quarta-feira, 22 de julho de 2009

Aquela corrida para o espaço que nos fez entender quem somos


por Marco Bersanelli

A Terra é o único “planeta duplo” do sistema solar, quer dizer é o único com um satélite de dimensões comparáveis ao planeta mesmo. Penso nisso quando, às vezes, olho o disco branco da Lua que clareia as nossas noites terrestres. A Lua é um corpo relativamente grande e próximo, o gêmeo um pouco menor da Terra. Este fato tem muitas e profundas consequências. Antes de mais nada, desde a pré-história, o homem pôde gozar de uma lâmpada noturna, e pôde exercitar a sua imaginação interrogando-se sobre a natureza daquele misterioso globo iluminado de formas diversas. A Lua é suficientemente grande e próxima, de forma que, mesmo a olho nu, podemos descobrir algumas estruturas na sua superfície, aquelas manchas escuras que tantas discussões acendiam entre os medievais. E Galileu, quatrocentos anos atrás, com um instrumento rudimentar, descobriu crateras e montanhas, revelando a natureza “terrestre” da matéria lunar. Não apenas: sem uma Lua grande e próxima, provavelmente não estaríamos aqui. De fato, a sua presença assegura à Terra a estabilidade da inclinação do eixo de rotação, condição necessária para a estabilidade do clima nos bilhões de anos necessários para a evolução biológica.
Mas, há uma outra consequência: um satélite grande e próximo está mais facilmente ao nosso alcance! A Lua é suficientemente maciça para podermos caminhar nela e a sua distância – 380 mil Km – não é proibitiva. Já nos anos 60, quando o sonho se tornou realidade, um bom velho Volvo talvez conseguisse, no arco de sua carreira, percorrer essa distância, e um avião de linha fazia muito mais quilômetros que isso. Mas, a distância não é tudo, e o desafio é muito mais difícil: a confiabilidade do foguete, o cálculo da velocidade ideal para sair do campo gravitacional terrestre, a desaceleração para aterrar docemente na superfície lunar, a separação e a religação do LEM à nave mãe, a trajetória de reentrada, e infinitos outros aspectos críticos enfrentados pela primeira vez... foi uma aventura absolutamente extraordinária. E que emoção ver a primeira pegada humana no solo extraterrestre, e a vista da esfera azul da Terra que aparece no horizonte lunar! Imagens que falam de toda a fragilidade e grandeza do homem. Um ponto de não retorno.
O homem é atraído pela altura, pelo risco, pela conquista, como todo alpinista e esportista sabem muito bem! E sabe-se que no alpinismo e no esporte há um componente de competição que, por assim dizer, faz parte do jogo. Mesmo os exploradores que séculos atrás iam atrás de novos caminhos de navegação e de “terras incógnitas” para conquistar disputavam para ver quem chegava primeiro. E foi uma verdadeira e trágica corrida aquela que a expedição do inglês Robert Scott fez contra a norueguesa di Roald Amundsen, que, cem anos atrás, levou à conquista do Pólo Sul. Mas, no caso da conquista da Lua, a competição foi de natureza econômica, tecnológica e sobretudo política. Nos anos 60, em plena guerra fria, estava em jogo a supremacia entre Estados Unidos e União Soviética. Em 1957, a URSS surpreendeu os americanos com o lançamento da Sputnik-1, o primeiro satélite em órbita em torno da Terra, e apenas dois anos mais tarde obteve, com a sonda Luna-2, as primeiras imagens da face escura do nosso satélite. O desafio estava lançado. O objetivo Lua se torna, de repente, uma questão de prestígio, um resultado simbólico, um sinal de supremacia planetária.
As motivações não foram de tipo científico. De resto, por que, depois de 40 anos, não voltamos mais à Lua? O fato é que, do ponto de vista do conhecimento, ter mandado alguns homens para a Lua não trouxe grandes novidades. Assim, depois da primeira histórica aventura da Apollo 11, as outras cinco expedições lunares passaram um pouco despercebidas (exceto a dramática aventura da Apollo 13...). Uma vez plantada a bandeira americana, por 40 anos ninguém mais se propôs seriamente a voltar lá. O programa Apollo permitiu, certamente, um enorme avanço no desenvolvimento de novas tecnologias e da informática, especialmente no campo espacial, civil e naturalmente militar. Mas, ficou claro, imediatamente, que a Lua, ainda que próxima da companheira Terra, é um lugar muito inóspito.
A NASA continuou a investir em expedições humanas com o programa Shuttle e a Estação Espacial Internacional, também com a colaboração da ESA. Um dos resultados que emergiram com clareza é a dificuldade para o homem a permanecer por longos períodos no ambiente espacial privado de gravidade e de campo magnético. Hoje, os países emergentes, sobretudo a China, estão pensando em um programa humano na Lua, e a NASA quer responder com a proposta de uma base lunar permanente. Mas, vale a pena, de verdade, algo assim? A administração Bush foi quem retomou essa ideia com o desejo de um desembarque humano em Marte. Mas, para além das vozes midiáticas, as perspectivas são escassas porque uma viagem para Marte seria dificílima, com custos e riscos monumentais e, diria ainda mais, com ganhos cognoscitivos inúteis: além do mais, ineficiente se pensarmos nos programas baseados em sondas instrumentais robotizadas.
Logo depois da conquista da Lua, muitos experts previam que, “no ano 2000”, o homem teria chegado a Marte, Vênus, Plutão e talvez além desses limites. Estamos quase no ano 2010 e não apenas nada disso aconteceu, mas de fato nos desinteressamos elegantemente mesmo da Lua. E isto não por falta de coragem ou de capacidade, mas porque, hoje, somos mais conscientes de como estão as coisas. Demo-nos conta de que fazer o homem sobreviver por longos períodos no espaço é muito difícil e caro e, por enquanto, não acrescenta muito aos nosso conhecimentos. É auspicioso que este realismo saudável continue e aumente, e que, nas próximas décadas (depois, se verá...!), favoreça-se o desenvolvimento de satélites com instrumentos de observação e dispositivos robotizados que permitam ao homem trabalhar no espaço, estudar o universo profundo, o sistema solar e a Terra. A nossa Terra, o gêmeo maior do planeta duplo, que, desde aquele dia 20 de julho de 1969, nos aparece sempre mais como uma verdadeira joia do cosmo.

* Extraído do site IlSussidiario.net, do dia 20 de julho de 2009. Traduzido por Paulo R. A. Pacheco.

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