quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Por que tanto ódio contra os cristãos?


por Roberto Fontolan

Entre os tantos aniversários comemorados em 2009 no fim do ano recordaremos os 30 anos da invasão soviética no Afeganistão. Em uma noite do final de dezembro de 1979, enormes Antonov, aviões de transporte de tropas usadas pela Armada Vermelha, aterrisavam numa longa sequência no aeroporto de Kabul, que em apenas uma manhã foi tomada sem muita dificuldade.
Já há alguns dias a capital afegã tinha sido abandonada pelos ocidentais, com exceção do padre Angelo Panigati, queainda abria a porta da embaixada italiana, onde figurava oficialmente como “expert cultural” (e o é, de fato). Não apenas era a única testemunha daquela noite, mas era também um dos raríssimos conhecedores do País, dos seus costumes e das suas tribos.
Falava de um Islã muito aberto e pacífico (de resto, até os primeiros anos da década de 1970, Kabul parecia-se com a Beirute pré-bélica, cidade que se inspirava na doce vida romana), vivido como legado natural da tradição e livre de agressividade e de estratégias. Foram os russos que acenderam o fogo de um outro Islã: boa parte das milícias guerrilheiras encontravam motivação e coração na religião. A revolta deles não foi uma revolta nacional, em nome do Afeganistão, mas uma guerra religiosa, em nome do Corão. No tempo, mesmo as formações guerrilheiras mais “laicas” cederam a esta posição.
Na época, daquele caso se entendia e estudava muito pouco (a parte, é claro, padre Angelo). Tudo era muito ideologizado, basta pensar no fato de que os jornalistas ocidentais estavam todos no mesmo hotel de Kabul, exceto os repórteres dos jornais comunistas, a Unidade inclusive, que se alojavam junto com os jornais da Europa do Leste. Nem mesmo os americanos entendiam muito do que estava acontecendo (fato que foi contado, há pouco tempo, no filme Jogos de Poder de Charles Wilson, com Tom Hanks): estavam totalmente atraídos pela idéia de uma vitória comunista, que nunca poderiam ter imaginado que as armas fornecidas aos mujahiddin poderiam ter se constituído, depois, no arsenal da Al Qaeda. Sobretudo, ninguém considerava o Paquistão, que já era, então, um fonte de guerra.
E no entanto não faltavam indícios e sinais. Havia um presidente-ditador ultraislâmico (Zia Ul Haq), havia uma região de fronteira que começava a pulalar de pregadores e militantes, havia uma cidade sem regras – Peshawar – que fazia as vezes de quartel general para o conflito em curso e para aqueles que se estavam preparando. E, além disso, havia os cristãos.
Se alguém tivesse querido escutá-los, há trinta anos atrás, eles teriam contado a experiência da sua ínfima minoria (hoje, entre 1 e 2% dos 170 milhões de habitantes) no País muçulmano criado artificialmente com a separação da Índia (um outro dos desastres britânicos); uma experiência bem equipada com juízos, análises e pensamentos: as discriminações, as opressões, a falta de liberdade, faziam parte do vivido deles.
Era preciso os ter escutado naquela época, mas, como o padre Angelo de Kabul, eram ou ignorados ou não tinham voz: muito marginais e insignificantes. Porém, no Paquistão, no Iraque, na Índia há quem os leve terrivelmente a sério. E, por isso, extermina suas famílias, queima suas igrejas, mata seus sacerdotes: este ódio não nasce da ignorância e da confusão, mas do conhecimento e da clareza de quem são os cristãos e de que mundo são capazes de construir, se forem deixados existir.

* Extraído do site Il Sussidiario, do dia 06 de agosto de 2009. Traduzido por Paulo R. A. Pacheco.

Nenhum comentário: