segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

1978-2005: aspectos menos conhecidos dos 25 anos de Pontificado de João Paulo II - 5


A obra do Santo Padre
para a custódia do Depósito da Fé
e a preservação da Disciplina Eclesiástica

1998
- A Congregação para a Doutrina da Fé (CDF) reabre, mais uma vez, a verificação sobre a teoloia do peruano Gustavo Gutiérrez, que suscita problemas na Igreja latino-americano desde 1983, pelo menos.
- A CDF coloca sob observação o livro do teólogo australiano Paul Collins “Il potere papale. Una proposta di cambiamento per il cattolicesimo del Terzo millenio” (O poder papal: uma proposta de mudança para o catolicismo do Terceiro Milênio; ndt). Collins, infelizmente, deixará o sacerdócio em 2001, fazendo declarações coerentes com as heresias contidas em suas obras.
- A Congregação para o Clero, presidida pelo cardeal Darío Castrillón Hoyos, sugere ao bispo inglês D. Peter Smith a retirada de um texto de religião para as escolas secundárias, porque neles se sustenta a Teologia da Libertação.
- Com uma Notificação (24 de junho), a CDF declara que o jesuíta indiano Anthony de Mello sustentou, em suas obras, “posições incompatíveis com a fé católica”. As obras de Mello, ainda que falecido há um tempo, ocupam as prateleiras de numerosas livrarias, mesmo católicas.
- João Paulo II, com o Motu proprio Ad tuendam fidem torna ainda mais clara a aplicação da profissão de fé de 1989. A carta é acompanhada por uma densa “Nota doutrinal ilustrativa” feita pela CDF, que ilustra como cada teólogo deve empenhar-se explicitamente na acolhida “firme” das verdades proclamadas “de modo definitivo” pelo Magistério, sem que seja necessária uma explícita “definição dogmática”. O texto precisa ainda que, em tal categoria, está presente o ensinamento papal sobre a ordenação sacerdotal reservada apenas apara os homens.
- Com o Motu proprio Apostolos suos (21 de maio), o Papa esclarece a natureza e os poderes das Conferências Episcopais. O documento encontra razão de ser nos casos de deturpação da natureza pastoral e não precipuamente doutrinal das mesmas conferências.
- A CDF solicita e consegue o afastamento do ensino junto à Pontifícia Universidade Gregoriana do teólogo jesuíta Jacques Dupuis, por seu livro “Verso una teologia cristiana del pluralismo religioso” (Para uma teologia cristã do pluralismo religioso; ndt). A condenação é publicada em 2001 com uma Notificação (24 de janeiro) na qual se afirma que, no livro do jesuíta, existem “notáveis ambiguidades e dificuldades sobre pontos doutrinais de alcance relevante, que podem conduzir o leitor a opiniões errôneas ou perigosas”.
- A Congregação para a Educação Cristã, presidida pelo cardeal Pio Laghi, afasta da cátedra de Filosofia do Direito da Universidade Católica do Sagrado Coração de Milão, o professor Luigi Lombardi Vallauri, que havia difundido, em larga escala, imprudentemente bizarras teses sobre o inferno, sobre o pecado original, sobre a autoridade do magistério e sobre a moral sexual.
- No Peru, para substituir o cardeal jesuíta Augusto Vargas Alzamora, então primaz da Igreja católica de Lima há nove anos, é chamado (não obstante uma violenta pressão midiática realizada por alguns eclesiásticos) um membro da Opus Dei, D. Luis Cipriani. O Prelado, nos dez anos que passou como guia da arquidiocese de Ayacucho, se havia notabilizado pela firme caridade pastoral para com os seguidores da Teologia da libertação de tipo marxista e pela decisiva condenação do terrorismo de matriz socialista.

