quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Nenhum professor é o produto artificial de um sistema perfeito



Em meio às atuais transformações que a escola está vivendo, a figura do professor passou a ficar submetida a solicitações as mais diversas, que dizem respeito a tarefas e funções. Hoje, mais do que antes, ao docente se pede um empenho que investe diretamente a sua pessoa, a sua estrutura humana e não apenas a sua preparação. Sabe muito bem disso que se encontra ensinando em situações de risco social, em escolas onde, por exemplo, a taxa de alunos estrangeiros é alta. Sabe muito bem disso quem, em meio às articulações entre os níveis de instrução, propõe e compartilha com os alunos a dificuldade de se orientar e aprender com método e interesse.
Quais são os recursos dos quais o docente e a escola podem dispor para responder às questões e aos problemas que encontram?
Em primeiro lugar, a humanidade mesma do docente com a riqueza do seu desejo de viver, conhecer, criar e servir ao bem comum. Segundo pensamos, não se pode separar as funções e as competências do docente da sua pessoa, ou seja, da posição que ele mantém diante da realidade no seu complexo. Por estas razões, sempre afirmamos que somente o adulto, que se deixa educar, pode, por sua vez, propor a outros um itinerário de conhecimento da realidade. Quem ensina é, antes de mais, uma pessoa que se deixa educar. É um profissional que, empenhado em primeira pessoa, acompanha os mais jovens num caminho de introdução à realidade através do ensino-aprendizagem da disciplina de estudo.
É este pressuposto que torna o professor capaz de abraçar todos os problemas que se apresentam na escola: do relacionamento com os alunos ao uso das cotas de autonomia e de flexibilidade consentidas pelos regulamentos, da elaboração didática à colaboração com as famílias, da escolha e uso do manual à prática cotidiana da avaliação. É este pressuposto que torna a escola um ambiente que se reconstrói e se oferece em função do caminho de conhecimento de cada aluno, através da arte de educar instruindo.
Infelizmente, a escola italiana ressente ainda hoje as distorções que caracterizaram a sua origem: a marca centralizadora, a censura manifesta a uma real liberdade de educação, a falta de consideração da função pública e do trabalho dos docentes; a falta de investimentos econômicos que, hoje em dia, são sempre mais absorvidos pelos salários, por sua vez, cada vez mais baixos; o substituto que se tornou histórico e frequentemente parece ser defendido em nome de sua eterna permanência
É verdade que nem tudo é negativo quando se olha para o panorama da política e da gestão escolar: o retorno da ideia de professor único na escola primária; a delineação de percursos mais essenciais reconhecíveis, inclusive uma reforma do ensino fundamental; a tentativa de atribuir à instrução e à formação profissional uma dignidade particular; a autonomia, ainda que incompleta; a otimização dos recursos; a previsão de percursos de graduação e de habilitação novos, com uma presença significativa da formação na escola.
Todavia, parece que, algumas vezes, falte um plano geral, uma centelha de idealismo, um sujeito capaz de assumir novas responsabilidades. Max Bruschi, na sua conferência de abertura da Convenção de Pesaro, falava, de forma muito significativa, de um quebra-cabeça em “preto e branco” que constitui o mundo da escola.
Quem e como se montará esse quebra-cabeça? O sujeito, de que precisa a escola, não pode ser produzido artificialmente como reflexo de certas escolhas políticas, ou burocráticas e administrativas, nem mesmo de certas orientações formativas. De estratégias de reforma e de adestramento não nascem docentes capazes de entrar com decisão e energia na escola, prontos para assumirem uma responsabilidade diante de tudo o que acontece: as matérias a serem ensinadas, os colegas, a reforma, a dispersão escolar, a emergência educativa... É preciso algo mais.
São necessários lugares humanos que se pensem, se estruturem e proponham como companhia em ação para a pessoa e para a escola. Para a pessoa, porque, colocando-se como um corpo intermediários entre escola e sociedade, fazem circular experiências, juízos e instrumentos. Para a escola, porque exprimem uma subjetividade, um âmbito de cultural profissional e de contínua comparação, graças ao qual é possível responder ao pedido de educação e de instrução dos jovens.
As associações profissionais de professores podem e devem assumir esta tarefa. Sem a contribuição de agregações reais e operativas é difícil, hoje em dia, pensar nas mudanças necessárias para a escola, por exemplo: na qualificação dos professores em serviço, na formação dos novos professores, na adequação das reformas à especificidade das realidades escolares.
O número 25 dos Quaderni di Libertà di Educazione (os Cadernos Liberdade de Educação são publicações trimestrais da Associação DIESSE, que podem ser consultadas aqui; o acesso, porém, é apenas ao “editorial” da revista; para acesso ao texto integral, é preciso adquirir uma assinatura aqui; ndt) documenta como isto já está acontecendo. E faz isso contando sobre a Convenção de Pesaro 2010, organizada pela DIESSE, e ao mesmo tempo apresentando contribuições e experiências sobre a “arte de fazer escola” de docentes profissionais.

[1] A DIESSE (Didattica e innovazione scolastica - Centro per la formazione e l'aggiornamento — Didática e inovação escolar - Centro para a formação e a atualização; ndt) é uma associação profissional de docentes, que desenvolve atividades de formação de professores em toda a Itália, desde 1987.

* Extraído do IlSussidiario.net, do dia 11 de fevereiro de 2011. Traduzido por Paulo R. A. Pacheco.

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