por Giorgio Vittadini
Se, como diz Adam Smith, não é benevolência do mestre cervejeiro que produz a riqueza, é preciso lembrar que o mesmo autor afirma que o valor de troca de um bem equivale ao seu valor de uso, à sua real utilidade. Para intuir a necessidade de um produto para alguém, mesmo hoje em dia, não basta um empresário que repita de modo esquemático determinados procedimentos. É preciso um empresário que intua as necessidades de uso de um determinado público e coloque em ação a sua capacidade criativa, de transformação da realidade, o seu desejo de construir, de melhorar a própria condição e a de sua família, do seu território.
Isto, contrariamente a uma certa literatura sócio-econômica, é proporcional à forma como ele vive a sua natureza profunda, feita do desejo de justiça, verdade, beleza – como recordava muito frequentemente Luigi Giussani –, e à forma como tal desejo é educado nas realidades sociais, territoriais, ideais, às quais pertence. Isto não significa negar o papel determinante do proveito, indicador indispensável de toda atividades econômica. Significa mostrar a importância da razão, que está na base da criação de riqueza, sem a qual toda descrição do sistema econômico é uma interpretação do funcionamento daquilo que existe, mas não explica porque se gerou.
Relendo a história de empresas que se tornaram colossos multinacionais, analisando as dificuldades de tantas pequenas e médias empresas de sucesso, se vê como o homem é o recurso da empresa. Se um proveito desvinculado do desejo de trabalhar e construir dominasse a ação, por que, na atual crise, as pequenas e médias empresas italianas, que produzem 70% da fatura e dão trabalho para 80% dos ocupados italianos, deveriam resistir à tentação de vender a empresa, ficar com o dinheiro na família sem reinvesti-lo e viver de renda? Como ensinam os grandes autores da economia empresarial italiana, uma empresa, sobretudo as pequenas e médias, que queira se manter no longo prazo deve ser movida por um conjunto de princípios e ideais ligados à valorização dos seus trabalhadores considerados como pessoas. Do relatório Subsidiariedade e... pequenas e médias empresas (Mondadori Università, 2009) emergiu como os pequenos e médios empreendedores são, na sua grande maioria, movidos, mais do que pela busca de proveito, pelo desejo de criar postos de trabalho e de tornar a empresa, mesmo que a custas pessoais, um lugar onde os trabalhadores estejam bem.
No que diz respeito à concorrência, prevalece sobre a competição darwinista de tipo neoclássico uma tendência ao compartilhamento com os concorrentes da atividade de pesquisas e de desenvolvimento, de internacionalização, de estratégia para melhorar a competitividade. Quem pensa que estas são divagações poéticas, reflita sobre como a sorte inesperada dos distritos italianos nasceu desta estranha concepção de concorrência criativa e colaboradora entre empresas.
Definitivamente, aquilo que importa é o capital humano, quase esquecido na embriaguez pelas teorias financeiras, como instrumento para promover, no mundo da empresa, aquela atenção à pessoa na sua globalidade e, em nível macro-econômico, aquele desenvolvimento que vem de baixo, “subsidiário”, como sublinha a Doutrina Social da Igreja.
Augura-se que se chegue a compreender como a educação a viver profundamente as próprias perguntas humanas, através de critérios ideais, é muito mais determinante e compreensivo do que a simples instrução, do que a ética aplicada à economia ou do que um proveito por si mesmo, para a geração de capacidades empreendedoras, de trabalho e de riqueza dos povos e dos Estados.
* Extraído do jornal Il Sole – 24 ore, do dia 10 de julho de 2009 (p. 18). Traduzido por Paulo R. A. Pacheco.
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