Asunción, 18 de dezembro de 2008.
Caros amigos,
Muitos dos emails de vocês estão cheios de dor, de perguntas, de medos e muitíssimos são a expressão comovida da alegria de coração dos simples, comovidos e cheios de gratidão ao Senhor. Muitos estão também cheios de “raiva”, diria que de “desespero”, particularmente quando recordo aquilo que Giussani dizia e vivia e que Carrón, incansavelmente, nos repete: “a realidade é amiga e amiga sempre”. Não me cansarei de repetir essas palavras, nem mesmo hoje quando o meu estado de ânimo é preto como o carvão e um peso – algo que conheço bem e com o que convivo há 20 anos – me oprime o estômago, fazendo-me suar o dobro do normal.
O calor é de 48°, a vida exigente, os doentes, as crianças, os velhos, a colônia de férias, a catequese nos diversos setores, a construção do novo hospital, as respostas aos emails (que são, para mim, uma alegria), todos os momentos... tudo isso vivido a partir do deserto interior e, além do mais, com aquela fera no estômago que mora ali há 20 anos... mas tudo isso não apenas não me determina, mas me impulsiona a repetir infinitamente “eu sou Tu que me fazes” e a olhar, em cada instante, para Cristo. Além do mais, à noite eu não conseguia dormir e fiquei um pouco de saco cheio... mas, mesmo isto, me fez dizer: “Jesus, te ofereço”... eu pensava no Getsêmani e dizia de novo: “até mesmo os cabelos da minha cabeça estão contados”. Aí, decidi tomar o sonífero e dormi até as 10h desta manhã. Quando acordei, sendo que estou habituado a um ritmo e a uma regra precisos, me encontrei com todos os meus planos mudados. E a primeira reação foi de raiva, porque os meus bons projetos sempre precisos deveriam ser deixados de lado. Mas, bastou um segundo: “esta é a realidade à qual obedecer”... e no segundo seguinte: “eu sou Tu que me fazes”... e comecei bem o dia às 10h da manhã, ao invés de começá-lo às 05h.
Obedecer à realidade é esta coisa simples: prestar contas com a vida e reconhecer que é um Outro que conduz você. Quanta paz! Mesmo que eu não tenha podido dar a comunhão para os doentes, ou fazer a procissão e recitar as laudes com meus confrades... coisas que, para mim, são tão caras. A realidade é amiga mesmo quando você não dorme ou tem que tomar um remédio porque sabe que no dia seguinte deveria almoçar com os 120 dependentes da Fundação São Rafael e jantar com o Vice-Presidente da República e os seus 90 colaboradores.
Mas, mais do que a essa minha falação, escutem o meu pequeno Luís que estava há alguns meses na clínica, escutem a sua mãe.
Luís morreu recentemente. Peço-lhes que escutem bem o que ele dirá... Mas, antes, gostaria de lhes contar o que uma amiga me disse enquanto eu estava escrevendo esta carta, diante do Santíssimo Sacramento: “Padre, posso falar? O Senhor me, nos está amando tanto... é para que possamos mudar, nos converter. Fanny, a minha irmã mais nova, neste momento, está na sala de operações para extrair um câncer no seio; minha irmã mais velha tirou um câncer no cólon; a terceira está prostrada no quarto e não pode mais se mover. Fanny já tinha perdido um filho de 15 anos e, além do mais, estava envolvida num processo injusto, há anos, com seu marido. Porém, padre, Deus permite tudo isto porque nos ama, nos quer Seus”. O que mais dizer? Cada dia, a minha vida vê estes milagres.
Obedecer à realidade é esta coisa simples: prestar contas com a vida e reconhecer que é um Outro que conduz você. Quanta paz! Mesmo que eu não tenha podido dar a comunhão para os doentes, ou fazer a procissão e recitar as laudes com meus confrades... coisas que, para mim, são tão caras. A realidade é amiga mesmo quando você não dorme ou tem que tomar um remédio porque sabe que no dia seguinte deveria almoçar com os 120 dependentes da Fundação São Rafael e jantar com o Vice-Presidente da República e os seus 90 colaboradores.
Mas, mais do que a essa minha falação, escutem o meu pequeno Luís que estava há alguns meses na clínica, escutem a sua mãe.
