sexta-feira, 23 de abril de 2010

Um saquinho de laranjas pela emergência educativa

Por Giorgio Paolucci

Emergência educativa: um fenômeno que está na boca de todos. Tantas vozes se levantam para enfrentar estes "jovens de todos os tipos que não sabemos mais como gerir". Desperdiçam-se análises e denúncias, carece-se de remédios. Aquilo sobre o que (quase) todos concordam é que, depois da época do "é proibido proibir", é necessária uma maior severidade. Traduzindo: é como se se entendesse que professores e pais devem se tornar os policiais da juventude. Que é preciso voltar a punir como antes, ou então a situação se tornará incontrolável. Mas, será que um adulto-xerife é suficiente? Um episódio do qual fomos testemunhas há alguns dias ajuda a responder às perguntas que muitos se colocam, sem encontrarem uma resposta convicente.
Estudantes do ensino médio aproveitando um feriado em Firenze. Parada para um lanche na frente do mosteiro de São Marcos. Depois de terem saciado a fome, começam a jogar, uns nos outros, o resto dos sanduíches e a esmigalhar os biscoitos, jogam a água das garrafinhas uns sobre os outros, enquanto um grupo improvisa uma partida de futebol com as laranjas que ficaram nos saquinhos. Gritos, risadas sardônicas, e o desconcerto e a desaprovação dos passantes: "mas, o que os pais ensinam em casa a essa gente? E os professores o que fazem?".
Acontece um fato imprevisto: dois professores recolhem as laranjas que sobraram e as colocam em dois saquinhos, outros dois saquinhos são enchidos com os sanduíches, depois recolhem as garrafinhas de água espalhadas no chão. Chamam aqueles que estavam jogando bola e os convidam a segui-los. "O que é? Não fizemos nada". "Não se preocupem. Venham conosco". Juntos vão para a frente do portal do Hospital dos Inocentes - que fica ali perto -, onde dormem alguns velhos mendigos. Um professor se aproxima daquela humanidade afligida e pergunta: "Vocês querem alguns sanduíches? Não se ofendem?". No rosto daqueles homens se acende um sorriso, as mãos se estendem para pegar os saquinhos. "Aceitam água também?" "Não, obrigado. Ainda temos um pouco." Como isso pode ser possível? Eles poderiam ter feito uma reserva... mas preferem deixar para outros que também podem ter necessidade. Do meio das colunas desponta uma senhora mal vestida, com os olhos fundos e o olhar orgulhoso: "Tenho seis filhos, seis... podem me dar também?". Ainda há as laranjas, e os olhares dos mendigos se iluminam: "Que maravilha, fruta!".
Os dois professores voltam para o mosteiro de São Marcos, seguidos pelos jovens que se olham quase incrédulos, alguns com olhos baixos, e comentam: "Mas, você viu aquele lá como pegou a laranja? E o outro que não quis a garrafinha de água?". A bravata de onde tudo tinha nascido deixou lugar para o maravilhamento diante de algo grande que testemunharam e do que foram protagonistas involuntários. Algo maior do que a tolice que haviam feito, algo que tornou evidente, no impacto com a pergunta presente naquela humanidade necessitada, a pequenez do comportamento que tinham assumido.
A realidade ensina mais do que muita falação sobre os valores. Basta saber olhar para ela com olhos sinceros. Mas, para isso, é necessário alguém que eduque a olhá-la assim. Alguém capaz de conduzir pelas mãos jovens que, jogando futebol com laranjas que sobraram do lanche, jogam futebol com a própria vida. E que, da vida, possam redescobrir o significado e o valor, tendo diante dos olhos alguém que não esperavam. Aqueles dois professores economizaram a enésima e previsível reprimenda, deram aula fora de sala. Uma aula de vida feita de poucas palavras e de um gesto capaz de despertar perguntas que cada um traz em si no coração. E, assim, conseguiram uma pequena-grande conquista educativa que nenhum "xerife" saberia conseguir.

* Artigo publicado no jornal Avvenire, do dia 23 de abril de 2010, p. 2. Traduzido por Paulo R. A. Pacheco.

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