sábado, 18 de abril de 2009

Cartas do P.e Aldo 27

Asunción, 05 de janeiro de 2009.

Caros amigos,
Hoje, Celeste é testemunha da grandeza da Misericórdia Divina. Nela, há 11 anos, o mal (refere-se à sua leucemia; ndt) não pemitiu que entrasse um outro mal pior no seu coração: o mal de duvidar do rosto bom do Mistério; o mal da falta de confiança... confiança que, mesmo para um “condenado à morte” – como foi declarada ela, pelos médicos –, permite ver tudo o que lhe acontece como estupendamente positivo, como parte de um desígnio bom que nos é dado já experimentar. Se os hospitais não existissem por isso, para que serviriam?
Ontem, internamos um travesti com AIDS, tuberculose, abandonado num canto de um hospital. Há tempos não comia e não tinha ninguém que se interessasse por ele. Tão logo pôs os pés aqui, e sentindo-se abraçado e beijado, disse: “já estou ressuscitado”. Pediu que lhe cortassem os cabelos loiros, as unhas de mulher e que lhe tirassem o esmalte. Hoje, ele pediu para se confessar. Isto sim é um hospital como a Igreja nos ensina: “o pobre não é um fardo, mas um irmão” (em italiano, a frase tem um jogo de palavras que não conseguimos traduzir: “il povero non è un fardello, ma un fratello”; ndt).
Mas, voltemos a Celeste. Hoje, depois de anos de silêncio, ela pronunciou a primeira vogal: “A”! E a está repetindo continuamente. Além do mais, já recomeçou a escrever e a fazer contas de adição e de subtração... Que belo! Que comoção! Ela veio para cá para ser sepultada.
Como é possível viver sem se comover até as lágrimas, como Marcos Zerbini quando veio até aqui... e que, nos próximos dias, encontrarei em São Paulo, para estar na sua companhia e na de Cleuza... que depois virão aqui, de novo, entre o dia 17 e o dia 22 de janeiro, com 30 universitários para gozar daquela certeza: “eu sou Tu que me fazes”, contemplando os doentes e visitando, juntos, as reduções que, para nós, são como São Bento e São Francisco foram para a Europa.
Um abraço
P.e Aldo.

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