Luís morreu recentemente. Peço-lhes que escutem bem o que ele dirá... Mas, antes, gostaria de lhes contar o que uma amiga me disse enquanto eu estava escrevendo esta carta, diante do Santíssimo Sacramento: “Padre, posso falar? O Senhor me, nos está amando tanto... é para que possamos mudar, nos converter. Fanny, a minha irmã mais nova, neste momento, está na sala de operações para extrair um câncer no seio; minha irmã mais velha tirou um câncer no cólon; a terceira está prostrada no quarto e não pode mais se mover. Fanny já tinha perdido um filho de 15 anos e, além do mais, estava envolvida num processo injusto, há anos, com seu marido. Porém, padre, Deus permite tudo isto porque nos ama, nos quer Seus”. O que mais dizer? Cada dia, a minha vida vê estes milagres.
Agora, deixo o meu pequeno Luisito, morto, dizer algo para vocês. Ele tinha apenas 12 anos e recebeu recentemente a sua primeira comunhão e a crisma, aqui na clínica, antes de morrer.
A HISTÓRIA DE LUÍS
QUE BELEZA, QUE AMOR!
Luís, uma criança de 12 anos, estava indo embora. A sua respiração era, cada vez mais, profunda e espaçada. Apenas abria os olhos. Mal escutava direito. Olhava para a Virgenzinha, olhava para sua mãe.
À pergunta do sacerdote “você ama Jesus? Está pronto para se encontrar com Ele?”, ele respondeu: “Sim, padre”.
Sua mãe tinha reunido toda a sua família para que dissessem adeus para Luís. Foi um momento belo e feliz para todos.
Quando foram embora, a mãe deixou estas linhas, fruto das noites de insônia enquanto velava, como a Virgem Maria, seu filho inquieto e atormentado pela dor de uma metástase que o consumiu totalmente:
“Deus meu, estou diante do meu filho que está morrendo. Eu seria mentirosa se afirmasse que estou resignada. Estou triste e com medo, mas em paz porque fiz tudo o que era humanamente possível para curá-lo.
Ó Deus, meu filho está nas Tuas mãos...! Tu podes fazer o milagre de curá-lo, se quiseres. Senhor, não digo isso como uma reprovação, mas Te peço com todo o meu coração. Mas, se meu filho está destinado a voltar com Teus anjos para o Paraíso, eu fico feliz. Senhor, te peço uma vez mais que Luís não sofra, que não sinta dor... e Te agradeço por me ter dado ele como filho.
É uma criança especial: alegre, afetuoso, sempre pensa primeiro nos outros.
Lembro-me de que, quando o mandava à padaria para comprar pães, na volta, ele dividia, caminhando, com os seus amigos e me dizia: ‘mamãe, não fique com raiva. Tire o que me toca e dê para os meus irmãos’.
Lembra-Te, Senhor, de quando ele pedia a seu pai que cantasse, tocando violão, durante a Missa na capela?
Este meu filho, Senhor, Tu o escolheste para nos dar uma lição na vida: como combater, nesta vida, conhecendo-Te, ‘Deus meu’, como ele frequentemente dizia.
Agradeço-Te, Senhor, porque graças à doença do meu Luís, ajudaste meus outros filhos a saírem do poço sem fundo no qual haviam caído e começarem de novo o Teu caminho. Agradeço-Te, Senhor, por me teres permitido tê-lo por perto um ano a mais; ele me ajudou a me aproximar de Ti, ó Deus, porque, apesar de tudo aquilo que vejo e sofro, seu que ele vai para o céu, porque em todo este longo tempo de doença ele só disse ‘ai’ duas vezes: quando estava se recuperando da cirurgia e quando lhe picaram os pulmões.
Obrigada, Senhor, porque através da doença, Luís chegou à esta clínica da ‘Divina Providência’, para estar mais perto de Ti e conhecer-Te melhor.
Peço-Te que me ajude a ser, cada dia mais, forte na minha fé, Senhor, e tem piedade desta pobre pecadora e manda a Tua misericórdia sobre a minha família”.
Poucos dias antes de morrer, Luís escreveu uma carta a Jesus:
“Ó Jesus, antes de ter esta doença eu já Te conhecia, mas muito pouco.
Ao ficar doente conheci-Te mais, pouco a pouco. Agora, sei que Tu és o meu Salvador, porque todas as coisas que Te pedia ou tudo aquilo que Te peço, Tu sempre me deste. Lembro-me de que, uma vez, Ti pedi pela saúde de minha mãe e Tu me escutaste, Senhor: fizeste mamãe se sentir melhor e, agora, ela não tem mais aquela sua doença das vertigens. Ou então quando me faltava o ar e eu estava me asfixiando, Tu me deste o respiro para dizer estas palavras. Tu vieste para a terra para morrer por mim e quando decidires que devo ir para perto de Teu Pai, eu irei. Obrigado, Senhor, por tudo! Obrigado pelos dias que me deste para viver! Obrigado pela luz! Obrigado por estar ainda com minha mãe, com meus irmãos, com todas as pessoas que mais amo.