1999
- Em 6 de abril, a CDF corrige numerosas “propostas de mudança” formalizadas por uma espécie de Sínodo denominado “Diálogo para a Áustria”, particularmente sobre a contracepção, a comunhão de divorciados recasados, o clero casado.
- Em 18 de setembro, a Secretaria de Estado e a CDF dispõem a retirada dos aconselhadores católicos alemães do sistema estatal de clínica dos quais, por lei, toda mulher que queira abortar deve obter o certificado de aconselhamento.
- No domingo, dia 27 de junho, a Sacra Rota – assim se refere a imprensa nacional – ordena a apreensão e proibe a tradução de um calunioso libelo de título “Via con vento in Vaticano” (E o vento levou, no Vaticano; ndt). O porta-voz e co-autor confesso do panfleto, D. Luigi Marinelli, foi convocado pelo dicastério; segundo fontes jornalísticas teve início um processo de “suspensão a divinis.
- Á irmã Jeannine Gramick e ao P.e Robert Nugent – religiosos norte-americanos – a CDF veta “permanentemente toda atividades pastoral em favor das pessoas homossexuais”, porque os dois, desde o início de sua atividade, em 1977, não condenam a “malícia intrínseca dos atos homossexuais”, colocando, além do mais, “repetidamente em discussão elementos centrais do ensinamento da Igreja” na matéria.
- No dia 12 de março de 1999, a presidente da Ação Católica italiana Paola Bignardi retifica, numa entrevista ao jornal Avvenire, algumas declarações sobre os chamados “casais de fato” feitas ao jornal social-comunista “Unità”.

