sexta-feira, 29 de maio de 2009

Cartas do P.e Aldo 66


Asunción, 29 de maio de 2009.

Caros amigos,
voltei da Itália, onde pude respirar o sabor dos exercícios de Rímini (refere-se aos Exercícios Espirituais da Fraternidade de Comunhão e Libertação, que acontecem a cada ano, nesse período; ndt), que devorei, lendo o livrinho em bem pouco tempo. Quantos encontros e quanta alegria encontrei naqueles que já estão trabalhando sobre aquilo que Carrón nos disse nos exercícios. Nós, em Asunción, faremos os exercícios na metade de junho, assistindo ao vídeo gravado na Itália.
Contar para vocês os momentos belos que vivi na Itália seria impossível: alguns muito particulares, outro com tantas pessoas... mas, particularmente a alegria de rever, depois de quase 40 anos, alguns daqueles poucos rapazes do liceu de Battipaglia onde, nos anos 70, eu estive e descobri a ternura com a qual Deus me pegou pelos cabelos, salvando a minha vida. Nem sei como agradecer a eles por me terem acolhido como me acolheram depois de quase 40 anos. Revi, ali, em pé, adultos comovidos. Que Deus os abençoe, porque sem eles eu não seria este pobre, humilde pecador de quem deus pode dispor para fazer ver a misericórdia eterna do Seu amor por cada homem.
Enquanto escrevo, tenho diante de mim a pequena Cristina que está gemendo, Victor que aperta os punhos de dor e meu filho Aldo com sua grande, enorme, cabeça, roncando. Acabei de colocar na cama os outros 24, com a mãe Cristina e, agora (são quase 23h), estou um pouco no silêncio da noite com os menores de todos que sofrem, com as minhas pequenas hóstias brancas que, agora, são 6 – além dos três, tem ainda Celeste (está cada vez mais bonita e já está aprendendo a falar), Wilson (de 14 anos e cheio de metástases) e Mário (de 12 anos, com hidrocefalia grave). Escrevo e olho para eles. É, de fato, rezar, ver os sinais inconfundíveis do Mistério que se faz presente nos gemidos dos meus pequeninos. Nunca os abandonarei. Eles são a evidência de que cada um de nós é o fruto do Mistério, é relação com o Infinito. Se não fosse assim, seria terrivelmente absurdo. Mas não é assim porque eles são Jesus – me entendem? –, eles são Jesus na cruz... e, então, entendem por que não consigo me afastar? ou por que a cada vez que devo deixá-los experimento uma dor nova, porque eles são a minha riqueza: me fazem ver Ele que me faz, fazendo eles. Dessa forma, não existe cansaço, porque o Mistério é repouso, doçura, paz. Olho-os sofrendo e sorrio porque, encontrando Jesus, encontro a ironia, ou seja, a liberdade de olhar cada circunstância como dom, como positividade.
Voltei à meia-noite e meia (horário da Itália), nesta segunda-feira, da Itália... e fiquei um dia em São Paulo. Saí da Itália no domingo passado às 15h, do aeroporto Fiumicino. Cheguei em São Paulo, na segunda-feira, às 5h da manhã: Marcos e Cleuza me esperavam. Fui embora de São Paulo às 22h, para chegar em Asunción à meia-noite e meia.
Em São Paulo, um dia com os Amigos. Não poderia – mas o cansaço não existe em certos relacionamentos – não ficar e passar 12 horas com os amigos Marcos, Cleuza, Julián, Alexandre etc. Foi fantástico.
Esperaram por mim por duas horas no aeroporot, por causa do atraso do avião: “mas, para nós, esperar um amigo foi uma alegria, estávamos desejosos de ver você”.
Em seguida, fomos para a casa deles: um café da manhã que nem lhes conto! E uma cama para descansar e dormir um pouco. Os nossos diálogos, de repente, se concentraram sobre o retiro de Rímini, particularmente sobre “circunstâncias”... e esta circunstância que nos foi dada para viver. Às 11h, com Enzo – o “novo jovem” do grupo adulto (trata-se de Vincenzo Franschini, 65 anos, da casa do Grupo Adulto de São Paulo; ndt) – fomos para a sede da Associação. Nem lhes conto como fui acolhido! Não podia acreditar nos meus olhos. O almoço solene, junto com os velhos do Movimento e com a nova safra que nos está arrastando a todos... como em Battipaglia, há 40 anos atrás, mas com uma espessura maior.
No Galpão, milhares de jovens (3 mil a cada dia) passavam para se informar, nos respectivos stands organizados pelas universidades privadas de São Paulo, sobre em qual faculdade se apoiarem. Enquanto que, em uma salinha ao lado, a cada meia hora, uns cinquenta jovens escutavam as condições para fazer parte da Associação. Um espetáculo impossível de descrever. As nossas banquinhas em frente das universidades eram mesmo apenas banquinhas comparadas com isso. Mas, para além dos números, o que impressionava era a qualidade do respiro que se vivia, que se sentia. Uma febre de vida. Somente as pedras não saberiam se comover.
Depois do almoço solene, eles prepararam um espetáculo de samba belo de se ver, com as bailarinas clássicas. Meia hora de verdadeiro repouso. Mas a surpresa foi mesmo quando, na rua, enquanto estávamos no carro, Marcos me dá uma bolsa, belíssima, com uma foto dentro (vocês podem vê-la em anexo) e mil dólares para a Casinha de Belém. Quando me deu a bolsa, Marcos me disse: “é a nossa caritativa mensal, para nos lembrarmos do rostos de vocês. A caritativa é para que nós revivamos, a cada dia, a memória de vocês, nossos amigos”. Nunca tinha visto sendo definida assim a caritativa. “Neste mês, para sermos fiéis a esta amizade, cozinhamos, fizemos bolos, vendemos refrigerante nos sinais de trânsito e em lugares públicos, porque, de agora em diante, somos uma mesma coisa e a obra de São Rafael é nossa”, me dizia Cleuza.
Escutava a tudo isso comovido, enquanto via desfilar diante dos meus olhos dezenas de jovens universitários pobres e um monte de pessoas humildes... todas protagonistas do próprio destino.
Nunca havia visto uma coisa igual, um modo tão simples de ajudar os irmãos mais pobres, como os meus doentes e velhos.
É exatamente a febre de vida que move tudo. Ali, a posição das pessoas é a de responder sempre e rápido à realidade.
Finalmente, o encontro da Nossa fraternidade, das 16h às 21h30, na casa de Marcos e Cleuza. E ficaríamos ainda mais se eu não tivesse que tomar o avião. Tema: os exercícios do CLU, com Carrón (ocorrido em dezembro de 2008, com o titulo “O desafio do presente”; ndt). Uma leitura e, em seguida, a vida, a realidade. Eu estava cozido de cansado, mas não me dava conta de tão evidente o ar do Tabor (refere-se à passagem da transfiguração de Cristo, no Monte Tabor; ndt) ali. Depois, a Missa, o jantar... e que jantar! Para, então, Marcos e Cleuza me levarem ao aeroporto.
Que ternura, que atenção, que gratuidade! Exatamente como vi na Itália... tocada a mesma coisa pelo calor dos que seguem a Carrón... porque, como eles dizem, quem segue a Carrón é mais feliz e, portanto, é capaz de uma gratuidade única. Brasil. Paraguai.. é, de fato, uma esperança, um movimento, um Fato... aquele Fato que aconteceu para mim em Battipaglia se tornou adulto na minha vida.
Com afeto
P.e Aldo

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