terça-feira, 13 de setembro de 2011

Fazei tudo o que ele vos disser



Encontro com os jovens casais

Discurso do Santo Padre Bento XVI

Praça do Plebiscito, Ancona
Domingo, 11 de setembro de 2011

Caros casais,
Fico feliz por concluir esta jornada intensa, ponto alto do Congresso Eucarístico Nacional, encontrando-vos, quase querendo confiar a herança deste evento de graça às vossas jovens vidas. De resto, a Eucaristia, dom de Cristo para a salvação do mundo, indica e contém o horizonte mais verdadeiro da experiência que estais vivendo: o amor de Cristo como plenitude do amor humano. Agradeço ao Arcebispo de Ancona-Osimo, Dom Edoardo Menichelli, por sua saudação cordial e profunda, e a todos vós por esta participação tão viva; obrigado também pelas perguntas que me dirigistes e que eu recebo confiando na presença em nosso meio do Senhor Jesus: Ele apenas tem palavras de vida eterna, palavras de vida para vós e para o vosso futuro!
As perguntas que fizestes, no atual contexto social, assumem um peso ainda maior. Gostaria de oferecer-vos apenas algumas orientações para uma resposta. Devido a certos aspectos, nosso tempo não é fácil, sobretudo para vós jovens. A mesa está cheia de muitas coisas deliciosas, mas, como no episódio evangélico das Bodas de Caná, parece que faltou o vinho da festa. Sobretudo a dificuldade para encontrar um trabalho estável estende um véu de incerteza sobre o futuro. Esta condição contribui para adiar a tomada de decisões definitivas, e incide de forma negativa sobre o crescimento da sociedade, que não consegue valorizar plenamente a riqueza de energias, de competências e de criatividade da vossa geração.
Falta o vinho da festa mesmo numa cultura que tende a prescindir de claros critérios morais: na desordem, cada um é impulsionado a se mover de maneira individual e autônoma, frequentemente apenas no perímetro do presente. A fragmentação do tecido comunitário se reflete num relativismo que ataca os valores essenciais; a consonância de sensações, de estados de ânimo e de emoções parece mais importante do que o compartilhamento de um projeto de vida. Mesmo as escolhas de fundo se tornam frágeis, expostas a uma perene revogação, que frequentemente é entendida como expressão de liberdade, enquanto que, na verdade,assinala justamente a carência de liberdade. Pertence a uma cultura privada do vinho da festa também a aparente exaltação do corpo, que, na realidade, banaliza a sexualidade e tende a fazer com que ela seja vivida fora de um contexto de comunhão de vida e de amor.
Caros jovens, não tenhais medo de enfrentar estes desafios! Nunca percais a esperança. Tende coragem, mesmo nas dificuldades, permanecendo firmes na fé. Estai certos de que, em toda circunstância, sois amados e guardados pelo amor de Deus, que é a nossa força. Deus é bom. Por isto é importante que o encontro com Deus, sobretudo na oração pessoal e comunitária, seja constante, fiel, exatamente como é o caminho do vosso amor: amar a Deus e sentir que Ele me ama. Nada nos pode separar do amor de Deus! Estai certos, pois, de que também a Igreja está próxima de vós, vos sustenta, não cessa de olhar para vós com grande confiança. Ela sabe que tendes sede de valores, os verdadeiros, sobre os quais valha a pena construir a vossa casa! O valor da fé, da pessoa, da família, das relações humanas, da justiça. Não vos desencorajeis diante das carências que parecem apagar a alegria do banquete da vida. Nas Bodas de Caná, quando o vinho faltou, Maria convidou os servos a se dirigirem a Jesus e lhes deu uma indicação precisa: “Fazei tudo o que ele vos disser” (Jo 2, 5). Guardai como um tesouro estas palavras, as últimas de Maria relatadas pelos Evangelhos, quase como um testamento espiritual, e sempre tereis a alegria da festa: Jesus é o vinho da festa!