2000
- Em 14 de janeiro, numa carta ao presidente da Comissão Internacional pela Língua Inglesa na Liturgia (ICEL), D. Maurice Taylor, o secretário da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, D. Francesco Pio Tamburrino, pede que se retirem todas as cópias do Livro Litúrgico dos Salmos traduzido para o inglês, porque contêm erros doutrinais suscetíveis de causar dano significativo à fé. 
- Durante o ano, a Conferência Episcopal dos Estados Unidos aprova – com 223 “sim” e 31 “não” – um decreto de aplicação da Constituição Apostólica Ex corde ecclesiae de João Paulo II (de 15 de agosto de 1990), na qual o Santo Padre pedia que se tomassem medidas no sentido de reforçar a identidade das universidades católicas e pedia aos docentes das mesmas que obtivessem, para ensinar, “referências” do próprio bispo. Os bispos americanos dispõem assim que “os estatutos das universidades católicas instituídos por autoridade hierárquica, por institutos religiosos ou outras pessoas jurídicas, devem ser aprovados pela autoridade eclesiástica competente” (art. 3, 3); no Consellho de administração a maioria “deveria ser composta por católicos comprometidos com a Igreja” (art. 4, 2b); o presidente deveria ser um católico (art. 4, 3a); a universidade deveria buscar recrutar e nomear como docentes católicos, de modo que “aqueles que estão comprometidos com o testemunho da fé constituam a maioria do corpo docente” (art. 4, 4a); e, sobretudo, “os católicos que ensinam disciplinas teológicas numa universidade católica dever ter um mandatum da parte da autoridade eclesiástica competente” (art. 4, 4e, 1), ou seja do bispo da diocese na qual se encontra a universidade. Este mandato, que deve ser escrito, é “um reconhecimento da parte da autoridade da Igreja sobre o fato de que um docente católico de uma disciplina teológica ensina em plena comunhão com a Igreja católica”, e reconhece o empenho de tal docente com o “abster-se de propor como doutrina católica tudo o que seja contrário ao magistério da Igreja”. Uma vez obtido, este mandato permanece em vigor enquanto o professor estiver encarregado da matéria e “a menos que não lhe seja retirado pela autoridade eclesiástica competente” (art. 4, 4e, 4b). Estes temas haviam sido eficazmente propostos por S. Eminência o cardeal Ratzinger durante um ciclo de conferências e encontros havidos no ano anterior, durante os quais o Prefeito da CDF havia alertado os católicos comprometidos nas universidades locais quanto à modernidade.
- No México, a Sé Apostólica transfere para a diocese de Saltillo D. Raúl Vera López, que já havia sido enviado para a diocese de San Cristóbal de las Casas (Chiapas) como coadjutor com direito de sucessão de D. Samuel Ruiz. D. Vera López havia sido enviado a Chiapas em 1995 devido a algumas dificuldades acerca da chamada “teologia índia” de D. Ruiz.
- Em junho de 2000, durante um encontro em São Paulo sobre a AIDS e sobre os desafios da Igreja no Brasil, a imprensa atribui ao bispo de Goiás, Eugène Rixen, uma frase segundo a qual “entre a camisinha e a expansão da AIDS, somos obrigados a escolher o mal menor”. O presidente do Pontifício Conselho para os Sanitaristas, D. Lozano Barragán, sugere e obtém da Conferência Episcopal brasileira a difusão de uma Nota de Esclarecimento, na qual se reafirma que o uso do preservativo, em qualquer circunstância, é contrário à doutrina de Cristo.
- A Santa Sé protesta vivamente junto ao governo italiano para que impeça a celebração da Parada Gay em Roma e, particularmente, para que as autoridades impeçam a grande manifestação dos ativistas homossexuais, que maldosamente difundem ideias que provocam confusão e sofrimento junto à categoria de pessoas que falsamente pretendem representar. No dia seguinte, no Angelus, o Papa exprime “amargura pelo insulto ao grande Jubileu do Ano Dois Mil e pela ofensa aos valores cristãos de uma cidade que é tão querida pelos católicos do mundo inteiro”.
- Com a Declaração Dominus Iesus (6 de agosto), a CDF reafirma a unicidade salvífica de Cristo, chamado a atenção implicitamente para a ortodoxia uma certa teologia “asiática” (veja-se, por exemplo, as providências tomadas anteriormente quanto ao sacerdotes do Sri Lanka P.e T. Balasuriya).
- Para a sucessão do controvertido cardeal brasileiro Paulo Evaristo Arns, expoente de uma certa Teologia da libertação, que havia solidarizado com o tirano socialista cubano Fidel Castro, é chamado D. Claudio Hummes. A nomeação do prelado (próximo ao movimento carismático e nomeado há apenas dois anos como arcebispo de Fortaleza, onde reordenou a ex-diocese do cardeal Aloísio Lorscheider segundo as indicações da Santa Sé) acontece não obstante as pressões da mídia, feitas também por eclesiásticos, que “exige” a nomeação de um dos bispos auxiliares de Arns ou o arcebispo de Mariana e ex-presidente da CNBB, D. Luciano Mendes de Almeida.
- A Congregação para o Culto Divino, no dia 28 de julho, publica uma “Instrução Geral sobre o Missal Romano”, que serve como uma introdução para a nova versão do Missal Romano. Nela se recorda, diante de alguns casos de abusos, que os leigos não podem se aproximar do altar antes que o celebrante tenha comungado; não podem colocar na patena as hóstias consagradas; devem receber a patena das mãos do celebrante e não tomá-la do altar por conta própria; que o celebrante não pode dar o sinal da paz aos fieis deixando o altar.
- Em setembro de 2000 cessa a publicação do semanário da Ação Católica italiana “SegnoSette”, que em muitas ocasiões havia expressado posições divergentes do ensinamento católico sobre temas políticos, eclesiais e morais.
- A CDF, com uma Notificação de 30 de novembro, obtém a abjuração do teólogo austríaco Reinhard Messner que havia, entre outras coisas, sustentado que “em caso de conflito é sempre a tradição, ou ainda a teologia, que deve ser corrigida a partir da Escritura, e não a Escritura que deve ser interpretada à luz de uma tradição sucessiva (ou de uma decisão magistral)”.

* Extraído de Totus tuus network. Traduzido por Paulo R. A. Pacheco.

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