quarta-feira, 29 de junho de 2011

Entendi, com meus alunos, o que é a escola...


Por Mario Caponnetto

Depois de seis anos ensinando no Centro de Formação Profissional In-presa, neste ano me perguntei qual a incidência que os adultos têm no percurso dos jovens e, sobretudo, qual a incidência que os professores têm entre os alunos, visto que, frequentemente, o professor é uma figura a ser suportada mais do que alguém de quem se aprende algo. Buscando responder a estas perguntas, li com atenção as redações de fim de ano, das quais consegui uma ajuda para julgar, de modo realista, o meu percurso como professor.
Dei-me conta de que aconteceu uma experiência verdadeiramente educativa, porque foram respeitadas certas condições.
Antes de mais, nada daquilo que aconteceu foi censurado, porque tudo foi acolhido e julgado. “Durante o estágio, tive alguns desentendimentos com Marco e Mathias e, às vezes, a vontade de ir trabalhar ia embora”, diz Simone, aluno do I Elétrico; da mesma forma, Mirco, seu colega de sala, que na carta final na qual faz um resumo de como o ano passou, escreve: “Cara Emilia, eu me chamo Mirco e estou na escola há um ano. Gostei muito, mesmo tendo tido alguns desentendimentos com os professores por causa dos meus modos de estar em sala”. Os desentendimentos acontecem, mas não são tudo, se forem julgados: podem representar um passo verdadeiro em direção a uma conquista maior.
O primeiro modo de julgar os limites é aceitá-los, como diz Luigi acerca de seu tutor na empresa: “Cara Emilia, sou Luigi... os meus pontos de referência mais importantes foram os tutores na empresa, particularmente Rossano. Ele foi muito mais do que alguém que me deu um trabalho, porque, mesmo sendo consciente das minhas escassas capacidades, me aceitou e elogiou por aquilo que fiz”.
É apenas assim que se descobre que alguém pode lhe dar uma mão, que você não está sozinho com o seu limite, mas que pode olhá-lo de frente. “No início, eu me sentia sem lugar, a minha situação era parecida com a de um peixe fora d’água, eu tinha sido colocado na cozinha sem ao menos saber as técnicas básicas, eu me sentia inútil... Esta situação melhorou mês após mês, até atingir a autonomia nas tarefas mais elementares e superar problemas que, no início, me pareciam intransponíveis. Giacomo me deu uma mão e tanto”, disse Riccardo do I Auxiliar de Cozinha. Gabriele, um aspirante a eletricista, diz algo parecido: “No laboratório, não sou muito prático, mas os professores me dizem que é normal, de fato aprendi muitas coisas que eu não sabia, e para im isto quer dizer que tenho satisfações”.
Eis outra grande descoberta: posso estar diante dos meus limites apenas se tem alguém que me ajuda a olhar para eles, alguém que vê mais, que vê na frente. O adulto se encontra ali para me ajudar a olhá-los, não para censurá-los; por isto, é alguém que me deixa mais livre, como disse Cristian: “O tutor na empresa sempre me fez sentir em casa, me fez sentir livre para aprender e errar! Teve muita paciência, visto que, no início, eu era como uma criança que engatinha, não sabia caminhar”. É um adulto que ajuda a ver a realidade, que introduz na realidade, até dentro dos aspectos mais difíceis, aqueles a que é necessário se habituar: “Durante o primeiro mês de estágio, eu não estava satisfeita com meu trabalho. Quando comecei a me habituar com os horários e os tempos do restaurante, comecei a me sentir satisfeita com o meu trabalho”, disse Giulia.
O adulto, de um lado, faz entender o valor da fadiga que deve realizar, mas, de outro, oferece a possibilidde de se apaixonar por um pedaço da realidade, como nos testemunha Carlos: “A minha matéria preferida é Cidadania, uma matéria muito importante, porque nos mantém sempre informados de coisas interessantes”. Também Michael se interessou por uma matéria: “A minha matéria preferida é Inglês; tendo uma garota tão bonita como professora, é possível fazer as tarefas melhor e com mais vontade”. É uma paixão que tem que ver com a descoberta do belo, às vezes através do rosto de uma bela professora, mas tem que ver também com uma gratificação, como disse Stefano: “Por hora, o prato que mais gostei de fazer foi a crostata. Mais do que um prato, é um doce e digo que me dei muito bem porque o professor me disse isso, ele havia dito também que era melhor do que a que ele havia feito”.
Depois de ter descoberto uma paixão, um professor, um tutor, Alessandro, um aluno do segundo ano, chegou a dizer: “Para mim, o estágio é como uma partida de futebol: é bonito, mas cansa”. E Niccolò chegou a falar da escola em termos quase poéticos: “para definir a escola eu usaria a metáfora da neblina, porque a neblina, depois de um tempo, se dissolve. Quando cheguei aqui, não sabia nada, mas agora estou começando a entender esta profissão, exatamente como a neblina que se dissolve”.
Pode acontecer que um aluno entenda mais o que quer fazer e decida mudar o percurso: “Cara Emilia, me chamo Simone, sou do II B Elétrico e tenho 16 anos. Este ano foi bom. Consegui encontrar minha pérola! No início do ano, tive a oportunidade de ver se o eletricista era o meu caminho e, de fato, não era; assim, experimentei o curso de arquivista, mas também este não era o meu caminho. Assim, escolhi seguir a minha paixão, ou seja, estar em contato com os animais e fiquei bem. [...] Quem sabe, quando eu estiver grande, poderei me especializar como adestrador”. Pode acontecer também que se abra algo que estava fechado há tempos ou que, talvez, nunca se tenha aberto: “Sempre fui uma garota daquelas que odeia estudar, mas esta escola conseguiu me fazer abrir a vontade de estudar, de conhecer e aprender a história das paixões que tenho dentro de mim, daquilo que escolhi como o trabalho do meu grande futuro”, disse Yuney, aluna do I Auxiliar de Cozinha.
Por isto, Mattia, depois de ter descoberto que pode enfrentar os seus limites sem censurá-los, depois de ter descoberta que também ele pode ter uma paixão, que tem alguém pronto a acolhê-lo e a ensinar-lhe uma profissão, pode dizer: “Para mim, este ano voou, sem que eu nem me desse conta”.
Portanto, o que é a escola? Marco é quem explica muito bem: “Cara Emilia, estou freqüentando a sua escola porque quero ter um futuro, ser alguém, mesmo porque ser garçon é o que eu sempre quis fazer, e esta escola, a sua escola, me permite realizar este meu sonho”.

* Extraído do IlSussidiario.net, do dia 28 de junho de 2011. Traduzido por Paulo R. A. Pacheco.

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