domingo, 27 de março de 2011

Cartas do P.e Aldo 183

Asunción, 27 de março de 2011.

De volta ao Paraguai, vindo da Itália e de Portugal, onde estive movido apenas por aquilo que São Paulo disse – “Caritas Cristo urget nos” – e pelo amor aos meus Jesus que sofrem, tive uma surpresa comovida que confirma aquilo que Jesus disse: “As prostitutas vos precederão no reino dos céus”, ou “se não vos tornares como crianças não entrareis no reino dos céus”.
Adolfina, uma mulher de 60 anos, mãe de 7 filhos e que viveu na rua catando latinhas de refrigerante etc., está consciente de que morrerá em breve. Nunca teve um marido. A sua longa internação entre nós foi muito feliz: se alegrava com tudo, comovia-se por poder tomar o café da manhã, o almoço, o lanche, o jantar... Coisas que nunca soube o que eram, já que sempre viveu na rua. Agora, com a serenidade de uma criança nos braços de sua mãe, está se preparando para morrer.
Por isso, quis redigir um testamento dizendo para quem deixava tudo aquilo que possui.
Diz o testamento: “Deixo meu barracão [porém, fique claro que, para nós, é algo de muito pior] ao meu filho mais novo; o dinheirinho conseguido no trabalho de bordado que fiz enquanto estive na clínica [deve ser pouco mais de 60 reais] será dividido: uma parte para o meu filho mais novo, outra para os meus amigos de doença e outra parte quero deixar para o Santíssimo Sacramento, o diretor geral da Clínica. E, finalmente, o único animal doméstico que tenho – um ganso – deixo ao Padre Aldo, porque no dia 25 de março será a Festa da Anunciação e será inaugurada a finalização dos trabalhos estruturais da clínica, de forma que ele possa fazer a festa em honra da Divina Providência com todos os amigos”.
Não apenas fiquei comovido até às lágrimas, mas também pensei em todos os meus milhares de amigos, famílias, crianças, jovens que, com tanta dificuldade, conseguem viver e que permitiram este milagre da nova clínica, e também naqueles que, vítimas do terrível e odioso poder do dinheiro (para quem pedi a colaboração), são insensíveis a Cristo que sofre e morre. Mas, não falo de gente estranha, falo de cristãos, ou seja, de pessoas que, pelo menos nominalmente, pertencem a Cristo, a quem me permiti – somente por Cristo e não por mim, que “nasci nu e morrerei nu” – pedir uma ajuda para que a longa fila que espera para morrer aqui diminuísse.
Por isso, esta pobre mulher que viveu na rua me deixou tudo o que tinha, deixou para Cristo: um ganso. Amigos, que tapa na minha cara, que tapa na cara de cada um! Faz-nos pensar na oferta da viúva. Graças a tantos que, com sua simplicidade e seu afeto, me sustentam junto com Padre Paolino, numa obra que eu, absolutamente, não quis, mas que floresceu como uma flor a partir daquele abraço de Giussani, no dia 25 de março, festa da Anunciação, na Rua Martinengo. Também o presente de Adolfina, o ganso, é fruto daquela ternura.
Com afeto
Padre Aldo

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