segunda-feira, 28 de março de 2011

A onipotência do Amor respeita sempre a liberdade do homem...

Bento XVI

Angelus

Praça São Pedro
Domingo, 27 de março de 2011.

Caros irmãos e irmãs!
Este 3º Domingo da Quaresma é caracterizado pelo célebre diálogo de Jesus com a mulher Samaritana, contado pelo evangelista João. A mulher ia todos os dias buscar água num antigo poço, que remontava ao patriarca Jacó e, naquele dia, encontrou Jesus ali, sentado, “cansado da viagem” (Jo 4, 6). Santo Agostinho comenta: “Não é por nada que Jesus se cansa... A força de Cristo te criou, a fraqueza de Cristo te recriou... Com a sua força nos criou, com a sua fraqueza veio nos buscar” (In Ioh. Ev., 15, 2). O cansaço de Jesus, sinal da sua verdadeira humanidade, pode ser visto como um prelúdio da paixão, com a qual Ele levou à realização a obra da nossa redenção. Particularmente, no encontro com a Samaritana, no poço, emerge o tema da “sede” de Cristo, que culmina no grito sobre a cruz: “Tenho sede” (Jo 19, 28). Certamente, esta sede, como o cansaço, tem uma base física. Mas Jesus, como ainda uma vez nos diz Agostinho, “tinha sede da fé daquela mulher” (In Ioh. Ev. 15, 11), assim como tem da fé de todos nós. Deus Pai o mandou para saciar a nossa sede de vida eterna, dando-nos o seu amor, mas para conceder-nos este dom Jesus pede a nossa fé. A onipotência do Amor respeita sempre a liberdade do homem; bate à porta do seu coração e espera com paciência a sua resposta. 
No encontro com a Samaritana vem à tona, em primeiro lugar, o símbolo da água, que alude claramente ao sacramento do Batismo, fonte de vida nova pela fé na Graça de Deus. Este Evangelho, de fato – como lembrei na Catequese da Quarta-Feira de Cinzas – faz parte do antigo itinerário de preparação dos catecúmenos para a iniciação cristão, que acontecia na grande Vigília da noite de Páscoa. “Quem beber da água que eu lhe darei – disse Jesus – nunca mais terá sede” (Jo 4, 14). Esta água representa o Espírito Santo, o “dom” por excelência que Jesus veio trazer da parte de Deus Pai. Quem renasce da água e do Espírito Santo, isto é no Batismo, entra numa relação real com Deus, uma relação filial, e pode adorá-Lo “em espírito e verdade” (Jo 4, 23.24), como revela ainda Jesus à mulher Samaritana. Graças ao encontro com Jesus Cristo e ao dom do Espírito Santo, a fé do homem atinge sua realização, como resposta à plenitude da revelação de Deus.
Cada um de nós pode se identificar com a mulher Samaritana: Jesus nos espera, especialmente neste tempo de Quaresma, para falar ao nosso, ao meu coração. Fiquemos um momento em silêncio, no nosso quarto, ou numa igreja, ou num lugar à parte. Escutemos a sua voz que nos diz: “Se tu conhecesses o dom de Deus...”. A Virgem Maria nos ajude a não faltar a este encontro, do qual depende a nossa verdadeira felicidade.

Apelo
Caros irmãos e irmãs,
Diante das notícias, sempre mais dramáticas, que vêm da Líbia, cresce o meu tremor pela proteção e segurança da população civil, e minha apreensão pela evolução da situação, atualmente marcada pelo uso de armas. Nos momentos de maior tensão é ainda mais urgente a exigência de recorrer a todo meio de que dispõe a ação diplomática e de sustentar mesmo os mais frágeis sinais de abertura e de vontade de reconciliação entre todas as partes envolvidas, na busca de solução pacíficas e duradouras.
Nesta perspectiva, enquanto elevo ao Senhor a minha oração por um retorno à concórdia na Líbia e em toda a região do Norte da África, faço um apelo aos organismos internacionais e a todos os que têm alguma responsabilidade política e militar pelo imediato início de um diálogo, que suspenda o uso de armas.
O meu pensamento se dirige, finalmente, às Autoridades e aos cidadãos do Oriente Médio, onde, nos dias passados, verificaram-se diversos episódios de violência, para que também lá se privilegia a via do diálogo e da reconciliação na busca de uma convivência justa e fraterna.

* Extraído do site do Vaticano. Traduzido por Paulo R. A. Pacheco.

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