segunda-feira, 25 de maio de 2009

Cartas do P.e Aldo 58

Amigos, publico a última carta antiga do P.e Aldo que tinha nos meus arquivos. Agora, só publicarei as cartas recentes que ele enviar. Esta carta foi escrita pouco depois do Meeting de 2008, quando ele contou sua experiência para um público de milhares de pessoas em Rímini.

Asunción, 20 de setembro de 2008.

Caros amigos,
Fico, a cada dia, mais surpreso com o povo que o Senhor fez surgir depois daquelas pobres mas sinceras palavras ditas no Meeting de Rimini acerca da minha insignificante pessoa. Centenas de emails, aos quais tento responder e não consigo fazê-lo, porque cada carta é um grito, é uma ferida, é o humano na sua verdade mais profunda, mais verdadeira, mais dramática... Todas cartas que não têm necessidade de respostas, de discursos, mas de uma companhia humana, a mesma companhia que Giussani fez para mim, que P.e Alberto fez para mim. Aquela companhia que não precisa de hora marcada, de secretária, de colóquios, mas de um afeto que abraça tudo do outro nas 24 horas do dia.
Relendo muitas vezes as coisas que vocês me escrevem, ou melhor o grito de vocês, revivo aquele drama terrível e belo de quando Giussani, em maio de 1989, em Riva del Garda, me disse: “como seria belo se alguém fizesse companhia para você nos próximos meses”. Levantei a cabeça, surpreso e cheio de dor e lhe disse: “Mas, dom Gius, onde encontrarei um padre, um leigo, que sempre têm tanto para fazer, dispostos a fazer companhia para um deprimido?”. Lembro-me de seus olhos cheios de ternura e de suas palavras: “pois bem, levo você comigo e pagarei tudo para você”. Mas, vocês entendem, caros amigos – vocês que sofrem, vocês que, nos seus emails cheios de dor, de feridas, daquela humanidade que cada um, seriamente comprometido com o próprio eu, carrega dentro de si –, o que quer dizer encontrar um homem que diz algo assim? Depois disso, Giussani encontrou apenas P.e Alberto, de Forlí – e que, hoje, está no Equador –, de quem Giussani disse: “é um homem inteligente e humilde”.
Eu gostaria, e lhe digo com o coração na mão, de ser, para cada um de vocês que sofre, um pouco como estes homens, de quem Deus se serviu para fazer de mim um homem. Sinto a minha impotência... que ofereço a cada manhã, levantando-me às 4h45min para ficar diante do Santíssimo com vocês, na Sua companhia... para que Ele se ocupe de cada um de vocês.
Depois, é verdade que todos temos testemunhas para quem olhar, pequenas ou grandes que sejam. Peçamos a graça de nos darmos conta de onde estão, porque o clericalismo (inveja, ciúmes, esquematismo) pode destruir a todos. Particularmente, olhemos para Julián Carrón: a pessoa que mais vive, sente, ama fazendo vibrar, o carisma de dom Giussani. Vendo-o falar, eu não tenho como não dizer como os que escutavam Jesus: “este sim fala com autoridade”. Lembro-me bem da primeira vez que o ouvi: me parecia escutar o Gius. E era o meu coração a me dizer, tanto é verdade que, depois, voltei para casa como aqueles dois de Emaús, dizendo: “não nos ardia o coração enquanto falávamos com Ele?”. A ele devemos olhar, porque não é um “padre”, mas um homem e apenas um homem pode fazer companhia para o homem.
E, hoje, olhando para cada um de vocês, sinto que não me buscam porque eu seja um “padre”, mas um pobre homem, porém homem, confiado a Jesus. No sofrimento mais agudo – como aquele que Pavese definia como “o mal de viver” –, Deus me faz conhecer toda a minha humanidade, que, por anos, me dava nojo e medo, porque é terrível descobrir-se aquilo que de fato se é: um misto de lama e de grandeza... Porém, através desse desespero, encontrei uma grande companhia e me confiei completamente. Depois de quase 20 anos posso gritar pela alegria de viver. Alegria que não tem nada de emotivo, mas que é a certeza de ser a cada instante escolhido por Jesus.
Vivo comovido, pensando, a cada dia, naquele homem que, a despeito do meu irmão e de todos os experts e, talvez, até mesmo de todos os formadores de consciência, ao invés de mandar ao neurologista de Feltre, me mandou para o Paraguai, dizendo-me: “agora, me sinto seguro de você”. E eu, mais incrédulo que o apóstolo Tomé, obedeci... e olhem o que Deus está fazendo com este deprimido. Por isso, sofro muito quando leio ou escuto certos comentários ao escolher uma pessoa para um trabalho ou para qualquer iniciativa. Vejo o abismo que há entre a posição de Giussani no olhar para mim e a posição da maioria daqueles que escolhem as pessoas para o trabalho. Digo sempre: imaginem-se nas minhas condições... imaginem se eu tivesse apresentado o projeto daquilo que Deus fez aqui às pessoas de dever... me teriam colocado no manicômio com uma razão a mais: “mas, você, que já é meio esquizofrênico, não vai querer se deixar levar pela imaginação, fazendo uma obra impossível como essa, que custa milhões de euros, né?”. Qualquer pessoa que me tivesse visto naquelas condições teria reagido deste modo. Mas Deus, uma vez mais, quis mostrar que “está se lixando” dos nossos pensamentos, dos nossos equilíbrios, dos nossos projetos. E a minha história é uma evidência. Por isso, quando me dizem que devo repousar, devo isso, devo aquilo, respondo sempre: “desculpe-me, mas eu não faço nada... eu descanso. É Ele que faz e me pede apenas que eu anuncie a todos aqueles com quem me encontro aquilo que Ele é para mim. Eu não tenho relacionamentos econômicos, políticos ou sociais, tenho apenas relacionamentos missionários: comunicar a beleza de Cristo a todos”.
Caros amigos, desejo para cada um de vocês aquele abraço com o qual Giussani me fez reviver, desejo para todos vocês que me escrevem, tão frequentemente rasgados pela dor, que possam encontrar um padre que seja um homem, um leigo que seja um homem que, acolhendo a cada um de vocês como eu fui acolhido desde quando encontrei Giussani, permita a cada um de vocês descobrir a beleza dramática da vida.
De minha parte não conheço cansaço, nem horário para responder a vocês, para dizer a vocês os milagres que vejo todos os dias. Espero apenas que vocês sejam simples e não tenham medo da humanidade de vocês... e nunca procurem os medíocres, os “intelectuais”, os “experts” ou os “diretores espirituais”, isto é, aqueles que só conseguem receber vocês com hora marcada para lhes dar conselhos... procurem homens verdadeiros. Não digam que é difícil, porque tudo depende das perguntas que cada um tem. Perguntas pequenas, respostas pequenas, homens pequenos. Quando alguém está mal, procura o melhor para ser curado.
Obrigado a todos pela amizade que me testemunham.
P.e Aldo

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