sexta-feira, 8 de maio de 2009

Cartas do P.e Aldo 48


Asunción, 07 de maio de 2009.

Caros amigos,
Os sinais inconfundíveis do Mistério são uma Presença comovente a cada dia.
1. Olhem a nova criança internada na clínica: sozinho no mundo e doente. Jesus me deu ele de presente. Quanta dor! Mas também quanta beleza no rosto sofredor de Jesus que é o meu pequeno Jonny. Fomos buscá-lo num vilarejo, sozinho e abandonado. Olhem para ele: é o sinal claro de que o Mistério se ocupa de cada um de nós. Vocês se lembram do chamado de atenção de Carrón, quando nos lembra a frase de Jesus: “até mesmo os cabelos da vossa cabeça estão todos contados”?
2. Ontem, quando cheguei à Escola de Comunidade, à noite, estavam trabalhando o ponto “sonho e ideal”... Durante a leitura de todo o ponto, olhando os rostos deles me dei conta de que iam se iluminando, pois o ideal se fez potentemente presente.
3. Esta manhã, acompanhei ao cemitério o segundo rapaz morto de AIDS em dois dias. Uma história terrível e uma morte santa. Abandonado por todos, vivia com uma companheira com as mesmas tendências sexuais. Sozinho no mundo, com uma vida desordenada, quando então não havia mais nada para fazer, o “jogaram!” num centro médico, onde foi discriminado, maltratado até entrar em coma.
Ver no seu corpo os sinais desses maltratos foi, para mim, doloroso. Os seus “companheiros” o trouxeram para cá em condições desumanas.
Dei-lhe o batismo e a crisma. Ao ouvir as palavras “eu te batizo...”, ele abriu os olhos e tentou falar. Passava das 20h. Às 08h da manhã do dia seguinte estava morto. Morto como um anjo, com a inocência de uma criança que acabou de ser batizada.
Pensem que bonito! Nós lhe demos o nome de César e tinha 30 anos. Uma vida violenta, uma vida de cão... e uma morte de santo.
De fato, “poderá uma mulher abandonar o seu filho? Eu, porém, não me esquecerei nunca de ti”, disse o profeta.
Agora, ele está entre os meus, sepultado no cemitério, esperando a Ressurreição.
Rezem por César.
Amigos, quanta dor me circunda! Marcos e Cleuza tinham razão: aqui, de belo, existe apenas a Presença de Cristo. Mas, vocês entendem o que isso significa? Para mim, é tudo: porque vivo apenas dEle e, sinceramente, tenho um grande desejo de vê-Lo face a face... depois de toda esta dor.
Rezem por mim e pelos meus doentes.
P.e Aldo

“Aqui, não tem nada de bonito. Aqui, tudo é desgraça. O que há de belo é o olhar de Cristo a esta humanidade abandonada. P.e Aldo faz um ‘trabalho pesado’. O que é bonito é o seu olhar: é bonito ver as desgraças dos outros? Não. Aqui, tem uma desgraça total. De belo há apenas o olhar de Cristo” (extraído da entrevista com Cleuza).

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