segunda-feira, 20 de julho de 2009

Cartas do P.e Aldo 93



Asunción, 20 de julho de 2009.

“Não é a dor da minha doença que me aflige, mas o sofrimento e o abandono dos meus irmãos que vivem no mundo, pelas ruas, crianças, velhos, doentes”. Esta é a última expressão de Marciana, pronunciada alguns dias faz, quando já estava no fim da vida, apenas esperando a morte. Ela já era um esqueleto, mas o coração batia forte... ela, com o coração apaixonado por Jesus, já desejava vê-Lo.
Morreu no dia de Nossa Senhora do Carmo, às 22h. Estavam presentes o seu pai e as enfermeiras. Quando chegaram tinha acabado de expirar.
Irmã Sônia (a jovem irmã de clausura que é a alma da clínica) estava tocando a harpa, o pai soluçava e eu, com o coração em pedaços, chorava. Mas, hoje, não quero falar do que aconteceu e do como vivemos os dois dias nos quais velamos o seu corpo (falarei sobre isso depois), mas quero lhes oferecer o seu testemunho, deixado por escrito atrás de cada um de seus quadros.
Amigos, vocês entendem que mesmo o câncer, a dor, são uma circunstância positiva, como nos diz Marciana? Mais: para Marciana, foi a circunstância mais bela que Deus lhe deu. Vejam o que ele me escreveu, no dia 1° de julho passado, num pedaço de papel higiênico, na última vez em que esteve algumas horas no seu pobre “rancho”. Ela escreveu no papel higiênico porque é muito pobre.
Meu Deus, que fé! Que belo o que o Carrón nos repete sobre a beleza das circunstâncias, mesmo a circunstância do câncer!
Amigos, escutem Marciana... e que, do céu, ela mude o nosso coração.


“Ao meu caríssimo Padre Aldo.
A minha viagem está próxima do fim e não quero ir embora sem dizer para o senhor que passei os dias mais belos da minha vida nesta clínica; encontrei os meus irmãos e irmãs doentes como eu, aos quais eu quero tanto bem. Dói-me saber que tenho poucos dias para estar com eles. Peço ao senhor, Padre, que cuide deles, porque sei que dará o melhor de si, que é tanto amor. E eu, daqui por diante, cuidarei do senhor”.
Marciana Elizabeth
julho de 2009
Chorei de alegria e de dor ao ler estas palavras neste pedaço de papel... mas, que santidade! Como cada uma de suas dedicatórias escritas atrás de seus quadros.

“É tranquilo como a água cristalina, é terno como o passarinho com sua cria no ninho, é sagaz como uma criança”.

“Deus me colocou no mundo no dia mais belo do ano – 20 de setembro. É por isso que no meu coração existe apenas primavera”.

* A primeira foto: Marciana, aos 15 anos. A última imagem: O pedaço de papel higiênico no qual Marciana me escreveu a carta. Quanta pobreza! Mas, para ela, o que valia mesmo era “eu sou Tu que me fazes”.

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