quarta-feira, 6 de maio de 2009

Cartas do P.e Aldo 47


Asunción, 06 de maio de 2009.

Caros amigos,
hoje, depois de cinco dias belíssimos e comoventes – nos quais revivemos aquela audácia ingênua dos primeiros anos do Movimento, porém uma audácia madura –, Marcos e Cleuza e os seus e nossos outros amigos (coordenadores do Movimento de Marcos e Cleuza) voltaram para o Brasil.
Com eles, tivemos a graça de ter entre nós os padres Vando e Julián de la Morena (este último, um verdadeiro irmão para mim). Vivemos, experimentando instante por instante, o que eles viveram nos Exercícios de Rímini (refere-se aos Exercícios da Fraternidade de Comunhão e Libertação, que acontecem todos os anos; ndt). Eu diria que tocamos com a mão aquilo que aconteceu em Rímini, porque o verificamos, dia após dia, nas circunstâncias que vivemos juntos. O nosso “eu” em ação permitiu verificar isso: “da fé, um método”. Que espessura palavras tais como “humanidade”, “fé”, “método”, “critério”, “juízo” tiveram para nós nestes dias. Cinco dias de explosão humana, compartilhando o comer, a vida da clínica, dos velhinhos, das crianças e da Casinha de Belém, a vida deste povo (150) que trabalha nas obras da Paróquia, e na vida de toda a Paróquia. Cada instante foi como experimentar a familiaridade de Cristo. Sintetizar o que vivemos, para mim, é impossível. A única coisa que eu poderia dizer é: há anos, eu não chorava de comoção, pelo fato de que a Providência me tenha dado estes amigos... Como eu gostaria que cada um de vocês pudesse viver um relacionamento como aquele que me foi dado com Marcos e Cleuza, Julián de la Morena e o seu povo.
1. Em cinco meses, eles já vieram aqui três vezes. Entre nós, desde que nos conhecemos (graças às indicações de Carrón), nos vemos a cada mês. Este é um milagre que Deus presenteia quando um homem é sério em cada instante com a própria vida. Sem dramaticidade nada nasce e tudo se torna banal.
2. “Encontrando Marcos e Cleuza e os seus amigos, eu entendi que o Movimento é para todos”, testemunhou um dos garotos da paróquia que, junto com P.e Paolino e outros três garotos, fez 50 horas de carro para ir do Paraguai para o Brasil, a fim de participar do encontro de fevereiro, no Ibirapuera, em São Paulo.
3. “Nós viemos ao Paraguai para aprender a olhar para cada homem, como aqui são olhados os doentes. Aqui, em São Rafael, existe apenas dor, sofrimento e uma pessoa se desesperaria ao ver este oceano de dor; aqui, não tem nada de ‘belo’, porque a dor não é bela; as crianças abandonadas não são uma coisa bela, os velhos abandonados e alcoolizados não são uma coisa bela, os doentes de AIDS, de câncer, que morrem não são uma coisa bela. Aqui, não tem nada de belo. Porém, existe a beleza: a evidente Presença de Cristo. Aqui, é impossível não ver, não tocar, abraçar a Cristo. Aqui, o olhar de Cristo nos toma. E, por isso, nestes cinco meses, viemos aqui já três vezes e, dessa vez, trouxemos os nossos amigos mais próximos, para que vejam, toquem, a familiaridade com Cristo”.
4. Carrón... seguir a Carrón foi o refrão comovente de cada instante. Com Jesus, Carrón foi o nome mais afirmado nestes dias. Jesus e Carrón foram a presença mais familiar nestes dias.
5. Os testemunhos dos amigos de Marcos e Cleuza desconcertaram e marcaram todas as pessoas da paróquia. Que histórias de dor, de solidão... e, agora, de uma beleza única!
6. “Vi gente morrendo feliz... e isto me ajuda a crescer na minha humanidade. É impossível não dizer ‘Tu’ diante do que acontece aqui. A única coisa que nos interessa é dizer sempre, com maior consciência, ‘Tu’ a Cristo. Existe um segredo para que isso aconteça: a disponibilidade de dar a vida pelos outros, pela obra de OUTRO. Quem quer encontrar a vida deve perdê-la, disse Jesus. Eu preciso da amizade de vocês. É fácil dizer ‘tenho tanta fé’, mas quando, depois, estamos diante da dor, perdemo-nos porque não temos fé, de fato. Antes, erámos determinados pelos problemas. Agora, partimos da Ressurreição de Cristo. Cristo fazia ver Deus em tudo, como nos contam os evangelhos. Os pássaros, os lírios do campo não trabalham, mas o Pai que está nos céus trabalha e se ocupa de cada um. Carrón nos diz sempre que somente as pedras não se comovem... por isso, quando eu estou no Parlamento (é Marcos Zerbini quem está falando), a única coisa que me interessa é Cristo, a beleza de Cristo. Dar a vida pelo próprio coração. Como? 1) Estando nesta companhia, nesta amizade na qual são evidentes os sinais inconfundíveis da Sua Presença. 2) Obedecendo ao coração. O coração é o juízo: ‘eu sou Tu que me fazes’, como nos repete sempre o padre Aldo. E, aqui, se vê isso muito bem”.
7. Dia desses, quando estávamos na fazenda para um dia de convivência entre os responsáveis da nossa obra os coordenadores da obra de Marcos e Cleuza, no carro com padre Paolino, a um certo ponto, Cleuza perguntou: “Quanto custa para vocês uma criança da Casinha de Belém por mês?”. Na hora, eu não entendi e respondi ao acaso: “mais ou menos trinta dólares”. E eles: “Padre Aldo, decidimos com o nosso pessoal, adotar todos as suas crianças das Casinhas de Belém, e mandaremos para você, a cada mês, mil dólares. A nossa amizade, que nasce da familiaridade com Cristo, é um dom e deve chegar até este ponto. Vocês vivem de caridade, vivem com quem não lhes pode ajudar, com quem não é autônomo... e nós queremos ajudar vocês”. Olhamo-nos – Paolino e eu – com os olhos rasos d’água. O que dizer? Somente com amigos assim, protagonistas em tudo, o mundo muda. Juro para vocês que não sei descrever o resto do dia... mas, sinceramente, eu diria com Jesus: “nunca vi tanta fé, tanto amor, como nesta mulher”. Vocês se lembram desse fato do evangelho?
Agora, eu entendo porque Marcos e Cleuza responderam ao jornalista que lhes perguntou “por que vocês vieram pela terceira vez ao Paraguai?”: “Porque corremos para onde vemos com maior clareza a presença de Deus, o rosto de Cristo. Voltamos aqui proque, aqui, podemos tocar com mais intensidade o manto de Cristo. Em nenhum outro lugar é assim evidente, assim intensa a Presença de Cristo”.
8. Um dia, enquanto Cleuza estava cozinhando, eu cheguei e disse: “Marcos, Cleuza, Dionísio acabou de morrer de AIDS!!”. E a resposta de Cleuza, enquanto preparava a comida: “Encontrou Jesus, padre”.
Esta é a familiaridade com Cristo.
Com afeto,
P.e Aldo.

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