Luís”
A HISTÓRIA DE LUÍS
QUE BELEZA, QUE AMOR!
Luís, uma criança de 12 anos, estava indo embora. A sua respiração era, cada vez mais, profunda e espaçada. Apenas abria os olhos. Mal escutava direito. Olhava para a Virgenzinha, olhava para sua mãe.
À pergunta do sacerdote “você ama Jesus? Está pronto para se encontrar com Ele?”, ele respondeu: “Sim, padre”.
Sua mãe tinha reunido toda a sua família para que dissessem adeus para Luís. Foi um momento belo e feliz para todos.
Quando foram embora, a mãe deixou estas linhas, fruto das noites de insônia enquanto velava, como a Virgem Maria, seu filho inquieto e atormentado pela dor de uma metástase que o consumiu totalmente:
“Deus meu, estou diante do meu filho que está morrendo. Eu seria mentirosa se afirmasse que estou resignada. Estou triste e com medo, mas em paz porque fiz tudo o que era humanamente possível para curá-lo.
Ó Deus, meu filho está nas Tuas mãos...! Tu podes fazer o milagre de curá-lo, se quiseres. Senhor, não digo isso como uma reprovação, mas Te peço com todo o meu coração. Mas, se meu filho está destinado a voltar com Teus anjos para o Paraíso, eu fico feliz. Senhor, te peço uma vez mais que Luís não sofra, que não sinta dor... e Te agradeço por me ter dado ele como filho.
É uma criança especial: alegre, afetuoso, sempre pensa primeiro nos outros.
Lembro-me de que, quando o mandava à padaria para comprar pães, na volta, ele dividia, caminhando, com os seus amigos e me dizia: ‘mamãe, não fique com raiva. Tire o que me toca e dê para os meus irmãos’.
Lembra-Te, Senhor, de quando ele pedia a seu pai que cantasse, tocando violão, durante a Missa na capela?
Este meu filho, Senhor, Tu o escolheste para nos dar uma lição na vida: como combater, nesta vida, conhecendo-Te, ‘Deus meu’, como ele frequentemente dizia.
Agradeço-Te, Senhor, porque graças à doença do meu Luís, ajudaste meus outros filhos a saírem do poço sem fundo no qual haviam caído e começarem de novo o Teu caminho. Agradeço-Te, Senhor, por me teres permitido tê-lo por perto um ano a mais; ele me ajudou a me aproximar de Ti, ó Deus, porque, apesar de tudo aquilo que vejo e sofro, seu que ele vai para o céu, porque em todo este longo tempo de doença ele só disse ‘ai’ duas vezes: quando estava se recuperando da cirurgia e quando lhe picaram os pulmões.
Obrigada, Senhor, porque através da doença, Luís chegou à esta clínica da ‘Divina Providência’, para estar mais perto de Ti e conhecer-Te melhor.
Peço-Te que me ajude a ser, cada dia mais, forte na minha fé, Senhor, e tem piedade desta pobre pecadora e manda a Tua misericórdia sobre a minha família”.
Poucos dias antes de morrer, Luís escreveu uma carta a Jesus:
“Ó Jesus, antes de ter esta doença eu já Te conhecia, mas muito pouco.
Ao ficar doente conheci-Te mais, pouco a pouco. Agora, sei que Tu és o meu Salvador, porque todas as coisas que Te pedia ou tudo aquilo que Te peço, Tu sempre me deste. Lembro-me de que, uma vez, Ti pedi pela saúde de minha mãe e Tu me escutaste, Senhor: fizeste mamãe se sentir melhor e, agora, ela não tem mais aquela sua doença das vertigens. Ou então quando me faltava o ar e eu estava me asfixiando, Tu me deste o respiro para dizer estas palavras. Tu vieste para a terra para morrer por mim e quando decidires que devo ir para perto de Teu Pai, eu irei. Obrigado, Senhor, por tudo! Obrigado pelos dias que me deste para viver! Obrigado pela luz! Obrigado por estar ainda com minha mãe, com meus irmãos, com todas as pessoas que mais amo.
Luís”
Nenhum comentário:
Postar um comentário