quinta-feira, 23 de abril de 2009

Cartas do P.e Aldo 35

Asunción, 15 de dezembro de 2008.

Caros amigos,
“pode uma mãe abandonar os seus filhos?”... “Pois bem, Eu nunca te esquecerei”, disse o profeta.
Um fato ocorrido na clínica me encheu de alegria. Foi internado, recentemente, um velho, doente grave de câncer na próstata. Vivia numa espelunca do famoso “Mercado 4” – conhecido em todo o Paraguai por ser uma imundície onde se vende de tudo a baixo preço e também por ser centro do tráfico. À noite, é muito perigoso passar por ali. Encontraram-no só, sujo, abandonado. A mulher – uma pessoa anônima – nos disse ao telefone: “vão até lá... e encontrarão um homem sozinho que está sofrendo”. Parecia-me escutar o anúncio dos anjos, naquela noite, em Belém, aos pastores: “ide e encontrareis...”. E foi assim, para nós. Trazido para a clínica, limpo e de banho tomado e colocado numa bela cama branca, num quarto com ar condicionado no máximo da refrigeração (do lado de fora, estava fazendo uns 48°... demais!). Uma vez ambientado, desafogou o seu drama terrível. “Padre, obrigado! Obrigado, padre!”
“Nasci numa região italiana (por respeito, não direi nem o nome, nem os lugares). Fiquei órfão muito novo e fui colocado num instituto agrário gerenciado por religiosos. Nasci em 1922. Estudei naquele instituto, me tornando técnico agrícola. O fascínio por aquela congregação me fez desejar ser um religioso. Vivi, até o final da Segunda Guerra Mundial, em um convento na Itália.
Mais tarde, os superiores me mandaram para o Paraguai, onde vivo há 50 anos. Fiz de tudo nas diversas casas da congregação. Mas, acabei perdendo a cabeça por uma mulher e a minha vida se tornou um inferno. Todos me abandonaram: eu era como um condenado à morte... aquela morte moral e que destrói o homem.
Fiz de tudo, padre. Somente alguns confrades se lembravam de mim [mesmo na Igreja, acrescento eu, acontece aquilo que diz o profeta a propósito da mãe]. Pecado, solidão, desespero... e, agora, estou aqui. Padre, me escute em confissão, me perdoe”.
Com o coração dolorido e com os olhos úmidos, eu o escutei e absolvi... juntos, renovamos os votos religiosos... no fundo, mesmo eu seria um ex-religioso, mas, como nunca antes, sou porém todo de Jesus.
Olhando para este meu irmão, eu sorria, sentindo uma vez mais aqueles braços de Giussani que me acolhiam, na casa da Rua Martinengo, 17, naquele dia 25 de março de 1989.
Se, de um lado, ele declara que serviu e amou àquela que o abandonou por causa do seu pecado; sempre, por outro lado, a Igreja o acolheu, abraçou e amou.
Que bela clínica: tem lugar apenas para os desgraçados e pecadores como eu.
O velho Oscar, agora, está comigo e revive a sua vida religiosa, depois de ter renovado os seus votos e reconhecido os seus pecados. Raras vezes eu vi e ouvi uma confissão como a dele. Eu diria: se, para saborear assim o sentido do ser pecador e, sobretudo, para saborear assim uma confissão como ele a saboreou, fosse necessário viver uma vida desordenada como a que ele viveu... valeria a pena...
Encontrei um santo... Se vocês vissem como ele recebe a Eucaristia, como suporta o câncer que o consome, como ele me olha... Somente os pecadores, ou seja, os que encontraram a Cristo, têm um olhar assim.
Sinto-me um fariseu, comparado com ele.
Os inocentes Victor, Celeste, Cristina, Aldo convivem com a inocência e sustentam o hospital com os santos inocentes recuperados que, graças à dor tornada confissão, graças à Eucaristia, recuperaram a inocência doutrinal.
Um abraço
P.e Aldo

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