sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Cartas do P.e Aldo 176

Asunción, 06 de janeiro de 2011.

Há nove anos, na paróquia São Rafael, seguindo a liturgia natalícia, celebramos a família de modo solene, no dia da Sagrada Família. Uma tradição que quisemos colocar como alternativa àquelas iniciativas maçônicas e laicistas que festejam o dia das mães no mês de maio e o dia – quase não observado – dos pais em junho.
Não existe “maternidade” ou “paternidade” sem família, sem aquele lugar original, criado pelo mesmo Deus, como é contado no Gêneses, quando o Onipotente afirma “façamos o homem à nossa imagem e semelhança... homem e mulher. (...) O homem abandonará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher e os dois serão uma só carne”. E foi assim. O matrimônio monogâmico e heterossexual foi uma iniciativa divina que nem mesmo o pecado original conseguiu destruir.
Todavia, as consequências do pecado original se tornaram evidentes imediatamente: nem o homem nem a mulher sozinhos conseguiram viver mais naquela comunhão original. Por esse motivo, foi necessária a Encarnação de Jesus que instituiu o Sacramento do Matrimônio, ou seja, a possibilidade tanto para o homem como para a mulher de voltar a viver aquela experiência única e original – a de ser uma só carne – que Deus mesmo havia dado de presente a eles, os criando.
O matrimônio está na origem da família como único lugar onde acontece o milagre da paternidade e da maternidade. Por esse motivo, na cultura niilista de hoje, como sua dupla visada de relativismo e de hedonismo, eliminou-se a festa da família, substituindo-a com o dia das mães e o dia dos pais. Pai não é quem fecunda uma mulher, nem mãe é aquela que expele uma criatura do seu ventre. Também os animais fazem essas coisas. Pai e mãe é um dom do Alto, fruto de uma vocação divina que chama o homem e a mulher a formarem um lar no qual se louve o nome do Senhor e se permite a Deus, através dos filhos, levar adiante o seu plano de salvação.
Num mundo que festeja até o dia do agente funerário, somente a Igreja festeja a família, recordando a Sagrada Família de Nazaré. No Paraguai não há categoria de pessoas que não tenham um dia dedicado à sua profissão... e pobre da pessoa que não cumprimenta o festejado!
Por isso, todos os anos, no primeiro domingo depois do Natal, na nossa paróquia, celebramos este dia benzendo e entregando às crianças a vassoura.
Por que a vassoura? Porque é o símbolo da limpeza, da ordem na casa, porque é o instrumento doméstico mais antigo e comum. Porque São Martinho de Porres chegou à santidade usando a vassoura com amor, oferecendo a Cristo o seu trabalho. Para as crianças, como lhes expliquei, lembrando de minha infância, é o primeiro contato com o trabalho físico da casa, é a modalidade para que compreendam a ordem, a limpeza, a beleza.
Por isso, foi bonito, no domingo dia 26 de dezembro, quando pedi às crianças para subirem ao altar para me mostrarem se sabiam usar uma vassoura. Muitos sim, outros não. Então, peguei a vassoura e, diante de todos, expliquei a eles como se pega e como se usa. Há 20 anos sou fiel a este gesto.
Aprenderam rápido o uso e o significado do gesto. Depois, rindo, expliquei a eles como os meus pais usavam a vassoura na minha bunda, quando eu fazia alguma má-criação, para que eu pudesse entender como viver.
Foi, de fato, bonito esse gesto, porque me agrada pensar ainda em Jesus que, desde pequeno, aprendeu a amar e a usar a vassoura ajudando os seus pais, antes de usar a serra e o martelo etc.
Creio que a vassoura seja um dos instrumentos mais antigos e familiares do mundo. Por isso, disse às crianças que merece muito respeito, explicando também como recolocá-la no seu lugar, com a ponta do cabo para baixo e “os cabelos” para cima.
O novo Paraguai, aquele que nasce do encontro com Cristo, não passa em primeiro lugar pela política nem pela economia, mas pela vassoura. Ou seja, pela família que educa os seus filhos.
Padre Aldo.

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