Como noivos, vós estais vivendo um tempo único, que abre para a maravilha do encontro e ajuda a descobrir a beleza de existir e de ser preciosos para alguém, de poder dizer reciprocamente: tu és importante para mim. Vivei com intensidade, de modo progressivo e com verdade este caminho. Não renunciai à tarefa de perseguir um ideal alto de amor, reflexo e testemunho do amor de Deus! Mas, como viver esta fase da vossa vida, testemunhar o amor na comunidade? Gostaria de vos dizer, antes de tudo, que evitai fechar-vos em relacionamentos intimistas, falsamente seguros; fazei, pelo contrário, que a vossa relação se torne fermento de uma presença ativa e responsável na comunidade. Não esquecei, pois, que, para ser autêntico, também o amor solicita um caminho de amadurecimento: a partir da atração inicial e do “sentir-se bem” com o outro, educai-vos a “querer bem” ao outro, a “querer o bem” do outro. O amor vive de gratuidade, de sacrifício de si, de perdão e de respeito pelo outro.
Caros amigos, todo amor humano é sinal do Amor eterno que nos criou, cuja graça santifica a escolha de um homem e de uma mulher de se entregarem reciprocamente na vida do matrimônio. Vivei este tempo do noivado na espera confiante de um dom como este, que será recebido na medida em que percorreis um caminho de conhecimento, de respeito, de atenção que não deveis nunca perder de vista: é somente assim que a linguagem do amor permanecerá significativa mesmo com o correr dos anos. Educai-vos, pois, desde agora, à liberdade da fidelidade, que vos leva a ser guardiões uns dos outros, até ao ponto de viverem um para o outro. Preparai-vos para escolher com convicção o “para sempre” que está por trás do amor: a indissolubilidade, antes de ser uma condição, é um dom desejado, solicitado e vivido, para além de toda mutável situação humana. E não pensai, segundo uma mentalidade difusa, que a convivência seja garantia para o futuro. Queimar as etapas acaba por fazer “queimar” o amor, que, pelo contrário, precisa do respeito pelo tempo e pela progressão nas expressões; precisa que dê espaço a Cristo, que é capaz de tornar um amor humano fiel, feliz e indissolúvel. A fidelidade e a continuidade do vosso querer bem vos tornará capazes também de serdes abertos para a vida, de serdes genitores: a estabilidade da vossa união no Sacramento do Matrimônio permitirá aos filhos que Deus quererá vos dar que cresçam confiantes na bondade da vida. Fidelidade, indissolubilidade e transmissão da vida são os pilares de toda família, verdadeiro bem comum, patrimônio precioso para toda a sociedade. Desde já, fundai sobre esses valores o vosso caminho rumo ao matrimônio e testemunhai-o também aos vossos coetâneos: é um serviço precioso! Sede gratos a todos os que, com empenho, competência e disponibilidade, vos acompanham na formação: são sinal da atenção e do cuidado que a comunidade cristão tem por vós. Não permanecei sós: buscai e acolhei a companhia da Igreja.
Gostaria de retornar ainda sobre um ponto essencial: a experiência do amor tem em si a tensão para Deus. O verdadeiro amor promete o infinito! Fazei, portanto, deste vosso tempo de preparação para o matrimônio um itinerário de fé: redescobri, para a vossa vida de casal, a centralidade de Jesus Cristo e do caminhar na Igreja. Maria nos ensina que o bem de cada um depende da escuta dócil da palavra do Filho. Em que se confia a Ele, a água da vida cotidiana se transforma em vinho de um amor que torna boa, bela e fecunda a vida. Caná, de fato, é anúncio e antecipação do dom do vinho novo da Eucaristia, sacrifício e banquete no qual o Senhor nos alcança, nos renova e transforma. Não perdei a importância vital deste encontro: a assembleia litúrgica dominical vos encontre plenamente participantes: da Eucaristia brota o senso cristão da existência e um novo modo de viver (cf. Esort. ap. postsin. Sacramentum caritatis, 72-73). E, então, não tereis medo de assumir a difícil responsabilidade da escolha conjugal, não temereis entrar neste “grande mistério” no qual duas pessoas se tornam uma só carne (cf. Ef 5, 31-32).
Caríssimos jovens, confio-vos à proteção de São José e de Maria Santíssima; seguindo o convite da Virgem Mãe – “Fazei tudo o que ele vos disser” – não vos faltará o gosto da verdadeira festa e sabereis levar a todos o “vinho” melhor, aquele que Cristo dá para a Igreja e para o mundo. Gostaria de dizer-vos que também eu estou próximo de vós e de todos aqueles que, como vós, vivem este maravilhoso caminho de amor. Abençoo-vos com todo o coração!

* Extraído do site do Vaticano, do dia 11 de setembro de 2011. Traduzido por Paulo R. A. Pacheco.

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