"O sentido do mundo e da história é a misericórdia de Cristo, Filho do Pai, mandado pelo Pai para morrer por nós. No drama de Milosz, o Abade, ao um certo ponto, meio que impaciente, diz a Miguel Mañara, que ia, todos os dias, lamentar-se com ele de seus pecados passados: 'Pare com esses lamentos de mocinha. Tudo isso nunca existiu'. Como, 'nunca existiu'? Miguel tinha assassinado, estuprado, tinha sido injusto... 'Tudo isso nunca existiu. Só Ele é'. Ele, Jesus, se volta a nós, se faz 'encontro' para nós, perguntando-nos apenas uma coisa: não 'o que você fez?', mas 'você me ama?'.
Amá-Lo sobre todas as coisas, então, não quer dizer que eu não tenha pecado ou que eu não peque amanhã. Que estranho! É preciso uma potência infinita para existir esta misericórdia, uma potência infinita da qual - neste mundo terreno, no tempo e no espaço que nos foi dado viver, nos anos, poucos ou muitos que sejam - nós (...) chegamos à letícia. Porque um homem, com a consciência de toda a sua pequenez, fica feliz diante do anúncio desta misericórdia: Jesus é misericórdia. Ele foi mandado pelo Pai para nos fazer conhecer que a essência de Deus tem como característica suprema para o homem a misericórdia. 'Inclinaste-Te sobre as nossas feridas e nos curastes', diz um Prefácio da Liturgia Ambrosiana, 'dando-nos um remédio mais forte do que as nossas chagas, uma misericórdia maior do que a nossa culpa. Assim, mesmo o pecado, em virtude do Teu amor invencível, serviu para nos elevar à vida divina'.
Desta letícia surge a paz, a possibilidade da paz. Mesmo em todos os nossos infortúnios, em todas as nossas maldades, em toda a nossa incoerência, em toda a nossa fraqueza, naquela fraqueza mortal que é o homem, podemos realmente respirar e suspirar a paz, gerar paz e respeito pelo outro."
(GIUSSANI, Luigi. Generare tracce nella storia del mondo. Nuove tracce di esperienza cristiana. 1998, pp. 87-88)
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