sábado, 25 de fevereiro de 2012

A Quaresma com os santos

A amizade de Deus

Do Tratado contra as heresias, de Santo Irineu, bispo (Séc. II)
(Lib. 4,13,4-14,1: Sch 100, 534-540)  

Nosso Senhor, o Verbo de Deus, que primeiro atraiu os homens para serem servos de Deus, libertou em seguida os que lhe estavam submissos, como Ele próprio disse a Seus discípulos: Já não vos chamo servos, pois o servo não sabe o que faz o seu senhor. Eu vos chamo amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai (Jo 15, 15). A amizade de Deus concede a imortalidade aos que a obtém. No princípio, Deus formou Adão, não porque tivesse necessidade do homem, mas para ter alguém que pudesse receber os Seus benefícios. De fato, não só antes de Adão, mas antes da criação, o Verbo glorificava Seu Pai, permanecendo nEle, e era também glorificado pelo Pai, como Ele mesmo declara: Pai, glorifica-me com a glória que eu tinha junto de Ti antes que o mundo existisse (Jo 17, 5). Não foi também por necessitar do nosso serviço que Deus nos mandou segui-Lo, mas para dar-nos a salvação. Pois seguir o Salvador é participar da salvação, e seguir a luz é receber a luz. Quando os homens estão na luz, não são eles que a iluminam, mas são iluminados e tornam-se resplandecentes por ela. Nada lhe proporcionam, mas dela recebem o benefício e a iluminação. Do mesmo modo, o serviço que prestamos a Deus nada acrescenta a Deus, porque Ele não precisa do serviço dos homens. Mas aos que O seguem e servem, Deus concede a vida, a incorruptibilidade e a glória eterna. Ele dá Seus benefícios aos que O servem precisamente porque O servem e aos que O seguem precisamente porque O seguem; mas não recebe deles nenhum benefício, porque é rico, perfeito e de nada precisa. Se Deus requer o serviço dos homens é porque, sendo bom e misericordioso, deseja conceder os Seus dons aos que perseveram no Seu serviço. Com efeito, Deus de nada precisa, pois o homem é que precisa da comunhão com Deus.  É esta, pois, a glória do homem: perseverar e permanecer no serviço de Deus. Por esse motivo dizia o Senhor a Seus discípulos: Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi (Jo 15, 16), dando assim a entender que não eram eles que O glorificavam seguindo-O, mas, por terem seguido o Filho de Deus, eram por Ele glorificados. E disse ainda: Quero que estejam comigo onde eu estiver, para que eles contemplem a minha glória (Jo 17, 24).

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