segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Massacre de cristãos no Iraque


Missa, no último domingo, pelos mortos no massacre


Por Alessandra Stoppa

Entrevista com Padre Robert Jarjis, amigo dos padres assassinados em Bagdá. Enquanto que, uma semana depois dos ataques da Al-Qaeda, dois outros fiéis foram mortos. “É um holocausto que ninguém quer olhar”.
Padre Thaer Abdal era o seu companheiro de banco no seminário, o seu amigo. Pouco mais de uma semana atrás, foi morto enquanto rezava a missa. Tinha trinta e dois anos. “Estava celebrando a Eucaristia. O seu sangue se misturou com o de Cristo no altar”, disse Padre Robert Jarjis. Depois da ordenação sacerdotal, ele prosseguiu os estudos em Roma, enquanto Thaer permaneceu em Bagdá. Soube da sua morte pelo telefone, antes que as agências de notícia propagassem pelo mundo o massacre da Al-Qaeda na igreja sírio-católica de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Depois, a notícia chegou. Falou-se disso por alguns dias, nas primeiras páginas dos jornais. “Mas, já se havia feito silêncio. Este é um holocausto que ninguém quer olhar”.

Padre Thaer tinha medo de viver e de servir a Igreja em Bagdá?
Nos últimos meses, parecia tranquilo. Chegou a me dizer: “Finalmente, Robert, aqui se pode respirar. Talvez, algo esteja mundando”. Depois, de repente, acontece isso. Um ataque cruel, parece uma nova fase de perseguição.

Por quê?
É o primeiro caso desse gênero, não tem precedentes. As igrejas sempre foram atacadas, mas do lado de fora. Estes homens, pelo contrário, entraram, durante a missa. Mataram as pessoas cara a cara. Mesmo as mulheres e as crianças (nove crianças, entre as quais um de três anos e duas de poucos meses; ndr). Para um homem islâmico é uma desonra inconcebível. Porém, eles não fizeram distinção. Como se estivessem movidos por uma vontade de extermínio. Mesmo quem ficou ferido, nesses dias, está morrendo.

Os dois sacerdotes, Padre Thaer Abdal e Padre Sabih Waseem, foram os primeiros a serem mortos.
Os terroristas fecharam as portas. Thaer fez as pessoa subirem para o altar, para levá-las à sacristia, onde poderiam se refugiar, e as fechou ali dentro. Pediu àqueles homens que deixassem em paz os fiéis e que pegassem apenas ele. Eles o encheram de balas. Padre Waseem estava no confessionário, correu para fora e lhes suplicou a rezarem juntos pela paz no Iraque, cada um a seu modo e cada um a seu Deus, deixando os inocentes fora. Eles o levaram para o altar e o mataram. Tinha vinte e seis anos. Na igreja, estava também o irmão de Thaer, que morreu também. E também estava a sua mãe, que viu e viveu tudo.

E as pessoas que estavam na sacristia?
Alguns se salvaram, outros foram atingidos pelos tiros de metralhadora disparados contra a porta. Uma mãe salvou seu filho de cinco meses fechando-o numa gaveta. Outra mulher, grávida, foi pega por um terrorista que se explodiu junto com ela. Sem piedade, não apenas pelos vivos, mas também por quem devia ainda nascer.

E a intervenção da polícia?
Parece que não houve nenhuma negociação com o comando dos extremistas. E os militares não intervieram, exceto quando muitos já estavam mortos. O governo, agora, está tentando apenas salvar a si mesmo. 

O senhor, daqui a alguns dias, voltará para o Iraque?
Muito provavelmente sim. Vou para onde me quer a Igreja. Para mim, a minha vida não conta, a minha vida é a Igreja e eu quero razer todo o possível pelo meu povo.

Não tem medo?
Sou um ser humano. Talvez, também eu seja morto e eu tenho medo disso. Mas, Cristo sempre estará ao meu lado. E se eu morrer, outros homens continuarão a minha tarefa. Agora, há apenas a dor pelas pessoas que morreram. Naquele domingo, o sangue de Cristo se tornou o sangue deles. E isso ninguém diz. Aquele diz deve ser lembrado para sempre. Em todas as igrejas do Iraque, no domingo passado, celebrou-se uma missa pelas vítimas e as pessoas foram. Graças a Deus, nada aconteceu. Mas, o silêncio do mundo já é contra nós: parece que fomos abandonados ao nosso destino. Porque não se fala mais nada, e se fica esperando o próximo massacre. Que o Senhor tenha piedade de todos nós.

* Extraído de Tracce.it, do dia 9 de novembro de 2010. Traduzido por Paulo R. A. Pacheco.

Nenhum comentário: