terça-feira, 15 de setembro de 2009

Cartas do P.e Aldo 104

Asunción, 12 de setembro de 2009.

Caros amigos,
nas verdes colinas de São Paulo, primeiro com 70 sacerdotes e 4 bispos, agora com quase 200 do Grupo Adulto, estou, de verdade, repousando depois do Meeting.
Repousando, imergindo na gigantesca humanidade de Carrón. “Nunca escutamos alguém como ele”, diziam os 70 padres presentes e, particularmente, os mais de 20 que, pela primeira vez, o escutavam.
A sua palestra magistral sobre a figura humana do padre foi arrepiante, comoveu a todos. Digo “comoveu” no sentido literal do termo. Que as mulheres chorem não nos surpreende (o dizia bem Péguy). Que os homens se comovam, talvez quando se tornem mais velhos, também não nos surpreende tanto assim. Que padres se comovam acontece às vezes durante um funeral (quando eu era pequeno, não conseguia entender por que o meu pároco não chorava nunca, quer enterrasse uma criança, uma mãe ou um velho... e me perguntava sempre o porquê daquela impassibilidade... só muito mais tarde na vida é que consegui entender: Cristo existe, mas não existe o humano... pobre celibato!), porém que um bispo se comova até as lágrimas pelo dom da fé, não só nunca havia visto, como também nunca poderia ter imaginado algo do gênero.
Ontem, dia 09 de setembro, no encerramento dos Exercícios (Espirituais dos Padres da América Latina; ndt), a Santa Missa foi celebrada por um caro amigo, bispo de CL, na Argentina. Um homem! Cinco meses atrás, ele veio encontrar este asno, seu amigo, e ver as obras de Deus. Fez 3 mil quilômetros – ida e volta – de carro, ficando conosco dois dias de um calor infernal. Nunca havia visto, na minha vida, um bispo – de uma humildade e de uma humanidade raras – que me testemunhasse tanto afeto.
Ontem, durante a homelia, agradecendo a Carrón pela maneira como nos conduzira naqueles dias e pela maneira como nos havia falado da humanidade dos sacerdotes, da misericórdia, da liberdade, comoveu-se até as lágrimas. Deixo a vocês imaginar a surpresa que isso causou nos 70 padres presentes. Um bispo comovido até as lágrimas pela graça da fé e por Carrón nos ter falado do sacerdote naqueles dias, neste ano sacerdotal. Um bispo, sucessor dos apóstolos! Amigos, vocês entendem o que é o humano, o que é a humanidade de um homem – padre ou bispo –, o que significa olhar e seguir a Carrón?
Nem mesmo nos encontros com Giussani acontecia que se visse um bispo chorar de comoção pelo que o Gius nos dizia, nos testemunhava e que, hoje, Carrón, com uma genialidade humana própria e exclusiva de quem é, de fato, o filho predileto e herdeiro de Giussani, nos comunica. Vi o que significa que Giussani está mais vivo hoje do que há 20 anos, quando vinha para esses lados de cá do oceano. A sua presença era fisicamente presente entre nós, no modo com o qual Carrón nos fez vibrar, gozar do nosso ser homens – padres ou bispos. Cada um de nós, voltou para o seu lugar – ou na selva ou nas grandes metrópoles deste continente, ou nos campos perdidos –, alguns sozinhos, outros em dois... mas todos a milhares de quilômetros de distância uns dos outros... porém, com aquilo que nos foi dado de presente nesses dias, com o suficiente para viver intensamente, até o próximo ano, cada circunstância.
Que bonito!
Finalmente, um pequeno detalhe de casa – quer dizer, de amizade, de atenção à pessoa: quem veio buscar Paolino e eu no aeroporto, apesar de todos os empenhos, foram Marcos e Cleuza... e nos trouxeram até aqui onde estamos (num hotel em Atibaia; ndt). Praticamente nos deram toda a sua tarde. Mas, não foi só isso. No dia seguinte, às 5 da manhã, foram buscar Carrón para trazê-lo ao hotel. Quando me levantei, Padre Ignazio, que está em Salvador da Bahia, me disse: “dá um pulo na recepção do hotel... a Cleuza, sabendo que você é diabético, mandou uma cesta de coisas para comer que respeitam a sua dieta”. Vou até lá e encontro o presente. Colocaram até mesmo guardanapos, copos e faca... além de uma diversidade enorme de frutas. Fiquei surpreso, tornando-me ainda mais consciente do que quer dizer uma humanidade mudada por Cristo, atenta a cada detalhe. Mas também me dei mais conta do que é uma fraternidade.
Padre Aldo

Um comentário:

wandré disse...

Lendo as cartas do padre Aldo, de um lado se percebe uma experiência "saltando" da tela do computador em direção ao meu cotidiano médico. É impossível olhar os doentes que chegam sem aquela experiência comunicada. Embora seja apenas um olhar, algo inevitavelmente começa decisivamente a iluminar o dia. Por outro lado, não me é suficiente continuar sem ver esse homem. Encontrá-lo, deve ser "um a mais"...um eterno no tempo.
Obrigado, Paulo, pelas cartas!
Um abraço,
Wandré, BH