quarta-feira, 16 de junho de 2010

Cartas do P.e Aldo 148

Asunción, 16 de junho de 2010.

Caros amigos,
Nestes meses, o artigo de Carrón – “Feridos, voltamos a Cristo” – foi o coração com o qual viver tudo. Um trabalho duro, mas muito bonito que não apenas incidiu em todos nós mas também nas minhas filhas, vítimas dos pais pedófilos. Uma vez mais, toquei com a mão o fato que, trabalhando seriamente sobre aquilo que Julián nos propõe (pensem na profundidade e na beleza do artigo, que foi publicado n’O Observatório Romano, sobre nós, padres: quem jamais nos falou assim, a não ser o Gius ou, agora, Julián?), o homem velho cheio de preconceitos, de esquemas, de moralismo etc. deixa o lugar para o homem novo. O homem novo gera homens novos que olham para a realidade com os olhos de Cristo.
Outro dia, uma filha minha de 9 anos, violentada e vítima de outras perversões por parte do pai (eu o chamo  de “pai” porque sempre tive presente as palavas de Deus quando diz: “Antes de conceber-te no ventre de tua mãe, Eu pronunciei o teu nome”. De forma que, mesmo este pobre coitado foi o meio através do qual Deus se serviu para que esta menina viesse ao mundo), se aproxima e me diz: “Sabe, padre Aldo? Olhando Jesus, eu perdoo todo o mal que meu pai me fez, mas fique comigo sempre aqui. Peço também que me confesse, porque no meu comportamento sou violenta e digo todos os palavrões que aprendi antes de vir para cá, junto com o senhor. Eu não quero estas coisas, mas não consigo evitar. Ajude-me”. Amigos, vocês têm ideia do juízo que estas palavras – “perdoo meu pai que abusou de mim” – carregam sobre cada um de nós? Mas, isso não é fruto do acaso, mas do fato de nós, educadores, termos o coração cheio daquelas palavras de Carrón. Palavras que me fazem abraçar vítimas e abusadores, sem tirar nada da responsabilidade de quem é o abusador... Mas, a “misericórdia divina tem braços grandes que acolhem todos que se dirigem a ela”.
Amigos, neste momento, temos necessidade apenas de reconhecer que somos pobres coitados, porém comovidos pela ternura de Deus. Como é possível não chorar de alegria fazendo Escola de Comunidade e ouvindo com que paixão Julián nos faz vibrar? Se não fosse assim, a minha vida com toda a carga de sofrimento que me circunda, seriauma coisa absurda. Enquanto que, vivendo circundado por amigos como Marcos, Cleuza, Julián de la Morena e muitos outros que estão aqui comigo, este lugar de dor, de acolhimento de vítimas de violência de todo tipo e da morte, esse lugar se torna a evidência de que Cristo ressuscitou. É bonito ver que a obra não nasce de um projeto, mas é um parto da realidade, a quem a liberdade é chamada a responder.
De verdade, a nossa não é uma companhia das obras, mas uma companhia de rostos tendidos ao Mistério que se torna obra; tanto é verdade que, mesmo os problemas mais duros – como o educar estas crianças vítimas da violência – se tornam simples e acabam acontecendo aqueles milagres comoventes, como crianças que, mesmo que profundamente marcadas, perdoam aqueles que abusaram delas.
Um abraço,
Padre Aldo.

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