S. Francisco de Assis
Evangelho - Lc 10,25-37
Naquele tempo, um mestre da Lei se levantou e, querendo pôr Jesus em dificuldade, perguntou: "Mestre, que devo fazer para receber em herança a vida eterna?". Jesus lhe disse: "O que está escrito na Lei? Como lês?". Ele então respondeu: "Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração e com toda a tua alma, com toda a tua força e com toda a tua inteligência; e ao teu próximo como a ti mesmo!". Jesus lhe disse: "Tu respondeste corretamente. Faze isso e viverás". Ele, porém, querendo justificar-se, disse a Jesus: "E quem é o meu próximo?". Jesus respondeu: "Certo homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos de assaltantes. Estes arrancaram-lhe tudo, espancaram-no, e foram-se embora deixando-o quase morto. Por acaso, um sacerdote estava descendo por aquele caminho. Quando viu o homem, seguiu adiante, pelo outro lado. O mesmo aconteceu com um levita: chegou ao lugar, viu o homem e seguiu adiante, pelo outro lado. Mas um samaritano que estava viajando, chegou perto dele, viu e sentiu compaixão. Aproximou-se dele e fez curativos, derramando óleo e vinho nas feridas. Depois colocou o homem em seu próprio animal e levou-o a uma pensão, onde cuidou dele. No dia seguinte, pegou duas moedas de prata e entregou-as ao dono da pensão, recomendando: 'Toma conta dele! Quando eu voltar, vou pagar o que tiveres gasto a mais'". E Jesus perguntou: "Na tua opinião, qual dos três foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?". Ele respondeu: "Aquele que usou de misericórdia para com ele". Então Jesus lhe disse: "Vai e faze a mesma coisa".
Comentário feito por Orígenes (c. 185-253)
presbítero e teólogo
Está escrito : "Amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus" (1Jo 4, 7); e mais adiante: "Deus é amor" (8). Deste modo se diz, por um lado, que o próprio Deus é amor, e por outro, que aquele que é de Deus é amor. Ora, quem é de Deus senão aquele que diz: "Saí de Deus e vim a este mundo"? (Jo 16, 28). Se Deus Pai é amor, também o Filho é amor [...] ; o Pai e o Filho são um só e em nada diferem. Eis a razão por que Cristo é chamado, para além de Sabedoria, Poder, Justiça, Verbo e Verdade, também Amor. [...] E, porque Deus é amor e o Filho que é de Deus é amor, exige em nós algo semelhante a Ele, de tal maneira que, por este amor, por esta caridade que está em Cristo Jesus [...], sejamos unidos a Ele por uma espécie de parentesco, graças a este nome. Como dizia São Paulo, que estava unido a Ele: "Quem nos separará do amor de Deus, que está em Cristo Jesus Nosso Senhor?" (Rom 8, 39). Ora, este amor de caridade considera que todo o homem é o nosso próximo. Foi por essa razão que o Salvador repreendeu um homem que estava convencido de que a alma justa não estava obrigada a observar para com todos as leis do tratamento ao próximo. [...] E compôs a parábola segundo a qual "certo homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos dos salteadores". Depois censura o sacerdote e o levita que, vendo-o meio morto, passaram adiante, mas presta homenagem ao Samaritano, que teve misericórdia para com ele. E confirma que este último foi o próximo do homem ferido com a resposta daquele mesmo que tinha feito a pergunta, a quem diz: "Vai e faz tu também o mesmo". Com efeito, por natureza, nós somos todos o próximo uns dos outros, mas pelas obras de caridade, aquele que pode fazer bem torna-se próximo daquele que não pode. Foi por isso que o nosso Salvador Se fez nosso próximo, e não passou adiante quando estávamos "meio mortos" em consequência dos ferimentos infligidos pelos "salteadores".
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