, o primeiro, mas realizado, ato desta contínua reconstrução. Ato cognoscitivo e não acessório, visto ser realizado pela presença de quem já disse, o poeta, e de que, obedecendo, aprende a dizer.
Deste ato, nascem as palavras que permanecem na memória e, assim, simplesmente permanecendo, se ligam à experiência de quem as encontra e se deixam interrogar.
Pode acontecer, e acontece de fato, que este trabalho seja acompanhado da explosão inesperada e potente da comoção, ou da emoção, como que por uma imprevista erupção do ânimo.
Todavia, é a fidelidade, a duração, a capacidade que marca o progredir rumo à maturidade.
O homem cresce no difícil exercício da rotina, como quem vive num terreno áspero e fértil: “permanecer, perseverar na nua, hostil, cinza realidade, até ao momento em que ela revele, ao fiel e ao paciente, seu rosto íntimo. Isto é árduo. Hic labor, escreve Hans Urs Von Balthasar.
A paciência do pardal de Pascoli ganha o mundo, porque conhece a alegria do renascimento, enquanto que a andorinha cigana repete os cantos exóticos que aprendeu, mas não sabe a alegria “da neve, o dia em que degela” (o autor se refere à poesia Myricae, de Giovanni Pascoli: “Scilp: i passeri neri su lo spalto / corrono, molleggiando. Il terren sollo / rade la rondine e vanisce in alto: / vitt. . . videvitt. Per gli uni il casolare, / l’aia, il pagliaio con l'aereo stollo; / ma per l’altra il suo cielo ed il suo mare. / Questa, se gli olmi ingiallano la frasca, / cerca i palmizi di Gerusalemme: / quelli, allor che la foglia ultima casca, / restano ad aspettar le prime gemme. / Dib dib bilp bilp: e per le nebbie rare, / quando alla prima languida dolciura / l’olmo già sogna di rigermogliare, / lasciano a branchi la città sonora / e vanno, come per la mietitura, / alla campagna, dove si lavora. / Dopo sementa, presso l’abituro / il casereccio passero rimane; / e dal pagliaio, dentro il cielo oscuro / saluta le migranti oche lontane. / Fischia un grecale gelido, che rade: / copre un tendone i monti solitari: / a notte il vento rugge, urla: poi cade. / E tutto è bianco e tacito al mattino: / nuovo: e dai bianchi e muti casolari / il fumo sbalza, qua e là turchino. / La neve! (Videvitt: la neve? il gelo? / ei di voi, rondini, ride: / bianco in terra, nero in cielo / v’è di voi chi vide . . . vide... videvitt?) / La neve! Allora, poi che il cibo manca, / alla città dai mille campanili / scendono, alla città fumida e bianca; / a mendicare. Dalla lor grondaia / spiano nelle chiostre e nei cortili / la granata o il grembiul della massaia. / Tornano quindi ai campi, a seminare / veccia e saggina coi villani scalzi, / e - videvitt - venuta d’oltremare / trovano te che scivoli, che sbalzi, / rondine, e canti; ma non sai la gioia / - scilp - della neve, il giorno che dimoia.”; ndt).
Tantae molis erat Romanam condere gentem (Eneide, I, 33, “custava muito fundar o povo romano”), Tantae molis erat se ipsam cognoscere mentem (“custava muito à mente conhecer a si mesma”), parafraseava Hegel.
Agora, mais do que nunca, aqui, nas costas áridas do mundo, onde a única ginestra que resplandece e perfuma não é mais acolhida como sinal, mas pequeno oásis de sentimento num inferno sem significado, é preciso, como foi para São Bento, que o heroico se torne cotidiano e que o cotidiano se torne heroico.
Interpreto assim a minha tarefa de adulto e professor.

* Extraído do IlSussidiario.net, do dia 2 de abril de 2011. Traduzido por Paulo R. A. Pacheco.

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