segunda-feira, 29 de novembro de 2010

O homem pode ser reconhecido pelas suas esperas

Angelus

Bento XVI

Praça São Pedro
I Domingo do Advento, 28 de novembro de 2010

Caros irmãos e irmãs!
Hoje, primeiro domingo do Advento, a Igreja dá início ao novo Ano Litúrgico, um novo caminho de fé que, de um lado, faz memória do evento de Jesus Cristo e, de outro, abre-se à sua realização final. E exatamente desta dupla perspectiva é que o Tempo do Advento vive, olhando seja para a primeira vinda do Filho de Deus, quando nasceu da Virgem Maria, seja para o Seu retorno glorioso, quando virá “para julgar os vivos e os mortos”, como dizemos no Credo. Sobre este sugestivo tema da “espera” gostaria, agora, de me dedicar brevemente, porque se trata de um aspecto profundamente humano, no qual a fé se torna, por assim dizer, um todo unitário com a nossa carne e o nosso coração.
A espera, o esperar é uma dimensão que atravessa toda a nossa existência pessoal, familiar e social. A espera está presente em mil situações, desde as mais pequenas e banais até às mais importantes, que nos envolvem totalmente e no profundo de nós mesmos. Pensemos, entre estas, na espera de um filho da parte de dois esposos; ou na espera de um parente ou de um amigo que nos vem visitar de longe; pensemos, para um jovem, na espera do bom resultado numa prova decisiva, ou de uma entrevista de trabalho; nas relações afetivas, pensemos na espera do encontro com a pessoa amada, da resposta de uma carta, do acolhimento de um perdão... Poder-se-ia dizer que o homem é vivo na medida em que espera, na medida em que, no seu coração, permanece viva a esperança. E o homem pode ser reconhecido pelas suas esperas: a nossa “estatura” moral e espiritual pode ser medida por aquilo que esperamos, por aquilo no que esperamos.
Cada um de nós, portanto, especialmente neste Tempo que nos prepara para o Natal, pode se perguntar: eu, o que espero? A que, neste momento da minha vida, o meu coração está tendido? E esta mesma pergunta pode ser feito no nível da família, da comunidade, da nação. O que esperamos, juntos? O que une as nossas aspirações, o que as acomuna? No tempo que precedeu o nascimento de Jesus, era fortíssima, em Israel, a espera pelo Messias, ou seja, de um Consagrado, descendente do Rei Davi, que deveria, finalmente, libertar o povo de toda escravidão moral e política e instaurar o Reino de Deus. Mas, ninguém nunca teria imaginado que o Messias pudesse nascer de uma jovem humilde como Maria, prometida em casamento ao justo José. Nem mesmo ela nunca teria pensado nisso, e no entanto, no seu coração a espera pelo Salvador era tão grande, a sua fé e a sua esperança eram tão ardentes, que Ele pôde encontrar nEla uma mãe digna. De resto, Deus mesmo a tinha preparado, antes do início dos tempos. Há uma misteriosa correspondência entra a espera de Deus e a de Maria, a criatura “cheia de graça”, totalmente transparente ao desígnio de amor do Altíssimo. Aprendamos dEla, Senhora do Advento, a viver os gestos cotidianos com um espírito novo, com o sentimento de uma espera profunda, que somente a vinda de Deus pode realizar.

* Extraído do site do Vaticano, do dia 28 de novembro de 2010. Traduzido por Paulo R. A. Pacheco.

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