quinta-feira, 2 de abril de 2009

Cartas do P.e Aldo 12


Posto a última carta do P.e Aldo, que voltou recentemente da viagem que fez à Europa. Depois, retomo o ritmo de traduções, postando as cartas mais antigas.


Asunción, 31 de março de 2009.


Caros amigos,
gostaria de agradecer ao Senhor e à Nossa Senhora, com vocês, agora que retornei da viagem à Itália: uma autêntica peregrinação medieval!
O motivo dessa custosa alegria foi fundamentalmente determinado pelo desejo de que o caro amigo, o atual Vice-Presidente da República, D.r Federico Franco, pudesse conhecer o coração de Comunhão e Libertação.
E aconteceu assim.
Primeiro, encontramos o Santo Padre, que nos acolheu com uma felicidade que me comoveu. Pude, brevemente, contar-lhe quem sou e o que o Bom Deus está fazendo, através deste pobre homem. Não esquecerei nunca mais o seu olhar, as suas expressões cheias de afeto. Dar a vida por este homem é o primeiro sentimento que me tomou.
Como continuidade deste encontro, fomos recebidos, em Milão, por Julián Carrón.
Desejava muitíssimo que o Vice-Presidente visse Giussani, conhecesse diretamente aquele a quem Dom Giussani – como há 2000 anos, Jesus fez com Pedro – conferiu a responsabilidade de guiar um povo nascido do seu carisma. Não sei como agradecer ao Carrón pelo tempo que nos doou, dialogando com simplicidade – como Jesus fazia com os humildes de coração – com o D.r Franco, que estava curioso e cheio de perguntas. Esse momento, como o momento com o Papa, suscitou um mesmo sentimento em mim: “Senhor, te ofereço a minha vida e a dos meus doentes por este homem grande porque humilde, isto é, porque se vê que vive tocado pelo Mistério, se vê a sua familiaridade com Cristo”. E a clareza como falava, a ternura do seu olhar, a humanidade com a qual nos abraçava são a evidência disso. Impressionou-nos a sua liberdade: um homem que, como Abraão, está diante do Mistério. Dar a vida por ele e pelo Santo Padre são as razões da minha vida e o meu “obrigado”, porque sem esses dois homens a nossa vida se reduziria à vida dos ex-combatentes que continuam a se encontrar, como os alpinos, vivendo das recordações e dos frascos de vinho. Usando uma outra metáfora: a nossa vida se reduziria a sustentarmo-nos antes de cair na tumba.
Destes dois momentos, que comoveram o Vice-Presidente, aconteceram os outros encontros com a vida de CL: a Escola de Comunidade com Maurizio Lupi (Vice-Presidente da Câmara de Deputados italiana; ndt) e os parlamentares em Roma; o encontro com Fini e Lupi no Parlamento; o encontro com Alemano; com o Centro Internacional; com Roberto Fontolán e seus amigos; com Monsenhor Camisasca (fundou a Fraternidade Sacerdotal dos Missionários de São Carlos Borromeu e é, atualmente, seu superior; ndt) – um encontro belo e significativo, que nos permitiu ir até o coração da Fraternidade São Carlos Borromeu e nos darmos conta do porque nós três, padres (P.e Aldo, P.e Paolino e P.e Daf, missionários no Paraguai; ndt), somos o que somos. Os dois dias em Riva del Garda, onde ele ficou impressionado de ver como CL educa também àqueles que estão empenhados com a política: “Nunca teria imaginado que na Europa pagã existissem políticos que vivem com uma consciência grande da própria fé, sem vergonha e viendo cada gesto na certeza de que Ele está aqui”. Em suma, o Vice-Presidente voltou para o Paraguai com a decisão de que também aqui reaconteça o mesmo acontecimento, já presente na nossa companhia de São Rafael. “Agora, compreendo porque vocês são assim, porque a paróquia é assim... e é, para mim, um modelo de como viver também em nível de governo”.
Os dias a mais em que fiquei na Itália foram uma alegria, porque estava na companhia dos meus caros amigos Marcos, Cleuza e Julián de la Morena (padre da Fraternidade São Carlos Borromeu, atualmente responsável pelo Movimento Comunhão e Libertação em São Paulo; ndt). Fomos a Barcelona, Monserrat, Santiago de Compostela, Burgos e ao encontro em Madri. Em Barcelona, o encontro com a comunidade e com Sotoo (Etsuro Sotoo é escultor e se converteu trabalhando na obra da Catedral da Sagrada Família, de Gaudí; ndt), o escultor da Sagrada Família... um banho de Escola de Comunidade.
