Por Pigi Colognesi
Em uma rápida reunião de redação do IlSussidiario.net decidimos que o editorial de hoje tenha como tema o trabalho, visto que amanhã é primeiro de maio. Comecei a pensar a respeito enquanto ia para a biblioteca - uma importante biblioteca pública de Milão - para procurar um livro que me seja útil para o meu trabalho.
Enquanto preenchia os formulários necessários para o ingresso, a empregada que estava diante de mim diz, entre deprimida e rancorosa, para a sua colega: "Não é o trabalho que me cansa. São as pessoas que me irritam". Pareceu-me falso e redutivo e quis, então, entender por quê. Decidi, assim, que o editorial iria começar daqui.
Antes de mais, volta-me à mente o fato que quando, esperando um volume qualquer, aconteceu de eu escutar as conversas dos empregados daquela biblioteca, o argumento era, frequentemente, a lamentação quanto a um colega qualquer, ausente obviamente, ou quanto ao chefe: alguém que deixou o lugar em desordem, ou aquela que chegou atrasada, o chefe que definiu as férias injustamente, e por aí vão as lamentações. Mas, somando tudo, isso me parece suficientemente normal. Cada convivência, sobretudo quando não é escolhida, tem seus espinhos e asperezas.
Depois, pensei que também eu, como usuário, no fundo, sou alguém que irrita, porque coloco problemas, tenho uma exigência, interrompo uma leitura ou um discurso, sou um fator de distúrbio quando se pensa no programa estabelecido. Mas isso se pode dizer de cada relacionamento de trabalho.
E se uma pessoa cansa e a tratamos mal, imaginemos o que possa acontecer com as coisas que, diferentemente dos homens, sequer se lamentam. Entendo bem, então, de onde vem o descuido de tantos ambientes de trabalho, aquela desordem feia que denota falta de respeito pelas coisas e pela beleza dos seus relacionamentos equilibrados.
Volta à minha mente a grande conferência que François Michelin proferiu no Meeting [de Rímini; ndt] de alguns anos atrás. O dono da fábrica de pneus surpreendeu a todos ao expor o princípio sobre o qual ele fazia todas as suas escolhas econômicas e organizativas: o respeito pelo dado. Cada trabalho, ele dizia, é um relacionamento que se assume com algo de diferente de você, algo de preexistente às nossas próprias imaginações, cálculos, previsões.
Trabalhar - e ter sucesso no trabalho - significa dobrar-se a esta irredutível e fecunda alteridade: o colega, o operário, o fornecedor, o cliente. Até mesmo a matéria-prima; sim, porque o homem não é criador, como Deus, e pode modelar a matéria segundo os seus objetivos tão somente se lhes respeitar as características.
É evidente, então, que a verdadeira dificuldade que frequentemente encontramos no trabalho, aquela insatisfação que se torna o fundo do cotidiano que somos obrigados a carregar, provêm diretamente da não aceitação do dado - pessoas e coisas -, da pretensão de assumir apenas uma realidade selecionada pelos nossos gostos, prazeres e desejos.
E assim nos condenamos à esterilidade de quem não encontra nunca algo de novo. Condenamos-nos a não fazer nunca a experiência descrita pelo poeta polonês Kiprian Norwid: "A beleza existe para suscitar admiração que, depois, leva ao trabalho: o trabalho é para ressuscitar".
* Publicado no IlSussidiario.net, do dia 30 de abril de 2010. Traduzido por Paulo R. A. Pacheco.
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