Asunción, 22 de setembro de 2008.
Caros amigos,
“Começar o dia quando o sol ainda está dormindo”, porém olhando para o verdadeiro sol que ilumina – Jesus Eucarístico, exposto tanto na paróquia quanto na clínica, 24 horas por dia – e respirar o perfume do milagre cotidiano.
Como a cada segunda-feira, esta manhã, pontualmente, como um relógio, escoltado até o pescoço, chegou o Vice-Presidente da República – nestes dias, Presidente interino, já que Lugo está nas Nações Unidas – para rezar as laudes e ficar alguns minutos em adoração diante do Santíssimo. Éramos ele, a sua escolta e eu, já que Padre Paolino está na Argentina. Dessa forma, o Vice-Presidente fez o leitor e eu o resto. Em seguida, tomamos café da manhã juntos, como a cada segunda-feira. Uma ocasião para ver os fatos acontecidos e preparar a semana. Por exemplo, nesta manhã, foi interessante ver os pontos que o presidente Lugo sublinhou no seu discurso diante da Assembléia da ONU, particularmente sobre os temas do terceiro mundo. Pontos que refletem a doutrina social da Igreja. Interessante até mesmo a aproximação com o Presidente Lula e, espero, o progressivo distanciamento de Chávez. “Lugo é Lugo e Chávez é Cháves”, disse ele antes de partir.
Em suma, é impressionante como um pobre padre, dois pobres padres (também P.e Paolino) que levam a sério aquilo que Carrón nos diz, se arriscam de ser o pólo positivo até mesmo do governo.
Tudo isso me comove, porque é o acontecer da profecia que foi Giussani. Graças ao seu amor a Cristo e à Igreja, graças à sua clareza humana, à sua “audácia ingênua” muito distante de tantos clericalismos que enchem a cabeça e o coração, nos instilou até o miolo uma coisa: o problema é o eu no seu relacionamento com o Mistério. E desta identidade, uma capacidade de dialogar com todos, abraçar, valorizar tudo. Até chegar a este este momento, no qual mais uma vez o Presidente interino reiterou a sua estima e o interesse do Executivo em colaborar totalmente com esta comunidade... e nos encontrarmos com o braço direito de um dos maiores empresários latino-americanos do grupo Vierci.
O motivo do encontro: o conselho administrativo do grupo Vierci decidiu financiar o nosso jornal “O observador da semana”, que sai a cada quinta-feira com o jornal “Ultima Hora”, e o livrinho do Papa que sai a cada última sexta-feira do mês no mesmo jornal (trata-se de uma publicação com todos os discursos do Papa, a cada mês). A decisão do conselho administrativo se baseia no fato de que, graças a estes dois instrumentos (20 mil cópias a cada semana, num país quase analfabeto, com 6 milhões de habitantes) as vendas do jornal quase duplicaram.
Uma coisa do outro mundo no terceiro mundo, no qual o drama não é tanto econômico, mas educativo. Sou infinitamente grato a Giussani por nos ter educado a publicar a cada semana, como mínimo, um juízo sobre aquilo que estava acontecendo. E são quase 30 anos que, da mesma forma como me confesso a cada semana, exprimo publicamente um juízo, a partir da Escola de Comunidade, sobre aquilo que acontece. Assim, de um folheto, passando por um boletim paroquial, chegamos a um jornal semanal, com juízos cheios de autoridade sobre a sociedade que serve de instrumento catequético até mesmo nos vilarejos mais perdidos (onde é fotocopiado e levado para a selva).
Não bastasse isso, eles acrescentaram: “o senhor Vierci (o empresário), quer abrir conosco um hospital completo com 150 quartos, moderno e para os pobres. Ele fará tudo e pede para vocês a gestão, a partilha humana”. Obviamente comecei a rir... mas o seu representante disse: “Mas, nós não estamos brincando... confiamos em CL e, em breve, traremos o projeto”. Coube-me apenas dizer-lhe: “mandarei tudo para os meus amigos responsáveis de CL. Eles verão tudo e dirão o que pode ser feito”. E fiz isso imediatamente, porque são coisas muito grandes para homens pequenos assim como somos nós, aqui. Porém, muito além do que possa acontecer (é um problema da Divina Providência e não meu), o importante é ver como, levando a sério o próprio eu com relação com o Mistério, a realidade nos busca, nos quer, nos deseja. Uma coisa inimaginável para nós, para vocês, porque não fomos nós que procuramos, fizemos ou projetamos... pelo contrário, preocupamo-nos apenas com o nosso “eu” e com o fato de que este “eu” esteja bem... porém, exatamente por isso, a realidade nos procura e exige respostas. E a única resposta é levar ainda mais a sério o próprio “eu” e confiar aos amigos mais velhos todo o resto. Será, no final, sempre como Deus quer... é Ele quem realiza... como, a cada dia, eu toco com a mão. A companhia das obras que vive aqui, na nossa comunidade, nasceu e vive assim: levando a sério o próprio “eu” nas circunstâncias cotidianas. E é um respiro a plenos pulmões.
Obrigado por me terem escutado... precisava lhes contar o que aconteceu esta manhã.
Com afeto
P.e Aldo
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