O encontro na Basílica Santa Maria del Mar – uma igreja gótica belíssima – nos permitiu explicar, através da experiência de seguir a Carrón, como mesmo a crise atual é uma graça, como nos lembrou o Evangelho do Quinto Domingo da Quaresma, quando Jesus diz a Marta que a “doença do irmão Lázaro é para que seja reconhecida a glória de Deus”. É como dizer – e a Escola de Comunidade nos lembra isso claramente – que a esperança é a glória de Deus, da qual nasce, inclusive, a segurança no caminho. Então, o problema é apenas um: a pergunta que Jesus faz a Maria: “você acredita nisso?”. Importa lembrar que ela tinha diante de si o corpo já mal-cheiroso do irmão. E ela: “Sim, Senhor, eu acredito”. Eis aí! A crise serve para que o homem, finalmente, reconheça que é relação com o Mistério, não é senhor do mundo, é criatura. O problema é “você acredita nisto?”. Você acredita, acreditamos que nunca, como nesse momento histórico, foi nos dada uma ocasião mais bonita para abrir novas portas, ver novos horizontes, encontrar aqueles sinais inconfundíveis da Sua Presença? Pensando na minha vida e na de Marcos e Cleuza, com entusiasmo, a cada dia, podemos dizer: “Sim, Jesus, eu acredito”.
Uma semana com estes amigos, retomando sempre aquilo que o Carrón nos diz, permitiu descobrir também o modo com o qual Giussani nos educava à beleza, ao valor de cada gesto, do detalhe, da comoção diante da realidade.
Os dois grandes encontros – de Carate e Lecco – foram uma ajuda para mim e para todos: perguntamo-nos como estamos diante da realidade, do Mistério, do fato; se seguimos com afeto a Carrón, a fim de que aquela febre de vida, da qual falava Giussani, nos tome e consuma. Agradeço comovido a estas duas grandes comunidades, por me terem testemunhado um frescor no viver e o desejo de seguir àquele que nos permite dizer: “Giussani está vivo, está presente, atua”. Como também o grupo do CLU (Comunhão e Libertação – Universitários; ndt) de Canton Ticino ou de Varese, os amigos de Carrón, que vieram me encontrar na casa do D.r Sega. Foi como rever os Zerbini que, a cada mês e meio, movidos apenas pela amizade, vêm me encontrar. E, depois, os tantos diálogos com outras pessoas... com gente como Scoppa, que nos levou, junto com Marcos e Cleuza e Julián de la Morena, a Roma e a Assis, vindo de Roma a Milão para nos levar consigo.
Foi mesmo bonito ver uma nova primavera no Movimento. “Um movimento no Movimento”, diria Giussani. E isso graças às pessoas que, com alegria, queremos seguir a Carrón que, com clareza, em cada momento, nos conduz ao coração do eu. Uma garota do Grupo Adulto (como é conhecida a realidade dos Memores Domini, leigos que consagram a vida por Cristo, a partir do carisma de Comunhão e Libertação; ndt), me dizia: “seguindo a Carrón, voltei a florescer, depois de anos de envelhecimento”.
O seu chamado de atenção à concretude do eu, do coração como critério infalível e objetivo, ao eu como relação com o Mistério, à realidade como lugar do eu, à familiaridade com Cristo etc., é, de fato, o aspecto mais real, mais concreto da vida. É disso e apenas dessa concretude que temos necessidade. Do contrário, aquilo que chamamos “concretude”, no máximo, será abstração e preconceito.
Os problemas, a crise, “virgindade, sim ou não?”, “matrimônio, sim ou não?” etc. ... tudo o que vivemos, apenas nesta concretude a que nos reconduz Carrón, encontra a sua clareza de caminho.
Temos necessidade dele, porque ele nos diz: “Eis aí todo o problema: o eu, o eu como coração, é a realidade, é o seu relacionamento com o Mistério, é a sua familiaridade com Cristo”. E ainda nos diz: “olhe para isso, olhe aquilo... não vê os sinais inconfundíveis da Sua Presença, que lhe recordam a possibilidade do Cristianismo mesmo para você?”.
Um abraço a todos e obrigado de coração.
P.e Aldo.

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