Asunción, 30 de dezembro de 2010.
“Cantarei eternamente a Tua misericórdia, ó Senhor”
Olhando para este ano que me foi dado, como todos os outros 64 anos que já pertencem à minha história, uma história cheia de misérias, de fragilidade e de graça, estas palavras do salmista saem, quase como um soluço de alegria, de dentro do meu coração.
Quando me ordenaram sacerdote, olhando para a minha fragilidade, para a minha desobediência, para a minha incapacidade intelectual, coloquei no santinho, me lembro, a frase de São Francisco de Assis: “Aceita-me como sou e faz-me como queres”.
Quando fiz 25 anos de sacerdote, há quase 15 anos atrás, deixei para os amigos como recordação a frase: “Cantarei eternamente a Tua misericórdia, Senhor”.
O que pode haver de mais comovente, de mais humano, no fim de cada ano, assim como de cada dia, do que reconhecer que a misericórdia do Senhor não apenas é eterna, como também é a razão mesma do meu ser, do meu existir! O que pode haver de mais belo, no fim deste ano, cheio de fragilidade, de miséria, do que poder reconhecer como São Paulo que “onde abundou o pecado, superabundou a graça!”. Que graça, meu Deus, reconhecer que sou pecador, reconhecer que Te fizestes homem, meu Deus, graças aos meus pecados; reconhecer que se eu fosse um ser coerente, perfeito, honesto, bom, cheio de valores, Tu, meu Deus, não te terias feito carne para mim e para os meus irmãos pecadores!
Que maravilha, Senhor, ver-Te descer do céu e tomar a minha carne, o meu sangue, os meus pecados, para mostrar-me como sou pecador aos Teus olhos, quão grande é a Tua estima por mim, porque eu sou Teu, como nos lembra o profeta Isaías! Que dor, ó Jesus, me provocam aqueles homens que, para eliminar-Te da própria história, se afanam para construir sistemas perfeitos para anular a Tua presença no mundo dos pecadores!
Que angústia, ó Jesus, experimento, dia após dia, quando os meus irmãos, mesmo os sacerdotes como eu, preocupados em propor uma moral, uma ética, um compromisso social, convencidos de que isto seja o cristianismo, esquecem-se de que o cristianismo é Tu, ó Jesus, presente hoje entre e conosco!
Por que, ó Jesus, temos vergonha de Ti, a Igreja tem vergonha de Ti? Por que, ó Jesus, não levamos a sério as reiteradas palavras do Santo Padre que convidam à conversão, conversão que significa dizer “Tu, ó meu Cristo”?
Por que, como escutamos, nos últimos dias, da boca de quem “governa” este país, não reconhecemos que não estamos mais no Antigo Testamento, esperando o Messias, o mundo novo, mas que o mundo novo é um fato, um Presente? Por que não reconhecer a Tua Presença que age hoje na Igreja, casta meretrice, nos traços de milhares e milhares de pessoas que são o sinal vivo da Tua Presença?
A cristandade não é algo que começa agora, como afirma ideologicamente uma certa teologia da libertação no nosso país, porque finalmente chegou ao poder, ma é um Fato Presente há 2000 anos.
O menino não deve nascer, nasceu, nasce em cada momento na santidade de quem Te reconhece, ó Cristo, como a razão última da vida, o fim último da existência.
Por este motivo, neste fim de ano, o meu coração e o de muitos amigos, os amigos de Jesus, como o Papa define os cristãos, queremos agradecer-Te, porque, graças aos nossos pecados, Tu te fizeste carne por mim e por todos os homens.
Ó Jesus, peço-Te que acabe em mim e em todos o escândalo pelas nossas misérias, acabe em nós a mania pelos valores, o orgulho de sermos os primeiros da sala e o orgulho de sermos os protagonistas, sem Tu, da utopia de um mundo melhor.
Ó Jesus, peço-te que a Tua graça me ilumine, nos ilumine, para que tomemos consciência de que o ideal pelo qual viver não é a coerência mas a pertença a Ti, como uma criança pertence aos seus pais e, deste modo, cresce feliz.
Este ano foi grande porque grande foi a experiência da Tu infinita misericórdia que, na confissão semanal, ou mais de uma vez por semana, se tornou palpável, visível, enchendo-me de alegria.
Senhor, “eu não sou digno de que Tu entres em minha morada, mas basta uma palavra Tua e a minha alma será curada”.
Por este motivo, as palavras que mais me comoveram durante este ano foram aquelas do sacerdote que, frequentemente, traçando sobre mim o sinal da cruz, me dizia: “Eu te absolvo dos teus pecados, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém”.
"Te Deum laudamus: te Dominum confitemur... In te, Domine, speravi: non confundar in aeternum".
Padre Aldo
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