sábado, 18 de julho de 2009

Cartas do P.e Aldo 91

Asunción, 18 de julho de 2009.

Que dor suscitou em nós – médicos, enfermeiras etc. – a decisão daquele casal inglês que resolveu se suicidar em uma clínica suiça que, diabolicamente, se chama “Dignitas”!
Este testemunho de dois rapazes que estão aqui conosco e vêm da pobreza absoluta nos diz o que é a dignidade.
Caros amigos,
Paulo (22 anos), convive, há meses, com um pedaço do seu cadáver. Está aqui, deitado no seu leito e o lado esquerdo de suas costas não existe mais: um câncer de 6kg o “comeu” completamente. Uma enorma massa de carne apodrecida o atormenta 24h por dia. O cheiro é insuportável. A enfermeira de turno só consegue medicá-lo porque vê em Paulo Jesus morto e ressuscitado. A medicação deve ser ministrada muitas vezes ao dia, e cada vez a enfermeira deve sair por alguns minutos, mesmo usando uma máscara dupla e perfume, porque não consegue suportar o cheiro. Mas, o maior drama não é apenas o amor a Cristo de Paulo, mas o drama mesmo de Paulo que suporta o odor de seu corpo murchando com uma paciência incrível 24h por dia. Ele também usa duas máscaras e também uma toalha para cobrir o rosto. Porém, é inútil. Além do mais, não consegue se mover, porque a enorme massa de câncer lhe impede mover a cabeça. Parece que tem duas cabeças. Três vezes ao dia, o Santíssimo Sacramento o visita e é comovente ver o seu sorriso... “Padre, estou bem”.
Amigos, penso sempre no que o Carrón nos disse sobre as circunstâncias que são positivas. Paulo nos disse: “vejam! É tão positiva a realidade que eu posso, com Jesus, conviver com um pedaço do meu cadáver”.
O mesmo acontece com Noelia (23 anos), com um câncer parecido com o de Paulo na perna esquerda. É como uma grande melancia... e, dia desses, arrebentou pela metade... uma coisa terrível. E, no entanto, que fé, que entrega a Jesus! “Noelia, como você está?”; “Bem, padre! Jesus me ama!”... e ela tem uma filha de 7 anos. Está se preparando para a morte como uma garota que está esperando o dia do seu matrimônio.
“A vida não é tragédia, é drama...”, nos lembra Carrón. Para Paulo e para Noelia a vida é drama, porque, mesmo esta manhã, quando lhes dava a Comunhão, sorrindo-me, disseram “sim” ao Mistério. Nunca se lamentaram... somente “Te ofereço”. Arranca-me o coração quando, todos os dias, por três vezes, com o Santíssimo os convido a oferecer tudo.
P.e Aldo

Nenhum comentário: