quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Cartas do P.e Aldo 161


Asunción, 18 de setembro de 2010

Caros amigos,
voltei de São Paulo, onde tive a graça de participar dos exercícios espirituais dos padres e do grupo adulto puxados por Carrón. Já o Encontro Internacional de La Thuile tinha sido uma graça excepcional, mas a semana que passei no Brasil foi um oceano de graça. O ponto de partida foi o Encontro Internacional, mas o trabalho pessoal de Carrón e um pouco também o nosso permitiu a Julián ir ainda mais fundo naquilo que se viveu no Vale d’Aosta. Assim também foi fantástico o encontro com os 1500 jovens de Marcos e Cleuza sobre o tema da vocação.
Tão logo cheguei em casa, a alegria dos meus filhos não tinha limite. Estavam ansiosos para me mostrar o boletim de notas do segundo semestre. A média geral era 4 (aqui, o máximo é 5). Não falo para vocês da minha surpresa. No ano passado, tinham passado de 0 a 1, de ninguém a alguém. Agora que são “alguém” acontecem estes milagres. Fizemos festa, lemos os boletins e, como pai, eu os assinei. Depois, uma vez colocados na cama, disse aos meus amigos: “vocês entendem o que quer dizer viver cada momento com a certeza de que ‘eu sou Tu que me fazes’? A maioria absoluta dessas crianças são vítimas das piores violências sexuais, abusados pelo pai ou pelo padrinho. Chegaram com os rostinhos transformados, carregados de violência. Muitas meninas violentadas, para se aproximarem de mim, um homem, precisaram de tempo e de paciência. Mas, aquele ‘eu sou Tu que me fazes’ que, por osmose se transmite a eles, muda, faz renascer o eu. E a alegria que os caracteriza é a evidência desse milagre”.
Pensem que o melhor de todos foi Gabriel, o menino sem nome e sobrenome que tirou 5 em todas as matérias e 1 em comportamento. Quando chegou, ele era única e exclusivamente violência. Fazia mesmo o impossível para nos provocar, para ver a nossa reação, e era suficiente um chamado de atenção para que ele se tornasse furioso. Olhava para todos com cinismo e com o rosto de quem quer desafiar. Não tinha regra: ele decidia tudo. Tem dez anos. Quantas vezes, diante da impotência, da raiva, do choro, da possível decisão de mandá-lo embora, com todas as perguntas dentro de mim, eu repeti “eu sou Tu que me fazes” certo (mesmo quando tudo parecia que iria desabar e tive a tentação de pensar que, para Gabriel, talvez não houvesse esperança) de que disso ele renasceria. E assim aconteceu. “Eu sou Tu que me fazes”. Dessa certeza, nasceram todas as tentativas, a escolha para chegar ao seu coração. E, sobretudo, olhar para ele como Deus me olha, como Giussani me olha na experiência que Carrón nos faz fazer. Não psicólogos etc. (mesmo que, conosco, haja uma psicopedagoga), não terapias, apenas o olhar. E desse estar diante dele, da sua violência, com esse olhar nasceram também as famílias para a acolhida, que a cada fim de semana levam para casa a maioria das crianças. E é bonito ver como as crianças ficam felizes e orgulhosas de estar com uma família. Toda a nossa pedagogia – desde o revisar todas as noites o armário para ver se está em ordem ou não, até a forma como tratamos cada detalhe – nasce apenas desse “eu sou Tu que me fazes”. E é estupendo, comovente, porque se “eu sou Tu que me fazes”, me faz agora, de forma que tudo é ordenado, harmônico, belo. Por isso, a Casinha de Belém é bonita, ordenada, cheia de flores. Todos lavam, limpam... Quem trabalha na cozinha ou lava os pratos (a partir dos cinco anos) tem o seu avental, o seu bonezinho correspondente etc.
Enfim algo bonito, fruto também dessa comoção – “eu sou Tu que me fazes”: um garoto, para mostrar seu despeito, jogou um bocado de pedras na piscina da Casinha. O que fazer? Puni-lo? Claro que sim! Mas como? E aqui a genialidade da resposta: “Giorgio, de hoje em diante você será o responsável da limpeza da piscina”. Bem, desde então as pedras estão no seu lugar e a piscina está bem limpinha e cuidada... e se vocês vissem com que responsabilidade ele vive a sua tarefa.
Com afeto
Padre Aldo


P.S.: A foto dos três bebês mostra aquelas crianças que foram encontradas - um num saco de lixo, outro no meio de folhas e outro numa praça, dentro de um saco também. Olhem o que o amor fez em 2, 4 e 7 meses!

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